O leite A2 voltou ao centro das discussões estratégicas do setor lácteo mineiro, desta vez com foco direto na competitividade e no valor agregado que esse tipo de produto pode oferecer à maior bacia leiteira do Brasil.
Em São João del-Rei, representantes da agroindústria, órgãos de pesquisa, entidades de assistência técnica e autoridades públicas se reuniram para avaliar de que forma Minas Gerais pode acelerar sua entrada no mercado premium de derivados lácteos e avançar na certificação de propriedades aptas a produzir esse alimento diferenciado.
A audiência pública, promovida pela Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), foi realizada no Campus Experimental Risoleta Neves da Epamig, vinculado à Universidade Federal de São João del-Rei. Solicitada pelo deputado Coronel Henrique (PL), ela teve como propósito colocar a certificação do leite A2 sob os holofotes, aproximando o debate entre produtores, indústria e ciência.
O parlamentar explicou que a distinção entre os leites A1 e A2 está associada à estrutura da proteína beta-caseína. Enquanto o leite A1, ao ser digerido, libera o peptídeo BCM-7 — potencialmente responsável por desconforto digestivo em algumas pessoas — o leite A2 não produz esse efeito, por ser oriundo de vacas selecionadas geneticamente.
Apesar dessa diferença, os dois tipos possuem níveis semelhantes de lactose e valor nutricional próximo, o que coloca o A2 como alternativa funcional sem alterações no perfil nutritivo básico.
Para Coronel Henrique, Minas precisa assumir o protagonismo nacional na produção e regulamentação da categoria. “Minas Gerais, maior Estado produtor de leite no Brasil, precisa estar na vanguarda da tecnologia”, afirmou, sublinhando que a certificação oficial das propriedades será peça-chave para dar segurança ao mercado e abrir espaço para novos investimentos da indústria de laticínios.
O deputado antecipou que a proposta de intensificar o processo de certificação chega em um momento estratégico, em que consumidores demonstram maior interesse por produtos premium e funcionais.
Ele ressaltou que o leite A2 já é reconhecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que a ampliação da oferta depende, principalmente, de planejamento técnico, articulação com a indústria e investimentos em genética e rastreabilidade.
Segundo o parlamentar, o ganho econômico para o produtor é um dos principais motores dessa agenda. Por apresentar maior valor agregado e maior demanda em nichos de mercado, o leite A2 tende a gerar remuneração mais atrativa.
“Com maior valor agregado, esse produto será mais procurado pelos consumidores e, consequentemente, a indústria de lácteos vai cada vez mais demandar as propriedades leiteiras para a produção do leite A2”, destacou.
Durante a audiência, foram discutidos modelos iniciais de certificação e parcerias que envolvem desde a Epamig e a Emater até empresas privadas com atuação direta na cadeia produtiva. A presença de dirigentes da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) reforçou o alinhamento institucional para que o Estado avance também no campo regulatório.
Os debates apontaram que a adoção de programas de melhoramento genético, aliada à capacitação técnica dos produtores, será determinante para ampliar o número de fazendas aptas a fornecer leite certificado.
Representantes do setor industrial também destacaram que a previsibilidade na oferta é essencial para que os laticínios planejem linhas premium de derivados, garantindo escala mínima e estabilidade de fornecimento.
Outro ponto discutido foi a necessidade de ampliar a comunicação com o consumidor, esclarecendo o que diferencia o leite A2 e por que ele se insere em uma categoria de maior valor agregado. Para os presentes, há espaço para expansão do mercado, desde que a informação circule de forma clara e responsável, fortalecendo a reputação do produto e evitando percepções equivocadas.
A audiência marcou, portanto, mais um passo para consolidar o leite A2 como um vetor estratégico da agroindústria mineira, conectando inovação, renda e competitividade. A expectativa é de que as discussões avancem nos próximos meses e resultem em ações concretas de certificação, parcerias institucionais e estímulos ao setor produtivo.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Assembleia Legislativa de Minas Gerais




