Leite em queda no Brasil: a combinação de produção elevada e consumo enfraquecido vem pressionando as cotações no campo e em toda a cadeia láctea nacional.
É o que mostra levantamento divulgado em 23 de setembro pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.

De acordo com o estudo, o preço do leite captado em julho fechou em R$ 2,6236 por litro na chamada “Média Brasil”.
O resultado representou uma queda de 1,16% em relação a junho de 2025 e de 8,42% frente a julho de 2024, já em termos reais, com deflacionamento pelo IPCA de julho. Para o Cepea, o movimento reflete um cenário de aumento da produção aliado à dificuldade da demanda em absorver a oferta disponível.
Pressão também nos derivados
Os efeitos do recuo do leite cru repercutiram em outros segmentos do setor. Em agosto, a baixa demanda por derivados lácteos, associada ao consequente crescimento dos estoques, pressionou as cotações de produtos importantes para a indústria, como o queijo muçarela e o leite em pó.
Já o leite UHT apresentou estabilidade nos preços durante o mesmo período. O Cepea atribui esse desempenho a uma demanda relativamente mais aquecida por parte do consumidor final, o que impediu quedas mais acentuadas nesse mercado específico.
Comércio exterior: retração no mês, avanço no ano
Outro ponto destacado pelo Cepea envolve a balança comercial do setor. Segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), analisados pelo centro de estudos, as importações brasileiras de lácteos caíram 6,73% de julho para agosto, totalizando 165,11 milhões de litros em equivalente leite.

As exportações também recuaram, mas em menor intensidade: -4,33%, somando 5,34 milhões de litros no período. Esse movimento levou a uma redução de 6,8% no déficit da balança comercial, que atingiu 159,77 milhões de litros em equivalente leite.
Em valores financeiros, o desequilíbrio apresentou retração de 5,9%, chegando a US$ 71,83 milhões.
Apesar da queda mensal, a comparação anual mostra dinâmicas distintas. Em relação a agosto de 2024, as importações diminuíram 12,11%, enquanto as exportações avançaram 25,89%, sinalizando um desempenho mais positivo no longo prazo para a presença brasileira no mercado internacional.
Custos de produção em alívio
No campo, os produtores de leite tiveram algum alívio nos custos em agosto. O levantamento do Cepea indica que o Custo Operacional Efetivo (COE) caiu 0,38% na “Média Brasil”.
No entanto, o comportamento foi desigual entre as regiões monitoradas: houve elevação em estados como São Paulo e Paraná, enquanto Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Bahia registraram retrações.

No componente da nutrição animal, que representa uma parte relevante do gasto do produtor, as rações caíram 1,02% em agosto, também na “Média Brasil”. Essa redução nos custos ajuda a compensar, ainda que parcialmente, a pressão exercida pela queda nas cotações do leite.
Desafios e perspectivas
Os dados revelam um quadro de desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado interno, situação que tende a manter os preços sob pressão no curto prazo. Para a indústria, o desafio se concentra na gestão dos estoques e na busca por alternativas de escoamento da produção, seja por meio de exportações ou de estratégias de estímulo ao consumo doméstico.
Para os produtores, o cenário é duplo: embora os custos tenham apresentado leve retração, a queda nas receitas compromete a margem de rentabilidade. Essa realidade pode afetar a sustentabilidade de muitos sistemas produtivos, especialmente os de menor escala.
O levantamento do Cepea, aliado às estatísticas da Secex, reforça a importância de monitorar os movimentos de oferta, demanda e comércio exterior como determinantes-chave para o futuro do setor lácteo no Brasil.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Notícias Agrícolas