Sindicato não teme desabastecimento, mas cita impactos nos empregos
O litro do leite passou de R$5 e a procura do produto caiu, diz proprietário de supermercado Foto Foto: Fred Magno

Ingrediente quase indispensável na mesa dos brasileiros, o leite é um dos produtos do setor de alimentos que está pesando o orçamento das famílias. O litro já chega a custar R$ 5,49 em supermercados de Belo Horizonte e região metropolitana. Pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, aponta que o valor médio vendido por produtores subiu 15% em Minas entre março de 2021 até o final do primeiro trimestre deste ano, quando chegou a R$ 2,24.

O encarecimento ocorre na entressafra – já que o período leiteiro é no segundo semestre – em que a disponibilidade do produto está em baixa. No entanto, produtores rurais também queixam-se de alta nos custos produtivos. Levantamento feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra que o gasto médio para a produção no Estado é R$ 1,88 por litro. O valor representa 81% do preço do leite cru em Minas, segundo a CNA, cotado em R$ 1,53.

De acordo com o presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Jônadan Min Ma, a alta nos custos do insumo está relacionada à queda de consumo no mercado interno e à valorização de commodities no mercado internacional, principalmente após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia. Ele citou o milho, base para alimentação das vacas, e o petróleo, que incidiu sobre os custos de transporte.

Há ainda, segundo Jônadan, impacto sobre produtos utilizados para a ordenha que são importados e foram inflacionados. “Desde junho de 2021, o produtor começou a trabalhar no vermelho, no prejuízo. Nosso custo aumentou, o produtor que recebia em torno de R$ 2,30 da indústria pelo leite está recebendo R$ 1,70, R$ 1,80”, detalha.

Para ele, o problema no preço atual está nas margens de lucro aplicadas por grandes marcas que embalam a bebida e nos supermercados. “O varejo está ficando com uma grande gordura dessa margem”, frisa. Como reflexo dos problemas na produção, Jônadan afirma que os produtores estão se desfazendo dos rebanhos, e há uma queda estimada de 10% na produção leiteira no Brasil. “Faltou leite neste mês de abril, mas a indústria precisava de leite e, não tendo o produto, houve briga pelo pouco que sobrou. E se tem mais demanda do que oferta, o valor aumenta”, explica.

Um produtor de Entre Rios de Minas, que pediu para não ser identificado, afirmou que a média de venda do litro de leite está cotada em R$ 2,34.

Desse total, o lucro é de apenas R$ 0,30 a cada mil mililitros comercializados. O presidente do sindicato da Indústria de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), Guilherme Abrantes, confirma a alta nos custos ao produtor. Ele observa, entretanto, que os laticínios também contabilizam inflação sobre insumos básicos como papelão e plástico, utilizados no embalo do produto, e nos combustíveis.

Outro problema, explicou Abrantes, foi a estiagem no segundo semestre de 2021, que representou queda de produção. “É um problema que impacta diretamente o consumidor, porque, no final da conta, é ele quem está pagando por esse aumento que toda a cadeia sofre”, analisa o sindicalista.

O presidente do Silemg não teme desabastecimento do produto, mas diz que a situação afeta os empregos em laticínios. “Se você tem diminuição da entrada de matéria-prima, no volume de leite, vai impactar diretamente a mão de obra”, ressalta.

Alta do preço nas gôndolas faz as vendas caírem, diz varejista

Com o aumento no preço nas gôndolas, o empresário Leonardo Flores, um dos proprietários do supermercado ViaBahia, localizado no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de BH, contabilizou uma queda de quase 2% nas vendas de leite desde o ano passado. Ele estima que a redução, em volume, chega a 1.400 L. Por outro lado, o produto subiu 12%.

Em 2021, o valor médio era R$ 3,61, e esse ano está em R$ 4,12. “Não consigo aplicar a margem que deveria para não espantar o povo. O leite de algumas marcas já chega aqui a R$ 4,69, e estou vendendo a R$ 4,99”, diz.

Pesquisa é a maior aliada para comprador

A perspectiva no curto prazo para o alívio da inflação sobre o leite não é boa, de acordo com gerente de Qualidade e Integração da Cooperativa Central dos Produtores Rurais, Cássio Camargos.

“Principalmente olhando para os custos de produção e o preço de commodities, é desafiador. Não é um cenário que conseguimos resolver apenas com os recursos que temos no Brasil”, diz Camargos.

Na avaliação dele, o corte no consumo não é indicado. “Muitos deixam o leite e derivados para trás por estar caro e resolvem trocar por produtos com preços mais baixos, mas que não fazem tão bem para a saúde”, acrescenta.

O economista Feliciano Abreu, que administra o site Mercado Mineiro, aponta que a pesquisa é a maior aliada do consumidor. Estudo recente divulgado pela organização mostrou que, em padarias, a variação de preço do leito pode chegar a 51%.

“Tem que ficar de olho o tempo todo. Desde o início da pandemia o leite subiu de preço e não caiu mais. O consumidor deve pesquisar e observar os estabelecimentos que estão com o produto mais barato”, aconselha o economista Feliciano Abreu

Consumidores brasileiros têm se surpreendido com a alteração do nome do queijo nas embalagens. Essa mudança foi definida em um acordo entre União Europeia e Mercosul.

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