As fortes variações preocupam produtores locais, que lamentam as incertezas sobre as plantações nos últimos anos. Segundo apurou a Agência Folhapress, é o caso de Elton Widthauper, 55, morador do município de Miraguaí (445 km de Porto Alegre), no Noroeste do Rio Grande do Sul. No começo deste ano, ele perdeu pastagens e quase todo o milho plantado em três hectares de terra, o que dificultou a alimentação do gado leiteiro.
Widthauper costuma vender de 4.000 a 5.000 litros de leite por mês, mas o volume chegou a cair pela metade no primeiro semestre em razão da estiagem. O cultivo da cana-de-açúcar, base para a produção de melado, tampouco escapou dos impactos da falta de chuva, diz ele. A seca deste ano foi a maior de que me lembro. Foi terrível”, afirma. “Agora que voltou a chover a gente começa a botar os negócios em dia.” Na visão dele, os efeitos adversos do clima sobre o campo parecem ter ficado “mais fortes” nos últimos anos.
O cultivo de hortaliças e a produção de leite também foram atingidos em cheio pela falta de chuva no verão, segundo ela. A estiagem que ganhou força no começo de 2022 foi a mais intensa que a agricultora diz já ter vivido.
“Recuperar o prejuízo é difícil. A produção de grãos é uma reserva para o ano todo. Com a frustração da safra no verão, a gente passa o restante dos meses com o orçamento mais apertado”, relata.
A seca que castigou o estado entre o final de 2021 e o início de 2022 é associada por especialistas ao fenômeno La Niña. O evento climático é responsável por afetar a distribuição de chuvas, impactando a circulação de ventos e a umidade. No País, o fenômeno costuma provocar estiagem no Sul. O La Niña é caracterizado pelo resfriamento das águas do oceano Pacífico.
“O aquecimento global não interfere tanto em um fenômeno como o La Niña, mas pode fazer com que eventos como secas e estiagem sejam potencializados”, afirma. “Falar que o desmatamento pode influenciar as chuvas é fato”, acrescenta.
A professora de agrometeorologia Denise Cybis Fontana, da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), faz avaliação semelhante. Para ela, as alterações climáticas apontam para uma mudança na variabilidade das oscilações periódicas no clima.