ESPMEXENGBRAIND
20 out 2025
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Mesmo com 12% menos produtores e 3,5% menos vacas, o leite gaúcho segue em alta, impulsionado pela tecnologia e propriedades mais produtivas 💡
Produtividade cresce 165% em 10 anos, mesmo com menos vacas e produtores. Leite
Produtividade cresce 165% em 10 anos, mesmo com menos vacas e produtores 🐮

A produção de leite no Rio Grande do Sul vem passando por uma transformação silenciosa, mas profunda. De acordo com o 6º Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite, elaborado pela Emater/RS-Ascar e apresentado na 48ª Expointer, o Estado mantém praticamente estável sua produção — 3,84 bilhões de litros por ano, um leve aumento de 0,2% em relação a 2023.

Por trás dessa estabilidade, há um contraste marcante: o número de propriedades que produzem e comercializam leite caiu de 33 mil para 28,9 mil em dois anos — 12,3% a menos. Há uma década, eram 84 mil. Ou seja, há menos vacas e menos produtores, mas mais leite.

Produtividade dobra com tecnologia e confinamento

Segundo o zootecnista e coordenador do estudo, Jaime Ries, o segredo está na especialização e mecanização das propriedades que permanecem. O número médio de vacas por fazenda dobrou em dez anos, passando de 13,9 para 25,6 animais. Já a produtividade média diária saltou de 137 litros para 364 litros por propriedade.

“Menos produtores, com rebanhos menores, conseguem produzir praticamente a mesma quantidade de leite. A escala de produção aumentou, e quem sai da atividade é o pequeno produtor”, explicou Ries.

O caso do produtor Elias Spada, de Ibiraiaras (Norte do RS), reflete essa nova realidade. Em dez anos, ele trocou o sistema a pasto pelo confinamento e incorporou maquinários modernos. Hoje, mantém 80 vacas em ordenha, com 2,8 mil litros por dia, cerca de 35 litros por animal, divididos em três ordenhas diárias. “O sistema confinado exige mecanização. São equipamentos modernos, com melhor eficiência e retorno”, explica.

O preço de produzir mais

Mas o aumento da eficiência vem acompanhado de custos elevados. Spada calcula que o custo de produção varia entre R$ 2,00 e R$ 2,10 por litro, enquanto o preço de venda supera R$ 2,60, dependendo da região. “O fluxo de caixa é intenso. O dinheiro entra e sai rápido. Costumo dizer que a gente só troca figurinha”, comenta.

A propriedade, criada pelos pais de Elias, está na segunda geração. Apesar do cansaço e da pressão econômica, ele sonha que os filhos deem continuidade à atividade: “É cansativo, mas gratificante. Ver que o negócio dá resultado faz tudo valer a pena.”

O outro lado: abandono e endividamento

Para muitos vizinhos, o cenário é oposto. O alto custo de maquinários, a burocracia no crédito e a baixa margem de lucro têm levado produtores a abandonar o setor. Segundo Marcos Tang, presidente da Gadolando e da Febrac, cerca de 20 produtores deixaram o negócio nos últimos anos.

“O leite gaúcho tem hoje mais e melhores vacas, mas o número de propriedades com nota fiscal mensal caiu de 85 mil para 29 mil. Isso é um problema social. O que estão fazendo esses produtores que saíram?”, questiona Tang.

O dirigente aponta ainda que o Rio Grande do Sul consome apenas 30% do leite que produz, exportando o restante para outros estados. “Precisamos investir em logística e ampliar o consumo interno”, defende.

Clima e custos pressionam o produtor

Os últimos anos foram marcados por estiagens e enchentes, o que reduziu a oferta de alimento e elevou o custo das rações. “Quem teve que financiar máquinas também precisou comprar comida para as vacas. Essa é a dívida atual do produtor”, diz Tang.

Na propriedade do dirigente, em Farroupilha, o custo do litro chega a R$ 2,30, com preço de venda de R$ 2,37. “Está muito apertado. Um preço justo seria R$ 3,00 por litro”, afirma.

Juventude e inovação: o futuro do leite gaúcho

Para garantir sucessão familiar, Tang acredita que o caminho está na inovação tecnológica. A ordenha robótica, os aplicativos de controle e os softwares de gestão despertam o interesse dos jovens. “A atividade está cada vez mais ligada à tecnologia. O futuro do leite passa pela informatização e pelo profissionalismo”, avalia.

O presidente do Sindicato Rural de Erechim, Allan Tormen, concorda. Ele destaca que a produtividade cresceu exponencialmente, mesmo com menos vacas e fazendas. “O produtor mecanizado e eficiente consegue sobreviver. Esse é o retrato do setor não só no RS, mas também em Minas, Paraná, Santa Catarina e até nos Estados Unidos”, observa.

Próximo desafio: exportar leite brasileiro

Atualmente, o Brasil ainda precisa importar de 3% a 5% de leite para abastecer o mercado interno. Tormen acredita que, em cinco a dez anos, o país será autossuficiente e precisará de uma política de exportação.

“Quando chegarmos ao superávit, o risco será o excesso de oferta interna. Os três estados do Sul — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul — serão fundamentais para abrir portas no mercado internacional”, conclui.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Tapejara Agora

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