2021 ficará marcado como um ano de preços altos do leite no campo, mas de rentabilidade baixa para o produtor.
Fonte: Marketplace.org

Em queda desde outubro, o preço do leite captado em novembro e pago aos produtores em dezembro fechou a R$ 2,1210/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, recuos de 3% frente ao mês anterior e de 8,7% em relação ao mesmo período do ano passado, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de novembro/21).

De janeiro a dezembro de 2021, a média do preço ao produtor é de R$ 2,2481/litro, 15,5% acima da verificada em 2020, em termos reais. Já quando considerado o acumulado do ano (de dezembro/20 a dezembro/21), observa-se queda real de 8,7% no valor ao produtor, evidenciando o forte movimento de baixa neste último trimestre de 2021, devido ao enfraquecimento da demanda por lácteos.

Assim, 2021 ficará marcado como um ano de preços altos do leite no campo, mas de rentabilidade baixa para o produtor. Ao mesmo tempo, também será lembrado pela dificuldade de laticínios em repassar a valorização da matéria-prima (leite cru) aos derivados, já que a perda do poder de compra do consumidor brasileiro freou a demanda por lácteos.

Do lado da oferta, o clima adverso e os altos custos dos insumos limitaram a produção de leite durante todo o ano. A pesquisa do Cepea mostra que, de janeiro até novembro, o COE (Custo Operacional Efetivo) acumulou alta de 17,68% na “Média Brasil”, puxado pelo aumento nos preços de importantes insumos, como concentrado, adubos e corretivos, suplementos minerais e combustíveis. Ressalta-se que a desvalorização do Real frente a moedas estrangeiras em 2021 acentuou o movimento de avanço dos custos de produção, tendo em vista que, além de estimular a exportação de grãos, também tornou mais cara a compra de insumos que dependem de matéria-prima importada.

Para se ter ideia de como a elevação dos custos de produção corroeu a margem do produtor de leite em 2021, basta comparar a relação de troca do leite frente ao milho, insumo essencial à alimentação animal. Na média de janeiro a novembro de 2021, foram precisos 42,6 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho, contra 33,9 litros em 2020, ou seja, queda de 25,7% no poder de compra do pecuarista leiteiro.

Mesmo com o retorno das chuvas da primavera, que tipicamente favorecem a disponibilidade de pastagem, a produção de leite seguiu limitada, justamente pelo aumento dos custos de produção e por consequentes desinvestimentos na atividade. Segundo levantamento do Cepea, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) registou variação positiva de 2,6% de outubro para novembro, mas, mesmo assim, observa-se queda acumulada de 7% de janeiro a novembro.

Vale lembrar que, até o terceiro trimestre, a oferta muito restrita elevou a competição das indústrias pela compra da matéria-prima e sustentou as cotações do leite cru em elevados patamares. Porém, no último trimestre de 2021, a demanda enfraquecida e a pressão dos canais de distribuição elevaram os estoques de derivados, resultando em queda nos preços dos lácteos e do leite no campo.

A crescente perda no poder de compra do consumidor limitou o repasse da valorização do leite no campo ao preço dos derivados negociados pelas indústrias junto aos canais de distribuição. Comparando as médias de janeiro a dezembro de 2021 (considerando-se dados parciais até 23/12) com os registrados no mesmo período de 2020, observa-se que a indústria recebeu pelo UHT e muçarela valores apenas 0,7% e 0,5% maiores, respectivamente. No caso do leite em pó (400g), a valorização foi de 7,1% na mesma comparação, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de novembro/21). Com matéria-prima mais cara e demanda por lácteos enfraquecida, 2021 fica marcado como um ano de competição acirrada e margens espremidas para a indústria de laticínios.

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