No cacau, o primeiro passo é comprar todo o produto para as necessidades locais até 2025. Hoje, cerca de 25% é importado. “Dos 75% comprados, 1.100 fazendas já são certificadas e monitoradas para que não plantem em áreas de desmatamento ou matas ciliares. De acordo com o executivo, 24% do cacau gerado já vêm de práticas de agricultura regenerativa. Agora, a meta é chegar a 10 mil fazendas certificadas com melhores práticas regenerativas até 2025.
Não será um trabalho fácil para uma das cadeias mais complexas na agricultura. No Brasil há cerca de 60 mil produtores de cacau. Em geral, esses produtores vendem as amêndoas para intermediários que as repassam para as processadoras que colocam no mercado uma série de subprodutos, como manteigas e gradações de massa do cacau, por exemplo. As fábricas de chocolates compram uma parte desses subprodutos, como é o caso da Nestlé. “É uma jornada herculana, pelas características de cadeia fragmentada. Estamos falando de produtores no Sul do Pará, por exemplo, de baixíssimo acesso à educação e a qualquer tipo de apoio”, afirma Melchior. “Por isso a gente tem de trabalhar em parceria.” A meta da companhia é fomentar a multiplicação de boas práticas por meio dos intermediários.
Para o café, um setor em que a companhia possui um trabalho de peso, duas marcas estão na mira da companhia: Nescafé e Nespresso. “Vamos ser a primeira empresa carbono neutro no Brasil para cápsula, solúvel e torrado moído ainda em 2022”, diz Spinelli. Mas mesmo assim, ele salienta que não será um trabalho fácil e dá como exemplo o Nescafé Origins, com o anúncio recente de que a companhia, em parceria com a instituição social SOS Mata Atlântica vai plantar 3 milhões de árvores nesse bioma. “Esse projeto não vai contar, porque não está na nossa cadeia de fornecimento, mas já é uma experiência riquíssima para aprender a gerenciar a cadeia de crédito de carbono”, afirma Spinelli.
Para a vertente da bioeconomia, os cenários são mais claros. Por exemplo, nos modelos de polinização dos cafezais por meio de abelhas, uma parceria com startup para um projeto piloto. “Esse tipo de exemplo, logicamente, cria um premium em relação ao café regular, porque nossa ideia é tornar isso um modelo de negócio sustentável”, afirma Spinelli. “A gente quer contar isso para o consumidor, pegar o mel e transformar esse produto ligado ao café, criar alguns conceitos. O consumidor vê, reconhece e paga. Com isso a gente paga um prêmio para o produtor e cria um ciclo positivo, porque ele conta para o vizinho do lado que conta para o outro e para o outro”. Para a empresa, tornar a cadeia sustentável é gerar renda. “Não pode ser caridade. Temos de olhar para os projetos e saber que se um dia a Nestlé for embora, aquilo não desaba como um jogo de cartas”, diz Melchior. “Em uma bioeconomia, trabalhando em um negócio sustentável, as próprias comunidades dos diferentes biomas protegem o meio ambiente, porque é daí que eles tiram o seu sustento. Nós garantimos passar para a frente os diferentes produtos que eles produzem.”