O Noroeste do Rio Grande do Sul se tornou oficialmente a principal região produtora de leite do Brasil, de acordo com dados do Anuário Leite 2025, elaborado pela Texto Comunicação e publicado pela Embrapa Gado de Leite, com sede em Juiz de Fora (MG). Com uma produção anual de 2,72 bilhões de litros, a região superou o Oeste Catarinense (2,42 bilhões) e o Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (2,35 bilhões), consolidando sua força na pecuária leiteira nacional.
Os dados, fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e referem-se ao ano de 2023, apontam que o Noroeste gaúcho representa 7,71% de toda a produção nacional. Esse desempenho reforça o papel estratégico da região na cadeia leiteira do país.
Menos produtores, mais volume
Para o diretor financeiro da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Nacir Penz, o protagonismo regional deve ser visto com cautela. “Há uma discussão sobre isso, pois os dados podem variar conforme a metodologia adotada, mas o Noroeste está, indiscutivelmente, entre os maiores produtores do Brasil”, afirma.
Penz destaca ainda o fenômeno do adensamento produtivo: menos produtores ativos, mas com maior capacidade de produção. Esse movimento foi confirmado no Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite, publicado pela Emater-RS/Ascar, que indica uma redução de 60,90% no número de estabelecimentos leiteiros no estado entre 2003 e 2023.
Ao mesmo tempo, a participação de propriedades com produção diária inferior a 150 litros caiu, enquanto aumentou a presença de fazendas com maior escala. “Foi o leite que assegurou o pagamento dos primeiros boletos, que eram os da energia elétrica”, relembra Penz, enfatizando o papel social e econômico da atividade para as pequenas propriedades da região de colonização europeia.
Minas Gerais ainda lidera entre os estados
Apesar da liderança regional do Noroeste gaúcho, Minas Gerais segue no topo entre as unidades federativas. O estado produziu 9,42 bilhões de litros em 2023, o que equivale a 26,63% da produção brasileira. Em seguida vêm Paraná (4,55 bilhões de litros – 12,88%) e Rio Grande do Sul (4,11 bilhões – 11,63%).
No entanto, tanto o Paraná quanto o Rio Grande do Sul registraram queda na produção em relação ao ano anterior — tendência observada em diversas outras UFs. Já a produção nacional, como um todo, cresceu 2,38% em 2023, totalizando 35,37 bilhões de litros frente aos 34,55 bilhões registrados em 2022.
Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Goiás foram responsáveis por 68,63% de todo o leite produzido no país.
De volta ao mapa leiteiro
A comparação com os dados de 2003 revela mudanças importantes na geografia do leite no Brasil. Há vinte anos, o Triângulo Mineiro liderava o ranking regional, seguido justamente pelo Noroeste Gaúcho e o Sul Goiano. O retorno da região sul-rio-grandense ao topo demonstra resiliência, mas também levanta alertas quanto à sustentabilidade do setor diante da redução do número de produtores.
Mais que uma disputa por rankings, o relatório evidencia um setor em transformação, onde a eficiência e o ganho de escala se tornaram imperativos — muitas vezes, à custa dos pequenos produtores.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Rádio Alto Uruguai