Whey protein virou protagonista de uma revolução silenciosa, mas impactante, na indústria de laticínios dos Estados Unidos.
O que antes era apenas um subproduto incômodo — o soro do leite — agora é a principal fonte de lucro para queijarias como a Nasonville Dairy, em Wisconsin.
Nos últimos anos, a busca por dietas com alto teor proteico, intensificada pelo uso de medicamentos como Ozempic, elevou o valor da proteína no mercado americano.
Essa demanda crescente transformou o soro em commodity: enquanto as vendas de queijos tradicionais mal cobrem custos, é o whey protein que mantém as contas das pequenas empresas em dia.
De resíduo ambiental a ativo estratégico
No passado, o soro era frequentemente despejado no meio ambiente ou usado como ração animal, representando um passivo ambiental significativo.
Estudos mostram que o Brasil, por exemplo, gerava milhões de toneladas de soro por ano e somente metade era aproveitada de forma produtiva. Nos EUA, porém, essa realidade mudou.
A Nasonville produz cerca de 150.000 libras de queijo por dia (aproximadamente 68 toneladas), mas os lucros vêm mesmo do soro — filtrado e concentrado até chegar a um extrato com cerca de 65 % de proteína — que é vendido principalmente para fabricantes de suplementos.
Esses produtores, em vez de montarem sua própria infraestrutura de secagem por spray — um investimento milionário que nem sempre faz sentido para empresas menores — vendem o soro líquido para empresas como Actus Nutrition, que convertem tudo em pó de alto valor nutricional.
Um mercado global em plena expansão
O mercado global de proteína em pó está estimado em cerca de US 28,8 bilhões em 2025, e espera-se que alcance quase US 60 bilhões até 2035, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) em torno de 7,5 %.
O segmento de whey protein representa aproximadamente 48 % desse mercado total em 2025, confirmando seu protagonismo.
Já entre os suplementos destinados ao consumo humano, os de origem animal — onde o whey lidera — devem dominar quase 62 % do mercado em 2025, especialmente no segmento esportivo, com participações significativas provenientes dos EUA.
Dados de outros relatórios também apontam que o mercado global de whey saltou dos US 9,85 bilhões em 2024 para cerca de US 11,1 bilhões em 2025, e chegaria a US 17,6 bilhões em 2029, com CAGR de 12,2 %.
Outra estimativa indica crescimento de US 12,35 bi em 2024 para US 13,45 bi em 2025 e quase US 26,7 bi em 2033 (CAGR ~8,95 %).
Impacto direto nas queijarias familiares
O caso da Nasonville Dairy evidencia como o whey protein virou o principal pilar financeiro para queijarias menores. Segundo Ken Heiman, mestre queijeiro e CEO da empresa: “Devíamos agradecer às pessoas que compram whey protein no Aldi” — a rede varejista europeia que comercializa o pó derivado do soro.
Ele reforça que, sem essa demanda, manter a operação seria mais difícil.
Nos EUA, onde mais de 200 plantas processam soro e produzem quase um quarto dos derivados globais (700 mil toneladas em 2016), o país continua líder mundial na exportação do ingrediente, com produtos que variam de 12 % até mais de 90 % de proteína por peso seco, segundo padrões exigentes da FDA e USDA.
O reflexo no Brasil e oportunidades locais
O sucesso nos EUA já desperta iniciativas no Brasil. Um exemplo é o grupo de laticínios em Marau (RS), que integrou um projeto liderado pela Whey do Brasil, com inauguração marcada para junho de 2025. A fábrica em
Palmeira das Missões transforma soro em WPC (whey protein concentrate), replicando estratégias americanas para gerar valor agregado.
No Brasil, estima-se que apenas 50 a 60 % do soro seja aproveitado, restando ainda um excesso subutilizado que pode ser convertido em proteína de alto valor se houver investimento e tecnologia. A chegada de infraestruturas como a Whey do Brasil poderá replicar o modelo das queijarias americanas e transformar resíduos em lucro.
Conclusão
A obsessão americana por whey protein mudou profundamente o setor de laticínios: o soro do leite deixou de ser problema ambiental e virou estratégia de negócio.
O impulso dado por dietas proteicas, academias, tendências como Keto e medicamentos como Ozempic incrementou a demanda e transformou o mercado.
Para o Brasil, este movimento é uma oportunidade real: com tecnologia, parcerias e projetos que aproveitem o soro, o país pode transformar essa matéria-prima em suplemento de valor global — e potencialmente replicar o sucesso rentável observado nos EUA.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Money Report