Cerca de 32 mil produtores estão envolvidos na produção de leite no estado

RONDÔNIA – Uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Rondônia e parceiros está contribuindo para a melhoria da qualidade do leite produzido no Estado. Além dos estudos em si, um dos fatores que contribui para o sucesso é a realização de oficinas com produtores e técnicos para o retorno dos resultados das análises de leite. Esta estratégia tem motivado a adoção de práticas que favorece a melhoria do produto final, neste caso, o leite e derivados que chegam à mesa do consumidor.

É a chamada pesquisa aplicada, ou seja, que gera informação para a ação, conforme explica Juliana Dias, pesquisadora da Embrapa, que é responsável pela pesquisa “Caracterização epidemiológica dos indicadores higiênico-sanitários do leite cru como ferramenta para a melhoria da qualidade do leite”, que está sendo realizada desde novembro de 2016.  “Observamos que a evolução do trabalho, junto aos produtores e indústria, tem gerado conscientização da importância de adotar boas práticas e de avaliar a logística de resfriamento para que se tenha um leite de boa qualidade”, garante. “O retorno dos resultados e a apresentação das boas práticas aos produtores auxiliam o entendimento sobre a importância de produzir leite com qualidade e que seja seguro para ofertar ao consumidor”, continua.

A pesquisadora destaca que cada elo da cadeia é importante, mas ressalta a importância da obtenção do leite em condições adequadas, pois a qualidade da matéria prima não melhora depois do processamento. “Não é possível alterar a qualidade do leite na indústria, se a matéria prima não tiver qualidade. A matéria prima na unidade de produção tem que ser obtida seguindo as práticas adequadas para que na indústria seja produzido um derivado de boa qualidade”, ressalta. “Por isso a conscientização sobre boas práticas de ordenha exige esforço das instituições de assistência técnica, de pesquisa, das universidades, para que as informações possam chegar até o produtor”, acrescenta.

Em Rondônia, cerca de 32 mil produtores estão envolvidos na produção de leite o que remete à importância socioeconômica da atividade no estado. Atualmente há várias instituições comprometidas com o desenvolvimento da cadeia produtiva, e que tem interesse em informações sobre a qualidade do leite e, assim, auxiliar na definição de estratégias para melhoria da produção. Como exemplo, a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia (Fapero) e a Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri) que financiam este projeto que está sendo desenvolvido pela Embrapa, no valor de R$ 474, 101,00 mil, por meio da chamada 04/2016 – PAP/INTEC-LQL. “Hoje a pesquisa está sendo executada por meio de chamada da Fapero, e tem objetivos que envolvem a estruturação do laboratório, aquisição de equipamentos e de amostras de calibração, participação em ensaios de proficiência e realização de estudos para avaliar a situação da qualidade do leite nas principais microrregiões produtoras do leite no estado visando subsidiar ações e estratégias para melhoria da qualidade da matéria prima”, explana Juliana.

O Laboratório de Qualidade do Leite de Rondônia (LQL RO) atua no escopo da pesquisa realizando análises de amostras de leite cru como, Contagem Padrão em Placas, Contagem de Células Somáticas e componentes do leite. O laboratório participa de ensaios de comparação interlaboratorial, com outros laboratórios que participam da Rede Brasileira de Laboratórios de Qualidade do Leite (RBQL), que contempla os laboratórios de qualidade do leite no país e é coordenado pelo Ministério da Agricultura. “Desde 2014 o LQL RO é avaliado quanto à proficiência das análises, para que dentro desse contexto – a questão estruturante – o laboratório possa oferecer resultados confiáveis e com credibilidade”, afiança. “Num outro ponto também há formação dos recursos humanos especializados para atuar o laboratório em pesquisas de qualidade do leite e também a capacitação de técnicos para procedimentos de coleta de amostras de leite e em boas práticas de ordenha e controle da mastite”, continua.

ATIVIDADES DE CAMPO

Juliana Dias explica que para o desenvolvimento da pesquisa é de fundamental importância as atividades de campo, na qual são definidas estratégias para realizar a coleta de amostras de leite. “Como o leite é perecível e requer uma série de cuidados, é necessário apoio de uma rede de colaboração que inclui instituições como Emater, Idaron e industrias lácteas para que possamos chegar até o produtor. Os resultados dos trabalhos de pesquisa são discutidos e apresentados para a sociedade em forma de palestras, cursos, oficinas, artigos técnicos e científicos”, detalha.

Atualmente todos os municípios de Rondônia produzem leite. A microrregião de Ji-Paraná é a maior produtora do Estado e também onde se concentra o maior parque industrial, seguida das microrregiões de Porto Velho, Cacoal e Ariquemes. “Com o projeto financiado pela Fapero, avaliamos a qualidade do leite produzido nas quatro maiores regiões do estado. Considerando a realidade de Rondônia, o projeto tem como objetivos avaliar os indicadores de qualidade do leite e fatores associados à baixa qualidade em produtores vinculados a agroindústrias familiares e à industrias com Serviço de Inspeção Federal (SIF). Os resultados obtidos fornecem informações para subsidiar produtores, técnicos na definição das ações para melhoria da qualidade do leite. Em industrias com SIF, a pesquisa envolve a análise espacial dos indicadores de qualidade do leite que identifica áreas de altas contagens de bactérias mostrando para a indústria onde deve ser priorizada as ações. Foi uma estratégia que observamos dentro da pesquisa para sensibilizar e auxiliar a indústria com ferramentas epidemiológicas e utilizando os resultados para dar suporte à tomada de decisão”.

