Passados alguns meses do anúncio global da suíça Nestlé sobre os planos para acelerar seu trabalho climático em todos os mercados nos quais atua, cerca de 190 países, a Nestlé Brasil apresenta nesta semana o recorte local para as ações da maior companhia de alimentos do mundo, com receita de US$ 93,96 bilhões em 2020.
“Anunciamos os compromissos internacionais e queremos explicar o que isso quer dizer numa realidade brasileira, como aterrissamos isso no nosso país, que é um jogador importante em todos os temas de sustentabilidade”, diz Marcelo Melchior, CEO da Nestlé Brasil. “Tudo passa pelas nossas três principais cadeias de fornecimento: leite, café e cacau.” Nessas três cadeias, a empresa é dona de marcas como Ninho, Molico, Nespresso, Dolce Gusto, Nescafé, Chocolates Nestlé, kitkat, Nescau, entre outras. Ainda há cereais, sorvete, salgados, entre elas Maggi, Gelato, Farinha Láctea, etc. No total são 56 marcas de alimentos no mercado local.
Em nível mundial, a empresa assinou a adesão ao compromisso da ONU (Organização das Nações Unidas), a “Business Ambition for 1.5ºC, uma carta que incentiva as companhias a criarem medidas de combate às alterações climáticas por meio de duas vertentes para evitar um aquecimento da terra superior a 1.5ºC: nas metas científicas, alinhar os objetivos com a redução de emissões de GEEs (gases de efeito estufa) em todos os setores da companhia; nas emissões líquidas estabelecer o compromisso público de zerá-las até 2050. Emissões líquidas zero é quando todas as emissões de GEEs causadas pelo homem estão equilibradas com a remoção de gases da atmosfera.
“Temos um plano global detalhado para reduzir pela metade as nossas emissões líquidas (de CO2) até 2030 e atingir emissões líquidas zero até 2050. Isso parece longe, mas não está tão longe assim, porque o tempo voa para essas coisas”, afirma Melchior. “Nossa ambição é liderar a agenda de sustentabilidade no setor de alimentos. Pode parecer egocêntrico, mas é o que queremos para ter uma autoridade moral.”
Para nortear as ações há três pilares. O primeiro deles é trabalhar na agricultura regenerativa nas três cadeias. O segundo pilar é a circularidade, reduzindo e eliminando desperdícios, por exemplo reutilizando materiais sustentáveis. E o terceiro é a bioeconomia, atuando nos diferentes biomas brasileiros e suas comunidades. Os investimentos globais anunciados pela Nestlé serão de US$ 3,5 bilhões nos próximos cinco anos em busca de emissões zero, incluindo US$ 1,35 bilhão para estimular a agricultura regenerativa em sua cadeia de suprimentos. Em relação ao que caberá ao país, a empresa não revela o montante, mas Melchior garante que “vem para o Brasil uma parte relevante”. O objetivo é atuar na cadeia de fornecimento, em busca de crescimento, e também com mais parcerias por meio de startups e instituições.
Uma das principais parcerias ocorre com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em busca do status Net Zerro, anunciada em março. A Nestlé recebe leite de 1.200 fazendas, com captação diária média de 3,2 milhões de litros. “Até 2025, a gente quer reduzir em 54% o número de vacas que produzem leite para as necessidades da Nestlé, com quase 60% de redução de área de pecuária leiteira, também para a necessidade da Nestlé. Isso dá 82% de eficiência na produtividade de leite por vaca”, afirma Fábio Spinelli, diretor de sustentabilidade e planejamento estratégico.
Atualmente, o total de leite comprado pela Nestlé já é certificado para boas práticas da fazenda. “A gente já evoluiu não só para qualidade do leite, mas para bem estar animal e uso eficiente da água. Agora, com a Embrapa vamos para o que chamamos de regeneração total, ou seja, vamos criar o primeiro modelo com protocolo de produção de leite com emissão zero de carbono. A certificação será por propriedade”, afirma Spinelli.