O Senado mexicano deu sinal verde, nesta quarta-feira (10), a um tarifaço que pode chegar a 50% sobre produtos importados de 11 países sem acordo comercial preferencial com o México, incluindo o Brasil.
A medida, proposta pela presidente Claudia Sheinbaum, foi aprovada por ampla margem de 76 votos favoráveis contra apenas 5 contrários, com 35 abstenções, e deve começar a valer a partir de 1º de janeiro de 2026, após publicação oficial no diário do governo.
A decisão chega em momento delicado para o comércio exterior brasileiro. Poucos dias antes, os Estados Unidos haviam anunciado alívio significativo, retirando a tarifa extra de 40% aplicada a mais de 200 produtos brasileiros, como carne bovina, café, cacau e açaí. Essa lista de exceções, que agora soma quase 700 itens, passou a valer para mercadorias desembarcadas a partir de 13 de novembro – coincidência ou não, mesma data de encontro entre o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o secretário de Estado americano Marco Rubio. Com isso, parte das barreiras que chegavam a 50% para alimentos foi reduzida ou eliminada, trazendo respiro aos exportadores nacionais.
No México, o cenário caminha na direção contrária. O tarifaço abrange 1.463 classificações tarifárias em setores estratégicos: automotivo, têxtil e vestuário, siderúrgico, plásticos, eletrodomésticos, móveis e calçados. A maioria das alíquotas ficará entre 20% e 35%, mas algumas linhas, especialmente no segmento automotivo, alcançarão os 50%. Analistas apontam que o foco principal é conter a avalanche de veículos chineses, que já representam 20% das vendas no mercado mexicano.
Pequim não demorou a reagir. O Ministério do Comércio da China classificou a medida como “unilateral” e alertou para “prejuízos substanciais” às relações bilaterais. Já no Brasil, governo e entidades setoriais correm para mapear os possíveis impactos. O ponto central da discussão é o Acordo de Complementação Econômica Brasil-México, em vigor desde 2003, que garante livre comércio de veículos, peças automotivas e máquinas agrícolas entre os dois países.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) se mostra otimista. Segundo a entidade, o tarifaço não deve atingir os produtos cobertos pelo acordo bilateral. Se essa interpretação se confirmar, o encarecimento dos carros chineses pode abrir espaço maior para as montadoras brasileiras no mercado mexicano. Dados da Anfavea revelam que, entre janeiro e outubro deste ano, o Brasil exportou 66.474 veículos ao México – volume 17,3% menor que no mesmo período de 2024, mostrando que já havia retração antes da nova barreira.
A votação no Senado mexicano expôs divisões internas. Os 35 senadores que se abstiveram criticaram a pressa na tramitação do projeto, sem estudos aprofundados sobre possível impacto inflacionário para o consumidor local. Parte da oposição associou a iniciativa à pressão externa do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que busca frear a entrada indireta de produtos chineses via México – estratégia conhecida como “nearshoring reverso”.
Do lado governista, a defesa foi firme: o tarifaço visa proteger e fortalecer a indústria nacional, gerar empregos e ampliar cadeias produtivas internas. Parlamentares alinhados a Sheinbaum argumentam que a medida corrige desequilíbrios comerciais e estimula investimentos locais em setores vulneráveis.
Para o Brasil, o saldo ainda é incerto. Setores sem cobertura de acordos, como têxtil, calçados e móveis, podem sofrer concorrência mais dura ou redução de mercado. Por outro lado, o automotivo – um dos pilares das exportações brasileiras à América Latina – pode sair fortalecido, ganhando fatia diante dos concorrentes asiáticos. Diplomatas brasileiros já monitoram os próximos passos e preparam conversas bilaterais para esclarecer a aplicação exata das novas regras.
O episódio reforça o quanto o comércio global permanece volátil, influenciado por decisões políticas internas e pressões geopolíticas maiores. Enquanto uns fecham portas, outros podem se entreabrir – cabe aos exportadores brasileiros agir rápido para transformar o tarifaço mexicano em oportunidade concreta.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de MIX






