O crescimento voltou a dominar o discurso da Nestlé, mas desta vez sob um clima de urgência explícita.
Durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre de 2025, o CEO Philipp Navratil reconheceu que, embora a estratégia atual esteja funcionando, ela “não é boa o suficiente”.
A frase, contada pelo próprio executivo, resumiu a tensão de um momento em que a gigante suíça tenta conciliar ambição, eficiência e reestruturação profunda para se manter competitiva em um mercado global mais cauteloso.
A companhia confirmou suas diretrizes para 2025 e reforçou a meta de assegurar crescimento orgânico impulsionado por volume, com RIG acima de 2%.
Navratil explicou que esse avanço vem de duas frentes decisivas: acelerar áreas que já estavam priorizadas para investimento e recuperar velocidade nas 18 células internas classificadas como “subperformers”. Segundo ele, essas duas frentes responderam pela maior parte da aceleração observada no ano.
Mas o reforço estratégico não virá sem sacrifícios. A Nestlé anunciou um corte de 16 mil vagas ao longo dos próximos dois anos — cerca de 12 mil posições administrativas e outras 4 mil ligadas à cadeia de suprimentos e manufatura.
A narrativa oficial aponta que essa medida, embora dolorosa, permitirá economizar CHF 1 bilhão dentro de um plano mais amplo de CHF 3 bilhões até 2027. A reestruturação, porém, terá um custo único de CHF 2,5 bilhões e representa 5,8% do quadro global de 277 mil funcionários.
Paralelamente aos cortes, a empresa está ampliando investimentos em comunicação. A CFO Anna Manz detalhou que o gasto com marketing cresceu de 6,9% em 2022 para 8,6% no primeiro semestre de 2025.
Mesmo diante de uma queda de CHF 817 milhões nas vendas entre H1 2024 e H1 2025, a companhia escolheu não desacelerar, mas intensificar sua presença junto ao consumidor — apostando que visibilidade, mensagem e diferenciação serão cruciais num cenário de demanda mais fraca.
Nos resultados por categoria, o café voltou a assumir o papel de protagonista. Fontes internas relatam que Nescafé, Vertuo, formatos prontos para beber e as cápsulas da Nespresso sustentaram boa parte do avanço no trimestre, com destaque para o crescimento de dois dígitos da marca na América do Norte, impulsionado pelo e-commerce.
A Zona Europa também registrou o melhor desempenho regional, com ganhos de elasticidade e recomposição de participação de mercado.
As divisões de bebidas em pó e líquidas, Nespresso e confeitaria formaram o bloco mais forte, impulsionado por preços firmes e demanda resiliente — especialmente nos formatos premium.
Lácteos e sorvetes, apesar de um avanço mais moderado, também contribuíram: a companhia associa o desempenho à alta liderada por preço em produtos lácteos ambiente e ao bom volume dos creamers de café.
Já PetCare e pratos preparados nos Estados Unidos não tiveram o mesmo fôlego, afetados pela queda das vendas de congelados. A região da Grande China seguiu como o principal peso negativo do trimestre.
Além dos números, Navratil dedicou parte considerável da apresentação à mudança estrutural que pretende acelerar. Ele descreveu um modelo baseado em plataformas estratégicas de consumo, inovação escalável e execução disciplinada — uma tentativa de abandonar apostas isoladas e migrar para projetos globais replicáveis.
O CEO citou o pipeline de inovações em café gelado como exemplo, ressaltando que o formato deve ser expandido para Nescafé, Starbucks e Nespresso no curto prazo.
O executivo frisou que a empresa precisa “ser a melhor marketeira da indústria”, algo que, segundo ele, exige elevar capacidades internas, ajustar arquitetura de preço e embalagem e investir mais em sabor, qualidade e formatos que dialoguem com novos hábitos. A ampliação das capacidades digitais também foi classificada como prioritária.
Sobre os 18 “subperformers”, a companhia evitou citar nomes além de Gerber, mencionada por Manz como “uma das mais teimosas” na recuperação.
Juntas, essas unidades representam 20% das vendas globais, o que explica a pressão para destravar resultados. Navratil relatou que os investimentos já melhoraram o grupo: de um ritmo de -2,5% para estabilidade. Excluindo a China, a melhora chega a 1,5%. As áreas prioritárias, por comparação, saltaram de 7% para 14%.
A mensagem final de Navratil aos investidores foi direta: existe progresso, mas ele não acontece na velocidade necessária. A promessa é detalhar, nos resultados anuais de fevereiro, a nova arquitetura de marketing que sustentará o próximo ciclo de crescimento da multinacional.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy Reporter






