ESPMEXENGBRAIND
8 ago 2025
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O Fórum do Agro mostra que o leite é ativo geopolítico e industrial estratégico, e que o Brasil precisa se posicionar no cenário global com urgência.
“O leite deixou de ser apenas um alimento. Hoje ele é um ativo geopolítico, uma resposta à demanda global por proteína e um motor de desenvolvimento regional”, afirmou Ratinho.
“O leite deixou de ser apenas um alimento. Hoje ele é um ativo geopolítico, uma resposta à demanda global por proteína e um motor de desenvolvimento regional”, afirmou Ratinho.

O leite foi o protagonista de um debate de alto nível sobre política, mercado e geopolítica global durante o Fórum do Agro, realizado nesta quinta-feira (7/8), dentro da Agroleite 2025, em Castro (PR).

O evento, organizado pelo Canal Rural e o Grupo Calpar, com apoio da Castrolanda e do Sistema Ocepar, reuniu lideranças do agronegócio, do cooperativismo e da política nacional em torno de um tema central: como transformar a força produtiva do agro brasileiro em poder de negociação e valor agregado no cenário internacional.

A escolha de Castro como palco do debate não foi aleatória. O município é o maior produtor de leite do Brasil, com uma média diária de 1,5 milhão de litros, segundo dados apresentados pelo governador do Paraná, Ratinho Junior.

Ele destacou que a qualidade do leite paranaense já rivaliza com países como Noruega, Dinamarca e Argentina, graças ao uso intensivo de tecnologia e genética.

“O leite deixou de ser apenas um alimento. Hoje ele é um ativo geopolítico, uma resposta à demanda global por proteína e um motor de desenvolvimento regional”, afirmou Ratinho.

O governador ressaltou o avanço da indústria paranaense, que hoje transforma até o soro de leite — antes usado para alimentar suínos — em whey protein, produto de alto valor agregado e alta demanda no mercado internacional.

Cooperativismo: pilar de competitividade

O presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, reforçou a importância do cooperativismo como elo que une produção, industrialização e mercado. Segundo ele, 85% dos produtores rurais do Paraná têm menos de 100 hectares, o que torna o modelo cooperativo essencial para garantir competitividade e sustentabilidade.

“Se não fossem as cooperativas, muitos desses produtores já teriam abandonado a atividade. Mas juntos, eles produzem 66% da safra de grãos e 45% da proteína animal do estado”, explicou Ricken.

Ele também destacou que as cooperativas paranaenses já contam com 157 agroindústrias, que processam 50% de tudo o que produzem. “Nosso desafio é transformar a outra metade. A era de vender matéria-prima acabou”, afirmou.

Essa visão é compartilhada pelo presidente da Castrolanda, Willem Bouwman, que reforçou a necessidade de comunicação estratégica com o mercado externo. “O Brasil precisa mostrar que faz o dever de casa. Precisamos contar ao mundo como produzimos e como preservamos o meio ambiente”, disse.

Ele defendeu que essa narrativa seja construída com transparência e orgulho, para rebater discursos distorcidos sobre o agro brasileiro.

Tarifaço e geopolítica: impacto direto no leite

O Fórum também abordou o impacto das tensões comerciais globais, como o recente tarifaço dos Estados Unidos contra produtos brasileiros.

Embora o leite brasileiro não tenha como destino direto os EUA, Ricken alertou para os efeitos indiretos: “Somos concorrentes em soja, milho e carne.

A instabilidade inibe o investimento de produtores e indústrias, gerando retração econômica.”

Para ele, essa não é uma questão bilateral entre governos, mas sim um tema que deve ser tratado no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), para evitar práticas protecionistas que distorcem o mercado global.

Infraestrutura e segurança alimentar

O diretor da Abramilho e do Grupo Calpar, Paulo Bertolini, trouxe uma visão estratégica: “A iniciativa privada na Europa e nos Estados Unidos entende o papel do Brasil na segurança alimentar global e quer investir aqui.”

Segundo ele, o país precisa melhorar sua infraestrutura e logística para se tornar competitivo em nível global.

O painel final, intitulado “Produção, Agroindústria e Mercado”, contou com a presença de especialistas como a pesquisadora da Embrapa Tropical, Lucíola Magalhães, o consultor em políticas públicas, José Carlos Vaz, além dos deputados federais Pedro Lupion e Sérgio Souza, e de Bernard Kiep, da Aliança Internacional do Milho.

Leite como ativo estratégico

A mensagem que ficou do Fórum é clara: o leite brasileiro tem volume, qualidade e potencial industrial. Mas falta integração entre política pública, cooperação internacional, industrialização e infraestrutura logística.

Se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe no mercado global de proteínas, o leite precisa ser tratado não como commodity, mas como um ativo geopolítico estratégico, capaz de atrair investimentos, gerar valor e garantir soberania alimentar.

A Agroleite 2025 mostrou que o Paraná já entendeu isso. Resta saber quando o restante do país — e suas políticas — irão acompanhar.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Paraná Cooperativo

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