A busca por alimentos mais ricos em proteína ganhou novo impulso. Segundo reportagem da NutraIngredients, “uma montanha de proteína em pó com colher de medida em fundo branco” representa visualmente o fenômeno da “proteinificação” — isto é, a inserção proteica em praticamente todos os tipos de alimentos.
O conceito, levado por empresas alimentícias e marcas de suplementos, vai além de shakes e barras de whey. Refrigerantes, chips, massas, cafés proteicos e até sobremesas já carregam esse apelo funcional — uma virada significativa na estratégia de inovação do setor.
O que é “proteinificação” — e por que explodiu agora
Nos últimos anos, os consumidores — especialmente nos EUA — passaram a exigir alimentos que unissem sabor, praticidade e funcionalidade nutricional. A proteína, vista há décadas como pilar de dietas atléticas, conquistou status de “ingrediente saudável” que pode elevar qualquer produto.
Dados da SPINS mostraram que produtos com 20 g ou mais de proteína tiveram crescimento muito robusto dentro de categorias como snacks ou bebidas. Também se nota que barras e bebidas estão crescendo mais rápido que os pós, sinalizando que os consumidores preferem formatos prontos para consumo.
Empresas como a Arla Foods Ingredients têm até apresentado conceitos como refrigerantes com proteína (10 g e sem açúcar) para responder ao movimento “better-for-you”. E gigantes como Starbucks introduziram lattes com adição proteica, para atender essa demanda.
Exemplos práticos: proteína em alimentos inesperados
- Snacks salgados: chips e puffs com apelo proteico — há casos que promovem 10-15 g de proteína por porção.
- Bebidas: cafés RTD ou bebidas lácteas enriquecidas com proteína viraram alvo de marcas inovadoras.
- Massas/cerais: cereais tradicionais foram reposicionados como “versões proteicas” com o dobro de proteína.
- Sobremesas: sorvetes, bolos e cookies com apelo proteico já são presença regular em prateleiras.
Mesmo alimentos que antes jamais passariam por essa transformação agora exibem no rótulo frases como “alta proteína”.
Limites e críticas: proteína demais pode enganar
Apesar da empolgação, especialistas alertam que nem todo produto “proteico” é saudável. Muitos rótulos destacam a proteína, mas escondem altos teores de sódio, gorduras saturadas, açúcares ou ingredientes ultraprocessados.
O professor Darin Detwiler adverte: “Se o produto parece um salgadinho, mas ostenta ‘15g de proteína’, ainda pode estar carregado de gordura e sal. O rótulo apenas tecnicamente está correto”.
Além disso, consumir proteína em excesso — especialmente em forma isolada — pode gerar sobrecarga renal ou desbalancear a alimentação se deslocar outros nutrientes. Também há críticas de que essa tendência é, em parte, um truque de marketing: “colocar proteína” para dar ao produto um “halo” de saúde, mesmo quando o alimento centralmente continua ultra processado.
O que isso representa para o setor lácteo — e para o Brasil
Para produtores lácteos, a “proteinificação” representa oportunidade e desafio.
- O soro de leite (whey), subproduto da indústria que já foi visto como resíduo, hoje é matéria-prima valiosa para fórmulas proteicas. Isso agrega valor à cadeia leiteira.
- Por outro lado, em mercados como o Brasil, será preciso adaptar produtos tradicionais (iogurtes, bebidas lácteas, queijos funcionais) à competitividade do novo apelo proteico.
- Há espaço para inovação local: combinações de proteínas vegetais e lácteas, rotulagem clara, apelo regional.
No Brasil, onde o leite tem tradição e identidade cultural forte, essa tendência pode ser adaptada com honestidade: destacar o valor protéico natural dos laticínios, sem empurrar “proteína extra” artificial em produtos de baixa qualidade.
Considerações finais
A “proteinificação” é um movimento marcante no setor alimentício mundial. Produtos que ontem competiam por sabor ou preço, hoje competem por gramas de proteína na embalagem. Marcas, consumidores e reguladores devem acompanhar com olhar crítico — o apelo funcional é forte, mas não basta: é preciso que o alimento continue sendo bom alimento.
Para o Brasil e o setor lácteo, essa tendência pode significar inovação e valorização da proteína natural do leite — desde que bem feita, transparente e com base ética editorial e de rotulagem.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy Reporter