A ordenha robotizada aplicada em sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) está transformando a produção leiteira no Brasil.
Desde 2021, a Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), conduz um projeto inédito no país que combina inovação tecnológica, bem-estar animal e ganhos econômicos no manejo a pasto com árvores.
De acordo com André Novo, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa, Marco Aurélio Bergamaschi, chefe Administrativo, e a pesquisadora Teresa Alves, a iniciativa busca reduzir a dependência de mão de obra, ampliar a escala produtiva e aumentar a eficiência, adaptando uma tecnologia tradicionalmente usada em sistemas confinados para o ambiente ILPF.
Desafios para adaptar o robô ao pasto
A instalação exigiu planejamento detalhado para garantir que vacas, robô e infraestrutura funcionassem de forma integrada.
Foi preciso definir o posicionamento do equipamento, criar corredores de acesso e áreas de sombra. “Essa adaptação foi inédita no Brasil, pois exigiu repensar toda a logística de circulação das vacas”, explica Novo.
O custo inicial elevado e a necessidade de uma infraestrutura específica também representaram desafios. Além disso, houve a adaptação comportamental dos animais e da equipe.
Na ordenha robotizada, as vacas se dirigem voluntariamente ao equipamento, atraídas por incentivos como ração e água. O treinamento começou com o robô desligado, até que, em cerca de um mês, todo o rebanho passou a se ordenhar de forma autônoma.
Para os funcionários, o novo método exigiu capacitação e mudança de mentalidade, migrando de um processo manual e rígido para um modelo automatizado e mais flexível.
Benefícios técnicos e operacionais
O sistema robotizado permite controle rigoroso da produção e da saúde do rebanho, registrando dados como volume produzido por quarto da glândula mamária, tempo de ordenha, frequência de visitas e qualidade do leite, incluindo a contagem de células somáticas — indicador-chave no combate à mastite.
Segundo Teresa Alves, essas informações possibilitam decisões precisas, como ajustes na dieta, avaliação de eficiência reprodutiva e identificação de animais de baixo desempenho. Isso facilita o descarte e a reposição por novilhas mais produtivas.
Outro diferencial é o respeito ao ritmo natural do animal. Cada vaca é ordenhada quando deseja, e cada quarto da glândula mamária recebe tratamento individualizado, evitando sobre ordenha e favorecendo a saúde do úbere.
O sistema também separa automaticamente o leite de animais em tratamento ou recém-paridos, elevando a segurança alimentar e a qualidade do produto final.
Impactos na mão de obra e bem-estar
Para Marco Bergamaschi, a automatização libera os funcionários para outras atividades e reduz o esforço físico exigido pela ordenha manual. “A mudança melhora o bem-estar dos trabalhadores e otimiza o uso do tempo na propriedade”, afirma.
A flexibilidade de horários também é um ganho, já que a ordenha robotizada elimina a necessidade de horários fixos, permitindo maior organização das rotinas da fazenda.
Viabilidade econômica e retorno
O alto custo inicial ainda é o principal entrave para a adoção em larga escala. Para auxiliar os produtores, a Embrapa desenvolveu uma planilha que calcula o retorno do investimento com base em dados específicos de cada propriedade.
Segundo André Novo, apesar do investimento significativo, os benefícios incluem redução de gastos com mão de obra, menor incidência de mastite, aumento do valor do leite no mercado e prolongamento da vida produtiva das vacas. “O retorno financeiro ocorre, em média, entre seis e dez anos, dependendo da escala e do manejo”, explica.
Um modelo para o futuro
O projeto da Embrapa Pecuária Sudeste demonstra que a tecnologia pode ser aliada do sistema de produção a pasto no Brasil, conciliando produtividade, sustentabilidade e bem-estar animal.
A ordenha robotizada em pastagem integrada pode se tornar um modelo de referência para produtores que buscam eficiência e qualidade, especialmente em regiões onde o custo de mão de obra e as demandas de mercado exigem soluções inovadoras.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de O Presente Rural e dados complementares da Embrapa.