A indústria de laticínios do Rio Grande do Norte defende que o Programa do Leite seja transformado em lei estadual, para assegurar continuidade, segurança jurídica e previsibilidade aos produtores.
Atualmente, o programa é regido por decreto, o que permite alterações a qualquer momento, sem aprovação da Assembleia Legislativa.
O tema foi abordado por Túlio Veras, presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Leite do RN (Sindleite-RN), em entrevista ao podcast “Fala, Indústria!”, da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern).
Segundo Veras, o programa, que beneficia mais de 75 mil famílias em 167 municípios potiguares, avançou nos últimos anos com a criação de um aplicativo de monitoramento de estoques, garantindo mais transparência na distribuição e controle dos recursos públicos.
“As gestões vêm e vão, e o programa continua. Nós precisamos mesmo de uma lei para garantir. Porque uma empresa investe, o produtor produz lá no interior, e a única garantia hoje é um decreto. Isso não basta”, afirmou Veras.
Atualmente, 11 indústrias locais abastecem o Programa do Leite, adquirindo o produto exclusivamente de produtores potiguares. Segundo o dirigente, isso fortalece a economia regional e mantém viva a produção nas pequenas propriedades rurais.
🌾 “O leite potiguar é padrão, mas precisa evoluir”
Veras reconhece que o leite potiguar tem qualidade padrão, mas enfrenta desafios de competitividade frente aos estados do Sul e Sudeste. O principal motivo é a menor produtividade média e os custos logísticos maiores, devido à distância dos centros consumidores.
“Nós temos um leite padrão. Mas, quando falamos de rendimento, transporte e quantidade de propriedades, perdemos competitividade”, destacou.
Ele ressaltou que o setor precisa acelerar a modernização tecnológica, incorporando práticas de melhoramento genético e produção de leite com maior teor de sólidos e proteínas — tendência já consolidada em outras regiões do país.
“A luta é chegar a um mercado mais profissional e tecnológico. Se não modernizarmos, corremos o risco de estagnar ou regredir”, alertou o presidente do Sindleite-RN.
🧬 Projeto Leite Genético e parceria com pequenos produtores
Para elevar a produtividade, o Sindleite aposta no programa Leite Genético, desenvolvido em parceria com o Sebrae-RN e outras entidades. A iniciativa foca em pequenos produtores, com até 15 animais, e já contratou 500 inseminações artificiais para aprimorar o rebanho.
“Na pecuária de leite, a gente precisa ser um excelente agricultor para ser um bom pecuarista”, resumiu Veras, destacando que a parceria entre indústria e produtor é essencial para resultados sustentáveis.
Ele defende ainda a criação de um Conselho do Leite Potiguar, com representantes da indústria, produtores, universidades e da Federação da Agricultura, para definir preços com base em critérios técnicos e garantir equilíbrio na cadeia.
🚨 Clandestinidade e riscos sanitários
Um dos alertas mais contundentes da entrevista foi o avanço da produção clandestina de leite. De acordo com Veras, apenas 22% do leite produzido no estado passa por indústrias inspecionadas.
“Quem mais prejudica a bacia leiteira do Rio Grande do Norte hoje é o clandestino”, afirmou.
Ele lembrou que o leite é um alimento altamente perecível, que exige rigoroso controle de temperatura e higiene. “Leite é bactéria viva. No calor, acima de 26°C, a qualidade cai rapidamente. Com sistemas modernos, o leite chega a 4°C em menos de um minuto, preservando suas propriedades”, explicou.
Veras destacou ainda que o descuido sanitário pode gerar doenças transmitidas de animais para humanos, e pediu mais fiscalização e conscientização do consumidor.
“Temos a responsabilidade de garantir longevidade e segurança alimentar. O mercado e o consumidor precisam estar atentos a isso”, alertou.
🧩 Estrutura e relevância social do setor lácteo potiguar
O Rio Grande do Norte conta atualmente com 30 indústrias de beneficiamento de leite, sendo 18 filiadas ao Sindleite-RN. Considerando as registradas no Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária (Idiarn), o número chega a 58 unidades.
Segundo o sindicato, entre 550 e 600 mil litros de leite são processados diariamente em unidades regulamentadas. A cadeia gera um emprego direto a cada 50 litros produzidos, o que reforça sua importância econômica e social, especialmente no semiárido nordestino.
“Em muitas regiões, a única atividade que funciona no campo é o leite”, concluiu Veras.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Agora RN