ESPMEXENGBRAIND
11 dez 2025
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O valor agregado mostra sua força: a manteiga argentina vale 282% mais que tubos de aço e reposiciona o potencial exportador do país. 📊
A diferença de preços revela o impacto do valor agregado e reposiciona alimentos industrializados como motores de exportação. 🚚
A diferença de preços revela o impacto do valor agregado e reposiciona alimentos industrializados como motores de exportação 🚚

O valor agregado voltou a ocupar o centro das discussões sobre competitividade na Argentina, impulsionado por um dado eloquente: uma tonelada de manteiga exportada rendeu, neste ano, 282% mais que uma tonelada de tubos de aço sem costura.

O contraste, destacado por analistas do setor, reacende o debate sobre o papel da agroindústria — e da leiteria em particular — na geração de divisas e no fortalecimento da economia nacional.

Especialistas consultados por diferentes entidades produtivas afirmam que o país atravessa um momento decisivo. A Argentina dispõe de abundância de recursos naturais e ampla base produtiva, mas ainda enfrenta o desafio de transformar essa capacidade em exportações de maior valor unitário. Fontes próximas ao Ministério da Agricultura observam que o agro, ao lado da energia e dos minerais, continuará figurando entre os pilares mais dinâmicos do comércio exterior argentino nos próximos anos.

A lembrança de um pensamento do professor Héctor “El Negro” Ordóñez ganhou nova atualidade. Ele costumava dizer que um quilo de carne poderia valer mais do que um de um automóvel de luxo, destacando a capacidade do agro de gerar riqueza quando industrializado. Hoje, essa lógica se comprova com números concretos e comparações contundentes.

Entre janeiro e setembro, segundo dados oficiais, as exportações argentinas incluíram 11.900 toneladas de tubos de aço destinados principalmente ao setor petrolífero, com um preço médio de 1.689 dólares por tonelada. No mesmo intervalo, foram embarcadas 10.600 toneladas de manteiga com valor médio unitário de 6.462 dólares por tonelada. A diferença — equivalente a 282% — surpreendeu inclusive operadores do mercado industrial, habituados a ver o aço entre os produtos de maior valor agregado.

Para representantes da cadeia láctea argentina, esse exemplo revela apenas uma parte do potencial. Ao analisar o portfólio de lácteos exportados, observa-se uma escadaria clara de valor conforme aumenta o nível de processamento. A leite fluida destinada ao comércio internacional registrou preço médio próximo a 690 dólares por tonelada. Já o lactossoro alcançou 1.668 dólares; a leite em pó integral, 3.616 dólares; e o queijo duro, 6.314 dólares por tonelada. Essa progressão demonstra que cada etapa industrial agrega valor real à matéria-prima.

Técnicos de instituições ligadas ao setor descrevem o processo como uma “transformação extraordinária”: milho, silagem e proteínas vegetais tornam-se, por meio do complexo digestivo da vaca e da indústria láctea, alimentos de alto valor comercial. Esse encadeamento produtivo — que começa no campo e termina nas fábricas — é apontado como um dos mais eficientes multiplicadores de riqueza dentro da economia argentina.

A lógica se replica em outras cadeias agroindustriais. No caso do trigo, o país parte de um grão cotado em aproximadamente 233 dólares por tonelada, mas termina entregando ao mercado alimentos industrializados que superam múltiplas vezes esse valor. A farinha alcança cerca de 354 dólares, o glúten ultrapassa 1.772 dólares e o pão de forma pode superar 3.400 dólares por tonelada. Quanto maior o processamento, maior o preço final.

O maíz representa outra grande oportunidade estratégica. Hoje, estima-se que quase dois terços da produção seja exportada como grão. Analistas relatam que, se os 38 milhões de toneladas embarcados na última campanha fossem direcionados a biocombustíveis e co-produtos industriais — como etanol, burlanda para alimentação animal e dióxido de carbono para bebidas —, o país poderia abastecer cerca de 45 plantas semelhantes à ACABio, a maior usina de etanol em operação na Argentina. Seria um salto industrial sem precedentes.

Situação semelhante aparece no trigo, que deve gerar exportações próximas de 15 milhões de toneladas, volume que supera amplamente a demanda interna da moagem. A cebada, por sua vez, ainda carece de investimentos para ampliar a produção de malte e capturar margens maiores.

Embora a energia e os minerais tendam a ganhar protagonismo como novos geradores de divisas, fontes do setor produtivo sustentam que os alimentos continuarão como o principal emblema exportador do país. O potencial está em enviar ao mundo não apenas volume, mas qualidade, tecnologia e, sobretudo, valor agregado, componente que, como mostram os dados da manteiga, pode redefinir a hierarquia tradicional entre setores industriais e agroindustriais.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de EDairyNews Español

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