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7 set 2025
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A pirâmide alimentar, usada por décadas como referência de saúde, nasceu sob forte influência da indústria, segundo aponta a nutricionista Keila Geremia.
🍽️ O lobby por trás da pirâmide alimentar e seus impactos na saúde
🍽️ O lobby por trás da pirâmide alimentar e seus impactos na saúde.

Pirâmide alimentar: por décadas, esse modelo foi apresentado como símbolo da nutrição saudável em escolas, consultórios e campanhas públicas de saúde.

No entanto, um olhar mais atento revela que o famoso gráfico não foi construído apenas sobre bases científicas. De acordo com a nutricionista integrativa e palestrante Keila Geremia, a pirâmide nasceu sob forte influência de lobbies da indústria, pressões políticas e interesses econômicos, e não exclusivamente para promover a saúde da população.

A origem de um guia global

O primeiro modelo de pirâmide alimentar surgiu na Suécia em 1974, mas foi em 1992, nos Estados Unidos, que ganhou dimensão internacional.

Na época, o guia foi elaborado pelo Departamento de Agricultura (USDA), órgão responsável tanto por recomendar diretrizes alimentares como por representar os interesses da agricultura e da pecuária.

“Essa sobreposição de funções evidencia um conflito: quem definia o que a população deveria comer também precisava garantir o escoamento da produção agrícola”, explica Geremia.

O peso da indústria dos cereais

Não por acaso, a base da pirâmide foi composta por pães, massas, arroz e cereais, recomendando de 6 a 11 porções diárias. Nos anos 70 e 80, os Estados Unidos enfrentavam excesso de produção de trigo e outros grãos. Incentivar seu consumo, portanto, foi uma estratégia não apenas de saúde pública, mas também de política agrícola.

“O que parecia uma recomendação científica estava, em grande parte, atrelado à necessidade de equilibrar o mercado rural”, observa a nutricionista.

O lobby do leite e derivados

Outro destaque é o espaço reservado aos laticínios. Durante décadas, campanhas institucionais defenderam o leite como essencial para ossos fortes, apoiadas por associações de produtores que financiaram pesquisas e materiais educativos.

Para Geremia, esse movimento garantiu um papel privilegiado ao setor leiteiro dentro do guia nutricional. “Mais do que recomendações neutras, havia uma agenda econômica por trás”, afirma.

Açúcar: o vilão oculto

Talvez o episódio mais controverso tenha sido a atuação da indústria do açúcar. Desde os anos 1960, estudos já sugeriam a relação entre o consumo elevado de sacarose e doenças cardiovasculares.

Porém, conforme revelaram investigações históricas, pesquisas financiadas pela Sugar Research Foundation manipularam resultados para transferir a responsabilidade às gorduras.

Assim, a pirâmide acabou promovendo uma visão distorcida: gorduras foram tratadas como grandes inimigas da saúde, enquanto o açúcar recebeu menções discretas. Esse direcionamento, segundo especialistas, contribuiu para o avanço da obesidade e da diabetes em nível global.

Impactos na saúde pública

Seguindo essas recomendações, milhões de pessoas cresceram acreditando que o ideal era basear a dieta em carboidratos refinados, limitar gorduras — até mesmo as saudáveis, como azeite e oleaginosas — e incluir laticínios em todas as refeições.

As consequências, aponta Geremia, foram graves: aumento da síndrome metabólica, resistência à insulina, obesidade infantil e maior incidência de doenças cardiovasculares.

Modelos alternativos e atualizados

Nos últimos anos, a pirâmide alimentar vem sendo substituída por modelos mais atualizados. Entre eles, o Prato Saudável de Harvard ganhou destaque ao propor proporções equilibradas entre vegetais, proteínas de qualidade e gorduras boas, com menor espaço para carboidratos refinados.

Outra linha que cresce é a da alimentação anti-inflamatória, que valoriza alimentos integrais, azeite, abacate, castanhas e diversidade cultural na dieta.

Lições para o futuro

Para Geremia, a principal lição é compreender que nem sempre o que é divulgado como verdade científica está livre de influências econômicas.

“Precisamos buscar informação de qualidade, questionar fontes oficiais e lembrar que a saúde não pode ser definida por um gráfico padronizado”, alerta.

A história da pirâmide alimentar mostra como interesses políticos e de mercado impactaram gerações, moldando hábitos alimentares de forma duradoura.

O desafio atual é construir recomendações baseadas em evidências sólidas, respeitando a individualidade metabólica e a diversidade cultural.

*Adaptado para eDairyNews, com informações de Extraderondonia.com.br

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