Neste primeiro episódio da série de reportagens sobre a cadeia leiteira, você vai entender a realidade atual dos produtores e quais os desafios para continuar na atividade

Neste primeiro episódio da série de reportagens sobre a cadeia leiteira, você vai entender a realidade atual dos produtores e quais os desafios para continuar na atividade

O Mercado & Companhia apresentou nesta segunda-feira, 5, a primeira reportagem da série O Futuro do Leite no Brasil. Serão cinco reportagens especiais que vão abordar as principais dificuldades da atividade, como remuneração, investimentos em tecnologia e manejo, mercado nacional e internacional. No primeiro capítulo, vamos mostrar o atual momento da atividade no Brasil.

Presente em 99% dos municípios brasileiros, a pecuária de leite é uma das atividades mais tradicionais e importantes para a segurança alimentar de um país. Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, o leite é responsável por fortalecer a economia dessas cidades. “É um produto que tem uma importância econômica e social muito grande para o país. Nós temos que valorizar isso cada vez mais”, disse.

Mas, na prática, não é isso que vem acontecendo. Um dos principais itens da nossa alimentação recentemente foi jogado aos porcos em Mato Grosso, pela baixa remuneração oferecida pelo mercado.

“Quando a gente estava aqui produzindo 4 mil litros de leite por dia com 120 vacas, com 3 ordenhas por dia, a gente tinha 7 funcionários com carteira assinada trabalhando, hoje estamos meu pai e eu trabalhando e mais um casal de funcionários, apenas”, disse.

Abandono da atividade

Muitos outros não resistiram e abandonaram a atividade. Entre 2006 e 2017, o número de pecuaristas de leite no país caiu 13%, saindo de 1,350 milhão para 1,176 milhão. No Rio Grande do Sul, a redução foi ainda maior, mais do que a metade.

“A cada ano nós estamos diminuindo o número de produtores. Nós já tivemos aqui 130 mil produtores de leite. Hoje nós temos aqui 55 mil produtores”, disse o presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva.

O grande gargalo do setor é o custo de produção elevado, como explica o produtor Roberto Jank, de São Paulo. “Basicamente o que aconteceu é que o câmbio aumentou 60% a 70%, com isso os preços das commodities subiram de 80% a 100% em dólares na bolsa de Chicago. Então, nós temos dois efeitos danosos nos custos e um efeito ruim na renda do consumidor, porque quem ganhava em reais continua ganhando a mesma coisa em reais ou menos, mais recebe muito menos em dólares”, disse.

Autossuficiência

Apesar de todas as dificuldades, a produção brasileira de leite cresceu 139% entre 1990 e 2019. Passando de 14,48 para 34.84 bilhões de litros ao ano.

Esse crescimento fez com que o Brasil se tornasse autossuficiente na produção de leite e não precisasse mais importar. Mas aí veio a recessão econômica entre 2015 e 2017, depois a pandemia do novo coronavírus, quando a demanda despencou. Nesse período, o consumo de leite no Brasil caiu de 175 para 160 litros por pessoa ao ano, o que representa 3.3 bilhões de litros por ano a menos. Sobrou leite no mercado interno com custo de produção alto e sem mercado de exportação.

“Os dois principais itens de custo de produção de leite são milho e soja, que são itens muito relacionados ao mercado internacional e,portanto, à cotação cambial. Então, o produtor de leite vende em reais, mas o custo dele é praticamente 100% em dólares”, disse Valter Galan, sócio da Agripoint Consultoria.

Com esses desafios, o produtor Joel Dalcin diz que tem que fazer malabarismo para não trabalhar no vermelho. “Nós aqui estamos trabalhando com um custo de R$ 1.85 pelo litro do leite. E a gente vem recebendo em torno de R$ 2 o litro”, disse.

Na outra ponta dessa cadeia, o consumidor também reclama do preço pago pelo litro, por conta da retração da economia no país.

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