A China, maior importadora de lácteos do mundo, está passando por um momento decisivo em sua política de produção e consumo de leite, impactando diretamente o mercado global de lácteos. O aumento significativo na produção interna do país asiático está remodelando o cenário mundial, gerando tanto efeitos positivos quanto desafios, especialmente para países exportadores que antes tinham na China um mercado robusto para seus produtos lácteos.
Nos últimos anos, a China tem registrado avanços expressivos em sua produção doméstica de leite, em linha com metas estabelecidas pelo governo desde 2018. Com o objetivo de aumentar a autossuficiência e reduzir a dependência das importações, a produção de leite no país subiu de 70% para 85%, atingindo a meta de 10 milhões de toneladas métricas adicionais antes do prazo estabelecido, que era 2025.
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Esses resultados estão impactando diretamente o comércio internacional de lácteos. Segundo especialistas, esse excesso de oferta na produção local de leite cru tem levado à redução dos preços no mercado interno, afetando a rentabilidade das fazendas chinesas. Isso reflete em uma menor demanda por importações, o que pode influenciar significativamente o comércio global no curto prazo.
Impacto no Mercado de Exportações de Novilhas
A demanda por novilhas leiteiras na China também foi severamente afetada. Durante anos, a exportação de novilhas para a China foi uma oportunidade lucrativa para países produtores, como a Austrália. No entanto, o aumento da oferta interna de leite e o excesso de estoque no mercado local colocou esse setor “em um ponto crítico”, de acordo com Harvey, especialista em agronegócios.
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O Rabobank também relatou que, além da desaceleração nas importações de novilhas, há uma queda generalizada nas importações de leite em pó, leite líquido, creme e soro de leite. Essas mudanças estão desafiando exportadores que dependiam da China como o principal destino para seus produtos.
Leite em Pó Integral e Desnatado
Um dos setores mais atingidos pela política chinesa de aumento de produção doméstica é o de leite em pó integral e desnatado, categorias historicamente dominadas pela China no comércio internacional. Em 2022, a China importou 845 mil toneladas de leite em pó integral, mas esse número caiu drasticamente para 430 mil toneladas em 2023, demonstrando a queda na demanda externa.
A previsão é de uma recuperação modesta para 2024, mas ainda assim, as importações devem continuar muito abaixo dos níveis anteriores.
Além disso, o Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA prevê que a demanda por leite em pó desnatado será ainda mais fraca em 2024, à medida que os estoques domésticos se mantêm elevados e a produção local continua crescendo.
O Cenário para o Futuro Próximo
Mesmo com o cenário atual de superprodução e queda nas importações, há indícios de que a demanda por lácteos na China possa recuperar algum vigor no futuro. Ações recentes do governo chinês, como empréstimos e vouchers para impulsionar o consumo de produtos lácteos, fizeram com que empresas do setor, como a China Mengniu Dairy Co., registrassem uma recuperação acentuada no valor de suas ações.
Entretanto, para muitos exportadores globais, o desafio de lidar com um mercado chinês cada vez mais autossuficiente em laticínios é evidente. A produção doméstica está afetando não só o volume de importações, mas também pressionando os preços locais, colocando as exportações em segundo plano e exigindo novos ajustes nos mercados que tradicionalmente atendem à China.
Maior importador de leite do mundo
O status da China como maior importadora de lácteos do mundo está mudando rapidamente, à medida que o país avança em sua autossuficiência produtiva. Essa transformação não só impacta o mercado chinês, como reverbera nas exportações de países que dependem desse gigante consumidor. O mercado global de lácteos está sendo desafiado a se adaptar a um novo equilíbrio, com menos espaço para grandes exportações e preços mais competitivos.
As mudanças na política agrícola chinesa e o foco em aumentar a produção interna de leite já apresentam efeitos diretos sobre as importações de leite em pó, novilhas e outros derivados lácteos, indicando que o comércio de laticínios com a China está entrando em uma fase de desaceleração. A recuperação, embora possível, depende de novos incentivos ao consumo doméstico, enquanto o restante do mundo ajusta sua oferta para atender a essa nova realidade.