A partir de 1 de fevereiro de 2024, entrará em vigor no Brasil uma regra que afectará as centrais leiteiras que processam leite importado, principalmente da Argentina e do Uruguai.
O lobby dos produtores brasileiros é importante, tendo exigido medidas políticas para limitar a entrada de produtos lácteos da Argentina e do Uruguai.
O lobby dos produtores brasileiros é importante, tendo exigido medidas políticas para limitar a entrada de produtos lácteos da Argentina e do Uruguai.
O Decreto brasileiro 11.732 altera o regime de crédito presumido dos tributos PIS e COFINS, contribuições sociais que financiam a seguridade social e o programa de integração social e de formação do patrimônio do servidor público.

De acordo com o decreto, as indústrias que adquirem leite in natura diretamente dos produtores e que produzem laticínios exclusivamente a partir do leite nacional terão direito a um crédito presumido de 50% dos tributos PIS e COFINS, enquanto as que utilizam leite importado ou derivados lácteos importados terão um crédito de apenas 20%.

Isso significa que as indústrias que utilizam leite importado pagarão mais impostos do que as que utilizam leite nacional, o que aumentará o custo dos produtos fabricados com leite estrangeiro.

O objetivo dessa medida é estimular a produção nacional de leite e proteger os produtores brasileiros da concorrência dos países vizinhos, que têm custos de produção mais baixos e se beneficiaram da desvalorização de suas moedas em relação ao real.

Além disso, o decreto busca incentivar a adesão ao programa Mais Leite Saudável, que é uma iniciativa do governo para melhorar a qualidade e a produtividade do leite brasileiro, por meio da implementação de boas práticas agropecuárias, controle sanitário, assistência técnica e capacitação dos produtores.

O Decreto 11.732 faz parte de uma série de ações que o governo brasileiro tem tomado para defender o mercado interno de lácteos, que tem sofrido forte pressão das importações nos últimos anos.

Entre outras medidas, destaca-se a suspensão temporária da aplicação da tarifa externa comum do MERCOSUL para leite em pó, queijo e manteiga, permitindo que o Brasil aplique uma tarifa de 42% sobre esses produtos, em vez dos 28% que vigoram no bloco.

Além disso, foram intensificadas as fiscalizações sanitárias e aduaneiras dos produtos lácteos que entram no país para verificar o cumprimento das normas técnicas e evitar fraudes e contrabando. Isso já foi sentido esta manhã na alfândega, disse um exportador ao eDairyNews.com

Estas medidas tiveram um impacto no comércio de produtos lácteos entre o Brasil e os seus parceiros do MERCOSUL, especialmente a Argentina e o Uruguai, que são os principais fornecedores de leite e produtos lácteos para o gigante sul-americano.

Apesar destas restrições, o Brasil continua a ser um mercado atrativo e estratégico para os países exportadores de produtos lácteos, uma vez que não consegue satisfazer a sua procura interna com a sua própria produção.

Segundo o analista brasileiro Valter Galán, sócio da Agripoint Consultoria, as importações de lácteos em 2024 cairão 3% em relação a 2023, mas continuarão competitivas, razão pela qual a importação de leite em pó continuará a ser interessante para o seu país.

Galán estima que a produção brasileira de leite cairá 1% em 2024, devido à baixa rentabilidade dos produtores, aos elevados custos dos factores de produção, à redução do número de vacas em produção e ao fenómeno meteorológico El Niño, que afecta a disponibilidade e a qualidade das forragens.

A medida, por enquanto, abrange o leite fluido, mas, mais cedo ou mais tarde, terá impacto no comércio de leite em pó integral, que é o principal produto lácteo que o Brasil importa da Argentina e do Uruguai.

Segundo a OCLA, entre janeiro e agosto de 2023, o Brasil importou 159,4 mil toneladas de leite em pó, mais que o dobro das 64,4 mil toneladas compradas no mesmo período de 2022. Desse total, 54% vieram da Argentina e 43% do Uruguai.

O lobby dos produtores brasileiros é importante e tem exigido medidas políticas para limitar a entrada de produtos lácteos da Argentina e do Uruguai, cujos volumes em 2023 foram suficientes para baixar o preço do seu próprio leite e colocar a produção local em cheque.

De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o preço médio pago aos produtores de leite no Brasil caiu 6,7% em 2023, enquanto o custo de produção aumentou 23,9%, gerando uma perda de rentabilidade e uma crise no sector.

Os empresários do setor leiteiro da Argentina e do Uruguai devem estar atentos às possíveis consequências do decreto 11.732 e às oportunidades e desafios que o mercado brasileiro apresentará.

Terão de procurar melhorar a sua competitividade, diversificar os seus mercados, acrescentar valor aos seus produtos e cumprir os requisitos sanitários e de qualidade do Brasil; e não perder a sua procura insatisfeita de produtos lácteos, a complementaridade sazonal da produção, a proximidade geográfica e a integração regional do MERCOSUL.

 

Valéria Hamann

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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