ESPMEXENGBRAIND
4 jul 2025
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Com apoio a produtores locais e recuperação de plantas públicas, o governo do México investe na autossuficiência láctea, apesar das críticas do setor privado.
México produção de leite cai cerca de 50%

México avança rumo à soberania láctea e quer zerar importações de leite em pó

O governo do México intensificou sua aposta na autossuficiência láctea com o objetivo declarado de deixar de importar leite em pó, especialmente dos Estados Unidos. Segundo Leonel Cota Montaño, subsecretário da Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural (Sader), o país já deixou de importar o produto do estado da Califórnia e agora prioriza a compra da produção nacional.

“Chegamos a comprar 50 mil toneladas por ano, a 80 pesos por quilo. Hoje, estamos comprando de produtores nacionais”, afirmou Cota. A iniciativa, de acordo com o governo, já envolve ações em 15 estados mexicanos, onde produtores locais estão sendo articulados para garantir leite em pó de qualidade.

A estratégia é parte de um plano mais amplo de recuperar a capacidade produtiva interna e reduzir a dependência externa de alimentos. “Não há razão para seguir comprando fora o que podemos produzir bem aqui”, reforçou o subsecretário.

Um dos pilares da proposta é a reativação de antigas plantas industriais que foram privatizadas nos anos 90. Um exemplo citado é a planta de Campeche, fechada e privatizada em 1996, que será reaberta. “Estamos falando de soberania”, destacou Cota.

Programa social fortalece a base produtiva

O programa federal Leche para el Bienestar, que distribui leite a preços acessíveis à população, também está em expansão. Segundo Cota, o programa atenderá 7 milhões de pessoas este ano, com meta de chegar a 10 milhões até o fim do sexênio.

Os consumidores recebem o leite a 7,50 pesos por litro, enquanto os produtores recebem 11,50 pesos — considerado o melhor preço pago atualmente no país. “Nenhuma empresa privada paga esse valor ainda, embora algumas tenham começado a se aproximar”, disse o subsecretário.

O impacto econômico da política já é visível: apenas em Jalisco, o governo compra 800 mil litros de leite por dia, movimentando 9,3 milhões de pesos diários. Em Chihuahua, são 600 mil litros por dia, com um desembolso de quase 7 milhões de pesos diários diretamente aos produtores.

Setor privado vê entraves estruturais

Apesar do entusiasmo governamental, o plano não é unânime. O presidente do Conselho Nacional Agropecuário (CNA), Jorge Esteve Revolons, considera a autossuficiência uma meta difícil de alcançar sem enfrentar os desafios estruturais do campo mexicano.

“A maior parte do leite em pó que usamos vem dos Estados Unidos, onde é produzido com menor custo devido à escala e infraestrutura superior”, argumentou Esteve. Ele não descartou os esforços federais, mas defendeu uma abordagem mais estratégica e realista.

Segundo o dirigente, a vocação do México não está em produtos como leite ou grãos. “Somos muito mais eficientes na produção de frutas, verduras e cítricos. Insistir em autossuficiência de leite pode não ser o melhor caminho”, afirmou.

Contexto do comércio internacional

De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o México é historicamente o maior comprador de leite em pó dos EUA, com uma média anual de mais de 300 mil toneladas. Uma mudança estrutural como a proposta pelo governo de Andrés Manuel López Obrador poderia redesenhar o comércio regional de lácteos na América do Norte.

Para os especialistas, os resultados dependerão da continuidade dos programas públicos, da capacidade de modernizar plantas e sistemas de produção e, principalmente, da competitividade frente aos preços internacionais.

Enquanto isso, o debate entre soberania alimentar e viabilidade econômica promete continuar como pano de fundo das políticas agroalimentares do México.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Grupo Milenio

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