Líder mundial de laticínios, o grupo francês Lactalis aposta no Brasil, buscando conquistar os consumidores deste imenso mercado, assinalando os grandes desafios sobre a produção local, a começar pela baixa produtividade.
Entre a gigante francesa de laticínios e o Brasil, imenso mercado e potência agrícola de envergadura mundial, a aproximação parece lógica. “Ainda temos um potencial muito importante de desenvolvimento”, disse à AFP Thierry Clément, diretor-geral de operações do Lactalis.
Embora se destaque sobretudo por sua produção de carne, soja e milho, o Brasil também tem uma tradição leiteira, tendo como seus principais produtos os queijos e os doces de leite.
Este é o caso, particularmente, em Minas Gerais, que domina a produção nacional de laticínios.
Em Pará de Minas, perto da capital mineira, Belo Horizonte, trabalhadores operam máquinas de envase que funcionam a pleno vapor em uma das cinco fábricas da Itambé.
Em 2019, a compra desta cooperativa local pela intermediária de sua filial, a Lactalis do Brasil, permitiu ao grupo francês chegar ao topo do mercado de laticínios no país, com um volume de negócios de 2,5 bilhões de euros em 2023 (cerca de R$ 13 bilhões, na cotação da época). Desde então, o grupo conta ali com 22 instalações e 12.000 funcionários.
Iogurtes, ‘petits suisses’, caixas de leite fermentado, requeijão: 150 produtos saem atualmente da fábrica, que coleta 30 milhões de leite por mês.
Implantado desde 2013 no Brasil, o grupo Lactalis também se posicionou na produção de leite em pó, leite condensado e doce de leite, “categorias em que a Itambé era forte, mas nas quais o Lactalis ainda estava ausente”, explica o diretor-geral da Itambé, Paul Grasset, por ocasião de uma visita à imprensa no começo da semana sobre as atividades brasileiras do grupo francês e seus resultados anuais.
Os 100 milhões de euros (cerca de R$ 560 milhões, na cotação atual) injetados pelo grupo para aumentar a capacidade de produção da Itambé e desenvolver novos produtos, como bebidas proteicas e queijo embalado a vácuo, fizeram disparar os números de negócios da marca brasileira, que dobraram desde a aquisição, chegando o 900 milhões de euros em 2023 (R$ 4,8 bilhões, na cotação da época).
– Clientes brasileiros a conquistar –
No entanto, ainda há trabalho a fazer. O grupo Lactalis detém atualmente apenas 13% do mercado brasileiro.
“Nosso objetivo é alcançar os 20% até 2028 e melhorar nossa rentabilidade através do desenvolvimento de produtos com valor agregado”, ainda muito escassos nos carrinhos de compra, afirma Patrick Sauvageot, diretor-geral da Lactalis no Brasil.
A compra, assinada em dezembro passado, da Dairy Partners America Brasil (DPA), sociedade do grupo alimentício suíço Nestlé e da cooperativa neozelandesa Fonterra, e principal produtora de iogurtes no Brasil, se inseriu nesta lógica.
Se o Brasil, com quase 200 milhões de habitantes, representa um mercado com forte potencial para o Lactalis, o grupo francês, que registrou no ano passado um volume de negócios a nível mundial de 29,5 bilhões de euros (R$ 158 bilhões, +4,3 % em relação a 2022), enfrenta grandes desafios no país.
Entre eles, a fragmentação do setor, o nível técnico insuficiente dos criadores, os custos de produção elevados e a baixa qualidade do leite, que impactam os preços dos produtos lácteos.
Quarto produtor mundial de leite após ter perdido, há dois anos, o terceiro lugar no pódio ocupado por Estados Unidos, Índia e China, o Brasil, por outro lado, importou 9% do leite consumido no país no ano passado, contra 3% a 5% em tempos normais.
“Isto se explica pelos preços bem mais baixos no Uruguai e na Argentina, os principais exportadores para o Brasil”, onde a atividade leiteira é mais concentrada e mais produtiva, explica Glauco Carvalho, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Na vizinha Argentina, a produtividade por fazenda é de 3.000 litros diários de leite, contra 100 litros no Brasil.
O grupo Lactalis diz investir junto a seus fornecedores para aumentar sua produção. Para Sauvageot, “o Lactalis tem total interesse em que o Brasil seja o mais competitivo possível”.
No entanto, o grupo não prevê exportar os produtos brasileiros para a Europa.