Depois de um primeiro semestre instável, as últimas semanas marcaram uma virada clara no humor do mercado lácteo internacional.
Os preços, que tradicionalmente tendem a se firmar no quarto trimestre graças a uma menor produção no Hemisfério Norte e uma demanda sazonalmente aquecida, mostram sinais de fraqueza.
A palavra da vez é bearish: um mercado com tendência de baixa, onde a oferta supera a procura e os preços cedem.
A volatilidade segue alta, a liquidez está presente, mas falta consenso. Parte dos players ainda aposta em uma reação nos próximos meses; outros acreditam que a queda registrada na última quinzena veio para ficar.
O que está por trás da pressão nos preços?
A última sessão do Global Dairy Trade (GDT) funcionou como termômetro antecipado do último trimestre de 2025: muito produto disponível e pouca pressa dos compradores.
Os argumentos tradicionais dos “bulls” (os otimistas do mercado) — férias no Hemisfério Norte, demanda adiada — perderam força. Enquanto isso, os “bears” encontram respaldo em dados de produção robustos vindos da Oceania e do Cone Sul.
Oceania: a primavera perfeita
Na Nova Zelândia, e de forma semelhante na Austrália, a primavera traz condições quase ideais: pastagens abundantes, custo de alimentação controlado e preços propostos aos produtores que incentivam a produção.
O cenário desenha uma oferta consistente para os próximos meses, o que tende a pressionar ainda mais as cotações internacionais.
Cone Sul: leite adiantado e em alta
Uruguai: o país vive um agosto histórico. A captação de leite pelas indústrias atingiu níveis previstos apenas para outubro. As condições climáticas favoráveis e uma base forrageira sólida impulsionaram a produção muito antes do esperado.
Argentina: depois de dois anos de resultados fracos, o setor mostra fôlego renovado. Preços pagos ao produtor em patamares atraentes, boa relação insumo/produto e condições de alimentação excepcionais impulsionam a oferta.
Além disso, cresce o investimento em tecnologia: fazendas incorporam robôs de ordenha e ampliam seus rebanhos.
O que isso significa para o Brasil?
Para o mercado brasileiro, o cenário bearish global é uma faca de dois gumes:
-
Importadores e processadores podem encontrar oportunidades para adquirir lácteos a preços mais competitivos, especialmente leite em pó e queijos do Cone Sul.
-
Produtores nacionais enfrentam o risco de maior pressão sobre seus preços internos, justamente em um período em que os custos de produção começam a se reacomodar.
-
A decisão estratégica passa a ser de tempo: aproveitar agora os preços mais baixos ou esperar um eventual repique no quarto trimestre?
Risco de sobreoferta ou janela estratégica?
O quarto trimestre tradicionalmente é positivo para a Europa e os Estados Unidos, com menor produção e maior demanda. Porém, a atual combinação de estoques elevados e clima favorável na Oceania e no Cone Sul pode alterar essa dinâmica.
Se a demanda global não reagir rapidamente, os “bears” podem ditar o ritmo até o início de 2026. Por outro lado, uma eventual recuperação do consumo asiático — sempre um fator-chave — poderia reverter parte da tendência.
Alerta e oportunidade para o Brasil
O mercado lácteo internacional entrou em território bearish. Para o Brasil, isso significa oportunidades de importação, mas também riscos competitivos internos.
O jogo está aberto: quem tiver liquidez e estratégia pode se beneficiar; quem demorar a agir pode sentir o impacto na rentabilidade.
Como a sua empresa está se preparando para este quarto trimestre?