A start-up canadense Opalia está mais próxima de tornar os laticínios celulares uma realidade comercial.
Com foco em desenvolver queijos, sorvetes e outros produtos sem o uso de vacas, a empresa firmou uma parceria de dois anos com a fornecedora de ingredientes Hoogwegt, visando escalar seu conceito experimental e testar o desempenho do leite celular em diferentes aplicações, antes de buscar a aprovação regulatória, segundo declarou a cofundadora Jennifer Cote.
O processo da Opalia envolve o cultivo de células mamárias, replicando condições similares à gestação bovina. Com o uso de prolactina, as células são estimuladas a lactar em ambiente de laboratório, produzindo leite que contém proteínas, gorduras e lactose, exatamente como o leite tradicional.
A empresa afirma que sua tecnologia patenteada é 65–70% mais eficiente em termos energéticos e gera menores emissões de gases de efeito estufa, beneficiando-se da eletricidade hidrelétrica abundante em Quebec.
Ao explicar a escolha pelo leite celular, Cote disse: “Inicialmente consideramos a fermentação de precisão, mas percebemos cedo que queríamos produzir toda a gama de produtos lácteos, e não apenas uma proteína isolada. Com a complexidade do leite, a única forma de replicá-lo integralmente era usando células bovinas”.
Diferente de outras iniciativas no setor de laticínios celulares, que costumam focar em fórmulas infantis, a Opalia busca criar produtos alimentícios completos, como queijo, iogurte e sorvete, em escala comercial.
“Nosso foco é colocar o processo em funcionamento e reduzir ao máximo o custo de produção. Já somos 65–70% mais eficientes que a agricultura tradicional em termos de emissões de gases e energia”, acrescentou Cote.
O acordo com a Hoogwegt tem duração prevista até 2027 e se concentra em pesquisa e desenvolvimento, com a empresa fornecendo expertise para testar a aplicação do leite celular em diferentes produtos lácteos e definir especificações técnicas detalhadas.
Cote destacou que a fase atual é crucial: “Precisamos passar do nível de bancada para um volume piloto real, entregar conforme o acordo comercial com a Hoogwegt e validar que conseguimos escalar de forma competitiva.”
A regulamentação representa um desafio adicional. Produtos de laticínios celulares ainda não possuem normas consolidadas, embora a experiência com carnes celulares ofereça algum caminho.
Cote explicou: “Acreditamos que será mais fácil regulamentar laticínios que carnes celulares, já que o consumidor não ingere a célula em si, mas o subproduto. A ausência de material genético no produto final facilita a caracterização do leite”.
Alguns países já estão criando sandboxes regulatórios para alimentos cultivados em laboratório, como Reino Unido e Suíça, mas a União Europeia ainda apresenta barreiras políticas.
No Canadá, porém, Cote afirma que os reguladores demonstram curiosidade e abertura: “Tivemos múltiplas conversas, e eles estão ansiosos para receber nossas submissões. Não esperamos enfrentar barreiras aqui”.
Questões de rotulagem também estão sendo analisadas. A start-up considera a possibilidade de utilizar um nome diferenciado de “leite” para garantir transparência aos consumidores e evitar confusões, especialmente para pessoas com alergias ou restrições alimentares, sem prever resistência da indústria tradicional até o momento.
Atualmente em fase pré-receita, a Opalia busca investidores para expandir a capacidade comercial e transformar o leite celular em produtos de mercado. Com a parceria com Hoogwegt, a empresa espera demonstrar que é possível produzir laticínios sustentáveis e competitivos sem vacas, abrindo caminho para uma alternativa ambientalmente mais eficiente ao leite convencional.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Dairy Reporter