Com capacitação técnica e tecnologia, produtores retomam a produção do cereal, que é muito abaixo da demanda no Estado

Com capacitação técnica e tecnologia, produtores retomam a produção do cereal, que é muito abaixo da demanda no Estado

POR ALANA FRAGA, DE RECIFE (PE)

Após anos sem plantar milho, o pecuarista de gado de leite e produtor de cana-de-açúcar Álvaro Jorge Carrazzone, do município de Itambé, norte de Pernambuco, conseguiu, mesmo com uma estiagem, colher 96 sacas do grão por hectare, numa área experimental que plantou no ano passado. Uma produtividade alta comparada à média do Estado (10 sacas/ha), que é altamente dependente da compra de milho de vizinhos como a Bahia e Sergipe.

“A gente já tinha plantado milho há muito tempo atrás, mas não vínhamos mais plantando pela dificuldade de maquinário, de tecnologia”, conta o pecuarista, que consome cerca de 15 mil quilos de milho todo mês para a alimentação do plantel.

Para ele, reduzir a dependência da compra do grão é fator crucial para aumentar a rentabilidade. “A gente compra milho de Sergipe, da Bahia e pela Conab, onde temos uma cota para tirar. O preço da Conab hoje não está competitivo: se eu produzir hoje meu milho, meu custo sai muito mais competitivo”, conta o produtor. Hoje, para produzir uma saca, o produtor gasta em torno de R$ 33, enquanto que na Conab, o preço da saca do grão está sendo vendida a R$ 42, além do custo com o frete.

Assim como Carrazzone, mais de 300 criadores e agricultores pernambucanos já receberam capacitação e apoio com insumos do programa Prospera Corteva Agriscience – Divisão Agrícola da DowDuPont -, que visa incentivar pequenos produtores e da agricultura familiar a promover o desenvolvimento por meio do acesso ao conhecimento técnico de melhores práticas de manejo e tecnologias para o aumento da produtividade.

Nesta semana, a Corteva realizou uma nova capacitação para produtores, estudantes e profissionais de agronomia na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife, onde montará um novo campo experimental para a realização dos dias de campo. “Os alunos da universidade são aqueles que, no futuro, estarão no campo para entender os  desafios dos produtores e trazer as melhores soluções de forma sustentável para o desenvolvimento da cultura do milho na região, assim como estimular o empreendedorismo rural. É importante que estejam devidamente capacitados”, ressalta o gestor do programa, Alexsandro Mastropaulo.

No ano passado, o programa atingiu a meta de colher, em média, mais de 80 sacas/ha, quando a produtividade média de milho no Estado é de 10 sacas/ha. Através do programa Prospera, a Corteva visualizou no Estado a possibilidade de criar uma nova região de produção de milho que atenda a demanda e, no futuro, até exportar o seu excedente.

O programa Prospera identificou a dificuldade de pecuaristas em terem acesso a alimento para o gado leiteiro e apostou na capacitação para que os próprios criadores invistam no plantio de milho. Em Pernambuco, segundo levantamento da empresa, a saca de milho chega a ser vendida a R$ 60 na Ceasa, enquanto em outros estados, é comercializada a uma média de R$ 38. Além disso, Pernambuco tem uma alta demanda pelo grão para atender a bacia leiteira, as granjas de frango e suínos e as indústrias de cerveja presentes no Estado.

“Tem uma cadeia produtiva em que a demanda é muito alta e a oferta é muito baixa, que vem da indústria aviária de corte, que não consegue capitar grão aqui e vão capitar em outros estados, as industrias cervejeiras, que já chegaram a buscar milho até na Argentina”, acrescenta.

De acordo com Mastropaulo, Pernambuco tem uma demanda mensal de mais de um milhão de sacas de grãos. Ainda que o Estado consiga produzir o suficiente para suprir isso, não teria problema para escoar o excedente local de produção, pela vantagem do Porto de Suape, apto para a exportação de grãos. “A perspectiva e potencial para a cultura do milho no estado é muito grande. Tem que existir tecnologia e vontade dos envolvidos na produção, sejam pesquisadores, estudantes de agronomia e produtores, para desenvolver a cadeia produtiva”, ressalta.

Na gestão de risco, ainda que haja uma seca que inviabilize a produção de grãos, é possível ainda ter renda produzindo silagem.

Prospera

Os produtores que ingressam no programa recebem os insumos como sementes, agroquímicos e fertilizantes gratuitamente da empresa, participam das aulas práticas para otimizarem as atividades e a mecanização terceirizada é ainda terceirizada pela Corteva. Ao final da colheita, eles ainda recebem assistência técnica para fazer a comercialização do grão e, ao receberem pela venda, pagam o custo das operações de mecanização que foram terceirizadas.

“A gente entende que o produtor deve participar de 3 a 4 anos do programa conosco. Nesse período, ele vai receber treinamento em sala de aula, monitoramento no campo so que, no terceiro ano, até o momento entendemos que ele tem condições de ter a independência dele, buscando linhas de financiamento de crédito por programas como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), com até R$ 25 mil de crédito com juros de 0,5% ao ano. Ele já plantou, já recebeu a assistência para fazer o plantio, mas ele tem que ter independência dele, utilizar recursos dele para conseguir dar continuidade”, explica Mastropaulo.

Dificuldades

A topografia acidentada que impede que mais de 60% dos produtores realizem o plantio mecanizado de milho no Estado é mais uma das dificuldades encontradas. Com muitas áreas tomadas pela produção de cana há décadas e períodos de estiagens recorrentes, o solo e o clima são fatores fundamentais para obter o sucesso na rentabilidade do milho.

“Nenhum solo é totalmente impróprio para o plantio, porque tudo depende do manejo e o uso de tecnologias. Não se faz um plantio direto aqui ainda. Aqui faz e se faz bem feito o convencional, mas precisamos pensar num futuro de uma agricultura conservacionista, com menor revolvimento de solo”, comenta a líder técnica do programa, Claudete Baumgratz.

Ela cita, como exemplo, a região do oeste baiano, no município de Luís Eduardo Magalhães, onde o solo é basicamente composto de areia fina ou grossa e há seca todos os anos, e ainda nessas condições são colhidas cerca de 180 sacas por hectare.

O Estado de Sergipe, iniciado há mais tempo com a introdução de tecnologias de milho na agricultura de pequeno porte, já conta com aproximadamente 250 mil hectares do grão híbrido.

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