Para viver em sociedade, o homem criou duas instituições fundamentais: o mercado e o Estado. É por meio da interação das habilidades pessoais que trocamos entre nós produtos e serviços que satisfazem as nossas necessidades. Mas, como esta estratégia não é perfeita, existe o Estado para cobrir as perigosas falhas de mercado. Na trajetória humana pós-industrial, ficou evidente que não é possível uma sociedade viver somente com o mercado, sem Estado, ou somente com o Estado, sem o mercado, pois ambas instituições se completam.
Quem melhor deu argumentos para a construção da visão liberal na economia foi Adam Smith, que entendeu as bases da Revolução Industrial, ocorrida há menos de 2,5 séculos e que mudou nossa maneira de viver e de pensar. Para ele ficou claro que os indivíduos precisam ter liberdade de escolher o que, quando e como produzir e consumir. Até então, o Estado controlava a vida econômica das pessoas. Mas, foi David Ricardo quem expandiu esta visão para a relação entre países, argumentando que o livre comércio é o único caminho sólido para um país se desenvolver. Simplificando, exercitar o liberalismo entre pessoas levaria à riqueza da nação. Já o liberalismo nas relações comerciais levaria à riqueza das nações.
Ambos autores são do Reino Unido, berço da industrialização e do pensamento liberal. Pois, foi no Reino Unido que surgiu a política explícita de controlar o mercado de leite, com tabelamento de preços. Mais que isso, Churchill estatizou parte do mercado, ao eleger o carteiro e o leiteiro como os dois símbolos para manter a imagem de Estado operante, numa Inglaterra destruída pela Segunda Grande Guerra. Estes foram os únicos dois serviços mantidos intactos pelo Governo.
Mas, até hoje os Estados Unidos aplicam preços discriminados para o mercado de leite. Já a Europa abusa de políticas de intervenção, visando proteger os seus mercados. E na Ásia, toda a aquisição de leite sempre exige longa e controlada negociação estatal.
Portanto, o mercado de leite é resultante de um somatório de intervenções, traduzidas em subsídios e proteção. O preço internacional do leite é naturalmente artificial, por mais estranho que possa parecer estas duas palavras antagônicas juntas: naturalmente artificial! É verdade que precisamos aumentar a produtividade para melhorar a competitividade. Sem isso, não há futuro. Mas, comércio exterior não permite ingenuidade.