ESPMEXENGBRAIND
20 mar 2025
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Para multinacional Nestlé com sede na Suíça, apenas o aumento da produção da commodity pode equilibrar o mercado.
Nestlé
Liberato Milo, lider de chocolate da Nestlé: consumo no sudeste asiático é baixo, mas cresce na casa dos dois dígitos — Foto: Gabriel Reis/Valor

Se depender da demanda, os preços do cacau não vão ceder tão facilmente. Para a Nestlé, maior fabricante de chocolates do mundo e maior compradora global de derivados do cacau, a demanda tem se mostrado muito “resiliente” à disparada dos preços dos dois últimos anos.

A amêndoa, que era negociada na casa dos US$ 2.700 por tonelada em março de 2023 na bolsa de Nova York, chegou a bater US$ 12.565 em dezembro passado, recuando recentemente para o patamar de US$ 8.000, em meio à quebra na safra do oeste da África.

Em entrevista à reportagem durante visita ao Brasil, Liberato Milo, líder global de chocolates da Nestlé e membro do World Cocoa Foundation, disse que a demanda por chocolate no mundo é sustentada, sobretudo, pelo aumento do consumo no sudeste asiático, que embora seja relativamente pequeno em comparação a outras regiões do globo, cresce na casa dos dois dígitos ao ano.

Com isso, mesmo que a alta dos preços reduza o apetite em alguns países emergentes, o consumo médio global ainda deve continuar crescendo, afirmou.

“A demanda cresce, e vai agora crescer mais do que a produção mundial”, disse Milo. “Até 15 anos atrás, o sudeste da Ásia não comia chocolate. O consumo ainda é baixo, mas cresce na casa dos dois dígitos”, reforçou.

A perspectiva da companhia vai na contramão de outras estatísticas de mercado, que vêm indicando que haverá uma redução da demanda global nesta safra 2024/25, iniciada em outubro.

A Organização Internacional do Cacau (ICCO, na sigla em inglês), por exemplo, estimou em fevereiro que a demanda mundial cairá 4,8% em relação à safra passada, colaborando para que sobre cacau neste ciclo.

Para Milo, não é apenas o sudeste asiático que sustenta o crescimento do consumo. Mesmo em outras regiões do planeta, ele vê resiliência na demanda por chocolate.

De acordo com o balanço da Nestlé de 2024, o faturamento com as vendas do segmento de confectionery (que inclui chocolate) cresceram em todas as regiões do planeta no ano, sendo que a receita global apenas com chocolate nesse segmento aumentou 5,7%.

Por um lado, parte desse fenômeno é explicado pelo próprio comportamento da indústria, que tem “absorvido” parte do impacto da alta da matéria-prima. “A Nestlé faz de tudo para incrementar o preço o mínimo possível e trata de encontrar eficiências na cadeia de produção, de distribuição, fazendo inovações nos produtos, com novas tecnologias”, disse.

Em 2024, a alta do cacau colaborou para que a margem de lucro bruto da Nestlé caísse de 47,2% no primeiro semestre para 46,3% no segundo semestre.

Isso não significa que o preço do chocolate ficará estável. “Não podemos garantir que não terá mais aumento de preços. O que podemos garantir é repassar menos ao consumidor”, afirmou Patrício Torres, vice-presidente de chocolates e biscoitos da Nestlé no Brasil.

Consumo firme

E a resiliência do consumo de chocolate não se dá apenas em relação à alta do cacau, mas à inflação dos alimentos de forma geral. Para explicar esse fenômeno, Milo recordou de uma experiência pessoal em uma comunidade pobre na Venezuela enquanto estava à frente da Nestlé no país.

“Havia uma senhora lá, e perguntei que produtos ela tinha. E tinha uma caixinha de chocolate de Toronto, que são bolas de avelã e chocolate ao redor.

É o produto mais caro que eu produzia na fábrica. Perguntei se alguém tinha dado a ela por saber que eu ia visitar a comunidade. Ela disse: ‘Não, meu filho. Eu tenho dez netos. Eles vêm todo domingo depois da igreja e não tenho nada para dar. O que posso dar para eles é esse chocolate’”.

Para atender a essa demanda que resiste a ceder mesmo diante de preços de cacau que nunca antes foram tão altos, a Nestlé aposta na principal saída: estimular a produção. Mesmo com as dificuldades nas lavouras do oeste da África, ele não vê alternativa que não seja aumentar a produtividade na região.

Em 2022, a companhia adotou uma estratégia de apoio direto a produtores da Costa do Marfim, maior produtor global da amêndoa, com pagamento de até 500 ao ano para famílias que adotarem certas práticas agrícolas e sociais, como matricular os filhos na escola.

De 2022 até junho de 2023, a produtividade média dos cacaueiros nas fazendas atendidas pelo programa no país já subiu 32%.

Uma das recomendações mais básicas, mas também mais desafiadoras, é orientar a poda correta. “Tem produtor que acha que vai perder produção se podar a árvore, e temos que mostrar que isso faz o restante da árvore produzir mais”, disse.

Para o executivo da Nestlé, mesmo que ocorram adversidades climáticas, a poda correta é capaz de aumentar a produção.

Mais oferta

A Nestlé também aposta no potencial de aumento de produção de outros países da região da Linha do Equador, como no Brasil, Indonésia e Equador. Nesses países, ele entende que será necessário ampliar as áreas de cultivo, além de aumentar a produtividade.

A Nestlé oferece aos países produtores incentivos através do Nestlé Cocoa Plan. No Brasil, a produtividade média dos participantes subiu 59% em um período de quatro anos, para 590 quilos por hectare. Em 2025, a expectativa é que alcance 650 quilos por hectare.

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