Saiba como ter uma propriedade que une os cuidados com o meio ambiente e a sociedade sem esquecer dos lucros
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Prêmio Fazenda Sustentável reconhece propriedades rurais anualmente — Foto: Canva/ Creative Commoms

A preocupação constante com o meio ambiente por causa, principalmente, do aquecimento global e das mudanças climáticas, fez o conceito de fazenda sustentável ganhar cada vez mais força e destaque no setor agropecuário brasileiro. Mas afinal, o que é preciso para ter uma?

De primeira, é comum pensar apenas na relação com o meio ambiente, mas outros fatores são fundamentais em um projeto sustentável, que alia três pilares: o ambiente, a sociedade e a economia.

Ou seja, uma fazenda sustentável nada mais é do que uma propriedade agrícola que produz e lucra aplicando estratégias capazes de diminuir o impacto ambiental e promover benefícios à sociedade.

Alexandre Berndt, pesquisador e chefe-geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Pecuária Sudeste) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Zootecnia, diz que o conceito funciona apenas se todos os valores estiverem equiparados.

“Quem está no vermelho, não pensa no verde”

“Isso porque se o produtor tem prejuízo, ele não consegue se sustentar economicamente e ainda tem problemas sociais com os empregados, não terá, com certeza, uma atenção plena para o aspecto ambiental. É preciso harmonia e equilíbrio”, defende.

Com o passar do tempo, o setor agropecuário ficou mais sensível às causas ambientais. E, apesar do pilar econômico ser o mais forte, a pressão dos consumidores ajuda a fortalecer a importância do cuidado com o meio-ambiente.

No ramo da importação, o pesquisador cita a importância da rastreabilidade. “Se um grande frigorífico compra carne de uma área de desmatamento, o cliente na Europa, na China ou no Oriente Médio vai reclamar. Eles já não querem produtos de áreas irregulares. A demanda vem de todos os lados e obriga mudanças”, garante.

Como projetar uma fazenda sustentável?

O projeto de fazenda sustentável pode ser aplicado em qualquer propriedade, independente do tamanho, cultivos, criações e biomas.

O produtor rural pode optar por aplicar seus próprios conhecimentos ou contar com a ajuda de um agrônomo especializado em sustentabilidade para desenvolver um projeto mais rebuscado, que considere as características do solo, do bioma, da região e do mercado. Veja alguns exemplos do que fazer:

  • Implantação de tecnologias para melhor eficiência;
  • Uso de adubação verde;
  • Preservação de áreas permanentes;
  • Ter zelo pelo bem-estar de todos os envolvidos;
  • Evitar desperdício;
  • Uso de energias renováveis;
  • Uso consciente dos recursos naturais;
  • Técnicas de regeneração do solo;
  • Realizar rotação de culturas;
  • Fazer o descarte correto de resíduos;
  • Fazer balanço de carbono.

Como exemplo, o especialista da Embrapa cita o projeto Balde Cheio, responsável por levar conhecimento às propriedades e desenvolver o setor da pecuária por meio da transferência de tecnologia há mais de 25 anos.

“Quando o produtor passa por dificuldades econômicas e busca soluções para sustentar a família, ele não está atento ao lado ambiental, porque existem demandas mais urgentes. O básico é a introdução de práticas simples, de fácil adesão e baixo custo”, explica.

O manejo de pastagem através do conhecimento de lotação, adubação e calagem são algumas práticas que podem ser implementadas para aumentar a produtividade e a renda. A expansão dos negócios traz também benefícios sociais, já que abre espaço para novas contratações.

“Quando há a resolução completa dos problemas envolvendo a economia e a sociedade, a atenção volta-se à parte ambiental, facilitando a adoção de novas técnicas”, reforça Bernt.

Fazendas sustentáveis podem usar agrotóxicos?

Sim! A sustentabilidade, palavra que sintetiza a harmonia entre o homem, a natureza e a atividade econômica, não proíbe a utilização de defensivos agrícolas. No entanto, a recomendação para o projeto de fazenda sustentável é seguir as indicações técnicas.

“Parece óbvio dizer isso, mas muita gente utiliza os produtos de forma errada, aplica mais e não respeita a carência. Os defensivos são um conjunto de tecnologias importantes para o sistema de produção, mas devem ser usados com critério”, finaliza Alexandre Bernd.

No Brasil, os sistemas de integração entre a lavoura e a pecuária usam herbicidas, por exemplo, no fim do ciclo da pastagem, período que antecede a próxima safra. Por isso, é comum que criadores de gado utilizem produtos para formar a palhada sobre a terra morta. Assim, faz-se o plantio direto. Entre os benefícios estão o controle de plantas daninhas, a ciclagem de nutrientes e a evaporação da água.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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