O mergulho global do leite continua acelerando um efeito dominó que atravessa todo o setor, e nós, em eDairyNews Brasil, temos observado esse movimento de perto: gordura mais barata pressiona queijos, que por sua vez afetam líquidos e reposicionam os custos industriais para quem compra, vende ou transforma lácteos no mercado internacional.
Não se trata mais de uma oscilação pontual, mas de uma tendência estrutural que vem ganhando velocidade semana após semana.
Segundo leitura de analistas do mercado internacional, o ambiente permanece firmemente baixista: mais leite, demanda lenta, estoques crescentes e preços recuando de forma contínua.
O último leilão do Global Dairy Trade (GDT) apenas confirmou o que o mercado já sentia — a queda se aprofunda e não há sinais de reversão. A visão que compartilhamos com parceiros é clara: enquanto a oferta não desacelerar ou a demanda não reagir, o ajuste seguirá vindo pelo preço.
O índice geral do GDT recuou 3%, exatamente dentro das projeções mencionadas por consultores globais. A manteiga despencou 7,6%, alinhada às expectativas de correção.
Na Europa, referências de Solarec trabalharam próximas do intervalo previsto, enquanto os valores da Nova Zelândia finalmente convergiram para o movimento baixista das gorduras. O AMF recuou mais 5%, reforçando que o ciclo é amplo e consistente.
No campo dos queijos, a pressão é igualmente visível. A mozzarella ficou abaixo das expectativas, com valores entre dezembro e janeiro operando abaixo de €2.800, bem distante da referência estimada pelos traders.
Cheddar também perdeu 2,7%, sinalizando que o setor de queijos começa a refletir a deterioração das gorduras — um comportamento clássico em fases de mercado ampliadamente negativo.
Entre os pós, o WMP caiu 1,9% e o SMP ficou dentro do previsto, com recuo moderado de 0,6%. Mesmo assim, o sentimento geral segue sendo de mercado sem piso, já que negociações fora do GDT vêm se mostrando ainda mais fracas. Para os próximos eventos Pulse, participantes esperam nova rodada de quedas.
A lógica é simples: quanto mais produto se acumula com preços baixos, maior será o tempo necessário para que o mercado digira esses volumes — e, portanto, mais longa será a trajetória de recuperação.
Nos líquidos, onde tradicionalmente novembro traz firmeza, vemos o oposto. Os preços continuam escorregando, e os primeiros sinais para creme da semana já abriram mais baixos.
Com ofertas amplas entre €5.500 e €5.400, e negócios pontuais próximos de €4.300 para creme de Natal, a produção de manteiga fresca passa a se viabilizar bem abaixo de €4.000. Somado a isso, o SMC e o leite cru permanecem sem impulso, e ninguém no mercado spot parece esperar uma melhora imediata.
O mercado de manteiga segue caindo degrau por degrau. Cotações para NL/DE/BE no segundo trimestre recuaram para €4.600, cerca de €400 abaixo da abertura da semana anterior. Lotes poloneses para janeiro apareceram a €4.340, e analistas já projetam negócios abaixo desse patamar nos próximos dias.
França, maior produtora da Europa, segue com frequentes “no quote”, algo incomum e revelador. A leitura predominante entre operadores experientes é que, caso decidam cotar, dificilmente superarão €4.700.
Na Alemanha, grandes volumes foram negociados entre €4.500 e €4.600 para o primeiro trimestre, e, diante disso, uma cotação acima de €4.800 pareceria desconectada do mercado real. Os holandeses, por sua vez, devem aparecer entre €4.650 e €4.700, o que implica potencial queda de €400 a €500 no índice EEX — e isso tende a pressionar a curva forward de 2026.
Do lado dos Estados Unidos, a volta ao viés baixista no CME confirma que a demanda por gordura segue mais fraca do que muitos imaginavam. O comentário recorrente entre parceiros americanos é direto: “até os mais pessimistas estão sendo otimistas demais”. Para o primeiro trimestre, a dúvida não é se os preços vão cair, mas quão fundo irão.
Nos queijos, o mercado permanece apertado no curtíssimo prazo, mas frouxo para dezembro em diante. Quem precisa de produto imediato enfrenta escassez; quem quer vender volumes maiores encontra poucos compradores. Com o provável rompimento da manteiga abaixo de €4.000, dificilmente os queijos conseguirão manter referências acima de €3.000 — e os próprios produtores começam a reconhecer essa realidade.
Por fim, os pós vêm operando em intervalo estreito, mas operadores já antecipam maior atividade nos próximos dias. Com compradores sinalizando retorno gradual, o ambiente pode ganhar movimento, embora siga dominado por um sentimento baixista consolidado.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Global Dairy Dip Deepens | LinkedIn