A pesquisadora também destaca a importância socioeconômica da cadeia produtiva do leite para o Estado, tendo em vista que a produção de leite de Rondônia é de característica familiar, em que a média de produção é de cerca de 50 litros por propriedade/dia.

“São fundamentais ações voltadas para o aumento da produção como manejo de pastagem, sanidade dos animais, melhoramento genético e gestão para que o produtor possa ter retorno do seu sistema produtivo”, esclarece Juliana Dias.

As normas para a cadeia produtiva do leite em vigor visam definir diretrizes para a produção de leite com qualidade. O atendimento aos padrões de qualidade do leite cru se torna fundamental para que os produtores sejam competitivos e possam permanecer na atividade. “Esse é um ponto importante e temos que ter essa responsabilidade. Neste sentido, os resultados podem subsidiar a tomada de decisão de diferentes elos da cadeia produtiva e de instituições ligadas ao setor”, destaca.

ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO

A qualidade do leite é definida por parâmetros como a contagem bacteriana do leite, que indica a higiene do processo de ordenha, as condições de resfriamento e armazenamento, e a contagem de células somáticas que reflete a condição da sanidade da glândula mamária. As atividades do projeto identificam a frequência destes indicadores, apresentando como está a situação do leite produzido no Estado. “Para o leite cru, que não foi processado, existe uma instrução normativa que define o processo, desde os procedimentos de ordenha, tempo de resfriamento e conservação do leite no tanque, e tempo para captação do leite pela Indústria”, explica.

Como exemplo, Juliana Dias relata que estudos realizados em algumas microrregiões do estado, identificaram pontos críticos relacionados à baixa qualidade do leite. “O estudo epidemiológico avalia a frequência dos indicadores de qualidade do leite e se a presença de determinado tipo de manejo ou característica da propriedade pode estar associada a baixa qualidade do leite. Os fatores de risco associados a qualidade do leite podem diferir entre regiões”, diz.

Ela relata que no estudo realizado na microrregião de Ji-Paraná, observou–se áreas de alta contagem de bactérias, na região central da bacia leiteira, indicando que esta área deve ser priorizada em ações para melhoria da qualidade do leite. “Observamos que nas áreas de alta contagem de bactérias havia a presença de intermediários na entrega do leite do produtor até o tanque coletivo”, detalha.

Em Rondônia há uma característica em que 90% do leite resfriado é armazenado em tanques coletivos, ou seja, um local onde mais de um produtor inclui o leite para o resfriamento. Nas entrevistas com os produtores foi observado que a presença de intermediários aumentava o tempo de entrega do leite no tanque de resfriamento e que havia falhas na higienização dos latões. “Com essa informação, orientamos as indústrias e demonstramos a importância de conhecer os pontos críticos e definir estratégias para redução da distância entre o produtor e o tanque de resfriamento, já que a atuação deles indicava um fator de risco para altas contagens de bactérias”.

Juliana explica que foram definidas e avaliadas em projeto realizado no laboratório práticas simples para reduzir a contagem de bactérias durante a ordenha em propriedades com diferentes sistemas de ordenha e produção de leite. “O que estamos trabalhando no momento é a divulgação dessas boas práticas, como forma de contribuir junto aos produtores, com informações para a redução da contagem bacteriana da matéria prima na unidade de produção. Nas oficinas de retorno dos resultados das análises de leite aos produtores, discutimos sobre a importância de adoção de boas práticas e seu impacto na redução da contaminação. A recepção dos produtores ao trabalho de campo é muito boa, recebem muito bem toda a equipe e se disponibilizam a participar”, comemora.

Oficina para transfer%C3%AAncia de tecnologias e boas pr%C3%A1ticas Foto Renata Silva

Durante a execução do projeto foram realizadas 10 treinamentos em procedimentos de coleta de amostras de leite, quatro cursos para técnicos sobre Qualidade do Leite e Controle da Mastite, sete oficinas para produtores e 14 palestras.

Juliana Alves Dias, Pesquisadora, D.Sc., Sanidade Animal – Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual de Londrina (2001), mestrado em Ciência Animal pela Universidade Estadual de Londrina (2003) e doutorado em Ciência Animal pela Universidade Estadual de Londrina (2008). Tem experiência em Medicina Veterinária Preventiva, com ênfase em epidemiologia de doenças infecciosas de animais de produção. Pesquisadora A na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Rondônia) atuando em epidemiologia das infecções intramamárias e qualidade do leite. Pesquisador Responsável pelo Laboratório de Qualidade do Leite na Embrapa Rondônia.

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