–Isso nunca aconteceu aqui na propriedade. A única coisa que nós suspeitamos que possa ter influenciado é que antes tínhamos só um reprodutor, depois passamos a ter mais um para substituir aquele primeiro. Mas não sei se é por isso – afirma.
A família tem cerca de 30 vacas da raça Jersey e trabalha com gado leiteiro desde 2008.
O veterinário João da Luz, que atua no escritório da Emater de Vacaria e cuja área de atuação também abrange Monte Belo do Sul, explica que o nascimento de gêmeos em bovinos já tem uma probabilidade de loteria, ainda mais com três casos em dois meses.
– É raríssimo, é como ganhar na Mega-Sena – compara.
O especialista explica que não há nenhum manejo conhecido que possa ser feito em bovinos para aumentar as chances de gêmeos nascerem. Diferentemente de outras espécies, como as ovelhas, em que há raças mais suscetíveis e as taxas de nascimento de gêmeos podem inclusive ser ampliadas por meio de técnicas que incluem um controle específico da alimentação dos animais.
– Nos bovinos, a reprodução é uma função de luxo. A vaca só reproduz quando está bem, bem nutrida e todas as outras necessidades do corpo dela estão satisfeitas, incluindo a produção de leite. A partir daí ela começa a se reproduzir. Agora, exatamente o que levou a esse fenômeno é coisa para pesquisa, para a academia ir atrás, para ver se tem alguma característica ambiental ou nutricional que tenha influenciado – comenta.
Em relação às três vacas de Monte Belo do Sul que deram à luz gêmeos, poderia se tratar de uma característica genética. Mas o que também chama atenção é que elas não têm parentesco. Uma das vacas apenas nasceu na propriedade, enquanto as outras foram adquiridas em outros municípios.
– Olha, uma explicação que eu posso dar, é que eu pedi para Deus multiplicar. E eu acho que ele me ouviu – comemora Adriana Viccari, 33 anos, filha de Irineu.
O especialista da Emater observa também que a raça Jersey como um todo tem poucas variações de linhagem genética.
– Hoje, a genética que temos aqui no Brasil, em geral, é a norte-americana e canadense. Os touros Jersey, a maioria deles descende de dois ou três touros. Isso no mundo inteiro, diferentemente do gado holandês. Pode ser que algum touro de inseminação, desses reprodutores, tenha transmitido uma característica para que esses gêmeos nascessem, mas aí é uma baita de uma coincidência – analisa.
Ainda conforme Luz, no caso da filhote fêmea que é gêmea com um macho, esta será estéril, um fenômeno que ocorre durante o desenvolvimento dos embriões. Ela também não poderá dar leite, mas pode ser eventualmente abatida para carne. Os demais bezerros, em princípio, têm características normais.
– A raça Jersey é uma exceção entre as leiteiras, porque a carne também tem boa qualidade –afirma o veterinário.
Antes de introduzir o gado leiteiro, a família Viccari produzia uvas na propriedade. A mudança veio porque, segundo Irineu, eles tiveram problemas de saúde que atribuíram ao fato de só comprar leite de caixinha no mercado. Segundo o produtor rural, a esposa e a filha dele foram ao médico, que perguntou por que não tiravam o leite na propriedade, já que eram agricultores. A partir daí, a família começou a adquirir vacas e acabou substituindo toda a produção de uvas na propriedade pela criação do gado leiteiro. O leite produzido é vendido para uma fábrica em Garibaldi.
– Fomos eliminando as parreiras porque mão de obra não se tem mais, e não conseguimos mais dar conta – explica.
Conforme Luz, de 15% a 20% dos criadores de gado leiteiro da região trabalham com a raça Jersey. Os demais trabalham com a vaca holandesa.
As diferenças entre elas, segundo o veterinário, são que cada vaca holandesa produz mais leite individualmente, mas também consome mais pasto. Para ilustrar, ele compara a produção e o consumo de pasto de duas vacas holandesas ao de três vacas da raça Jersey como sendo equivalentes e ocupando uma mesma área. Mas, segundo Luz, o leite das vacas Jersey tem mais qualidade porque tem mais gordura e proteínas.