Sustentabilidade vende. Essa talvez seja uma das poucas certezas num cenário de consumo onde produtos prometem salvar o planeta — mesmo que o “como” disso nem sempre fique tão claro.
O exemplo mais recente dessa tendência? O leite híbrido, que combina leite de vaca com proteínas vegetais, e já ocupa as prateleiras da rede Albert Heijn, gigante do varejo holandês.
Por trás dessa inovação está a empresa dinamarquesa PlanetDairy, que afirma ter criado um produto “mais sustentável”, sem se distanciar muito do sabor e da funcionalidade que o consumidor espera do leite.
Mas com um detalhe: o híbrido não é adequado para veganos nem para alérgicos, e tem menos proteína e gordura do que o leite tradicional. Em compensação, promete uma redução de 20% a 35% nas emissões de carbono.
O interessante — e aqui está a sutileza comercial — é que esse “leite com ingredientes vegetais” é vendido pelo mesmo preço do leite comum da marca própria: €1,39 por litro. Assim, o dilema para o consumidor está lançado: evolução real ou apenas mudança de rótulo?
Sabor, sustentabilidade… e negócios
Para os defensores do leite híbrido, a chave está no equilíbrio: atrair o consumidor flexitariano — aquele que busca reduzir produtos de origem animal, mas não está satisfeito com as bebidas vegetais — sem comprometer demais o sabor ou a textura.
O fato é que o mercado europeu de bebidas vegetais vem caindo (-8,3% em volume desde 2022 na Holanda, segundo o GFI), e a indústria procura se reinventar. “Quando o negócio dos produtos 100% vegetais perde força, surgem essas fórmulas intermediárias”, reconhecem alguns analistas.
A nobreza do leite no centro do debate
De outro lado, os defensores da indústria láctea tradicional observam o fenômeno com uma mistura de atenção e cautela. O leite de vaca continua sendo um alimento completo, com valor biológico que as alternativas vegetais ainda não conseguem igualar, além de ter um peso social e cultural que atravessa modismos.
A grande questão é se esses produtos híbridos vêm para complementar a oferta ou se, no fundo, diluem o conceito do leite de verdade, aproveitando o prestígio e a credibilidade construídos por gerações de produtores.
O dado que falta no rótulo
A PlanetDairy admite que, embora trabalhe com consultorias para medir as emissões de carbono, a redução não aparece nos rótulos. A explicação? Calcular o impacto real desses produtos é complexo e, muitas vezes, menos impactante do que as campanhas sugerem.
Assim, entre discursos de sustentabilidade e estratégias de marketing, o leite híbrido inicia seu percurso. Será que vai virar o novo normal? Ou será apenas uma moda passageira? O que já está claro é que, além dos ingredientes, o que está sendo misturado aqui são ideologia, negócios e, claro, a sensibilidade do consumidor.
Porque no final das contas, salvar o planeta também se vende 🤑🫰.
EDAIRYNEWS