ESPMEXENGBRAIND
4 ago 2025
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A obsessão por whey protein nos EUA converteu o antigo lixo do soro do leite em fonte de renda estratégica para queijarias familiares.
Whey protein. Palmeira das Missões transforma soro em WPC, replicando estratégias americanas para gerar valor agregado.
Palmeira das Missões transforma soro em WPC, replicando estratégias americanas para gerar valor agregado.

Whey protein virou protagonista de uma revolução silenciosa, mas impactante, na indústria de laticínios dos Estados Unidos.

O que antes era apenas um subproduto incômodo — o soro do leite — agora é a principal fonte de lucro para queijarias como a Nasonville Dairy, em Wisconsin.

Nos últimos anos, a busca por dietas com alto teor proteico, intensificada pelo uso de medicamentos como Ozempic, elevou o valor da proteína no mercado americano.

Essa demanda crescente transformou o soro em commodity: enquanto as vendas de queijos tradicionais mal cobrem custos, é o whey protein que mantém as contas das pequenas empresas em dia.

De resíduo ambiental a ativo estratégico

No passado, o soro era frequentemente despejado no meio ambiente ou usado como ração animal, representando um passivo ambiental significativo.

Estudos mostram que o Brasil, por exemplo, gerava milhões de toneladas de soro por ano e somente metade era aproveitada de forma produtiva. Nos EUA, porém, essa realidade mudou.

A Nasonville produz cerca de 150.000 libras de queijo por dia (aproximadamente 68 toneladas), mas os lucros vêm mesmo do soro — filtrado e concentrado até chegar a um extrato com cerca de 65 % de proteína — que é vendido principalmente para fabricantes de suplementos.

Esses produtores, em vez de montarem sua própria infraestrutura de secagem por spray — um investimento milionário que nem sempre faz sentido para empresas menores — vendem o soro líquido para empresas como Actus Nutrition, que convertem tudo em pó de alto valor nutricional.

Um mercado global em plena expansão

O mercado global de proteína em pó está estimado em cerca de US 28,8 bilhões em 2025, e espera-se que alcance quase US 60 bilhões até 2035, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) em torno de 7,5 %.

O segmento de whey protein representa aproximadamente 48 % desse mercado total em 2025, confirmando seu protagonismo.

Já entre os suplementos destinados ao consumo humano, os de origem animal — onde o whey lidera — devem dominar quase 62 % do mercado em 2025, especialmente no segmento esportivo, com participações significativas provenientes dos EUA.

Dados de outros relatórios também apontam que o mercado global de whey saltou dos US 9,85 bilhões em 2024 para cerca de US 11,1 bilhões em 2025, e chegaria a US 17,6 bilhões em 2029, com CAGR de 12,2 %.

Outra estimativa indica crescimento de US 12,35 bi em 2024 para US 13,45 bi em 2025 e quase US 26,7 bi em 2033 (CAGR ~8,95 %).

Impacto direto nas queijarias familiares

O caso da Nasonville Dairy evidencia como o whey protein virou o principal pilar financeiro para queijarias menores. Segundo Ken Heiman, mestre queijeiro e CEO da empresa: “Devíamos agradecer às pessoas que compram whey protein no Aldi” — a rede varejista europeia que comercializa o pó derivado do soro.

Ele reforça que, sem essa demanda, manter a operação seria mais difícil.

Nos EUA, onde mais de 200 plantas processam soro e produzem quase um quarto dos derivados globais (700 mil toneladas em 2016), o país continua líder mundial na exportação do ingrediente, com produtos que variam de 12 % até mais de 90 % de proteína por peso seco, segundo padrões exigentes da FDA e USDA.

O reflexo no Brasil e oportunidades locais

O sucesso nos EUA já desperta iniciativas no Brasil. Um exemplo é o grupo de laticínios em Marau (RS), que integrou um projeto liderado pela Whey do Brasil, com inauguração marcada para junho de 2025. A fábrica em

Palmeira das Missões transforma soro em WPC (whey protein concentrate), replicando estratégias americanas para gerar valor agregado.

No Brasil, estima-se que apenas 50 a 60 % do soro seja aproveitado, restando ainda um excesso subutilizado que pode ser convertido em proteína de alto valor se houver investimento e tecnologia. A chegada de infraestruturas como a Whey do Brasil poderá replicar o modelo das queijarias americanas e transformar resíduos em lucro.

Conclusão

A obsessão americana por whey protein mudou profundamente o setor de laticínios: o soro do leite deixou de ser problema ambiental e virou estratégia de negócio.

O impulso dado por dietas proteicas, academias, tendências como Keto e medicamentos como Ozempic incrementou a demanda e transformou o mercado.

Para o Brasil, este movimento é uma oportunidade real: com tecnologia, parcerias e projetos que aproveitem o soro, o país pode transformar essa matéria-prima em suplemento de valor global — e potencialmente replicar o sucesso rentável observado nos EUA.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Money Report

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