Os produtos lácteos do Paraná estão perto de chegar ao maior mercado consumidor do mundo. No fim de julho, a China habilitou 24 estabelecimentos brasileiros,

Os produtos lácteos do Paraná estão perto de chegar ao maior mercado consumidor do mundo. No fim de julho, a China habilitou 24 estabelecimentos brasileiros, que se tornaram, então, aptos a exportar derivados de leite ao país asiático. Quatro plantas sediadas no Paraná estão nesta lista, o que, na avaliação de integrantes do setor, abre boas perspectivas ao Estado. Ao mesmo tempo, no entanto, líderes e empresários veem o movimento com cautela: mesmo com a oportunidade, é preciso que a cadeia produtiva se aprofunde em qualidade, para fazer frente a concorrentes internacionais.

Três das empresas habilitadas no Paraná ficam em Marechal Cândido Rondon, na região Oeste, e uma, em Rio Azul, no Sudeste. Entre os produtos que podem ser exportados pelos estabelecimentos do Paraná estão o leite condensado, soro de leite em pó, queijos e whey protein. Além do Paraná, os outros dois Estados na região Sul também tiverem estabelecimentos credenciados: seis no Rio Grande do Sul e dois em Santa Catarina (veja o infográfico na página 10).

Hoje, as exportações brasileiras de lácteos ainda não são significativas. Mas para os próximos anos, o mercado internacional é visto como uma meta indispensável e ponto estratégico para manter o equilíbrio da atividade. Isso porque as projeções apontam o aumento contínuo da produção. Segundo a Aliança Láctea Sul Brasileira, em menos de uma década, os três Estados da região Sul vão responder pela metade da oferta de leite no Brasil.

“Nossa produção é quase que exclusivamente voltada ao mercado interno. Com essa projeção de aumento da produção, temos que mirar o mercado externo para manter a atividade sustentável. É uma porta muito promissora que se abre. Agora, temos que fazer nosso dever de casa”, explica o coordenador-geral da Aliança Láctea Sul Brasileira, Airton Spies.

A ressalva nesse cenário fica por conta da força de concorrentes mundiais, como é o caso da Nova Zelândia, país reconhecido pela qualidade do leite produzido e que tem vantagens logísticas, como a proximidade com a China. Por isso, líderes do setor lácteo da região Sul do país apontam que o setor deve aproveitar essa janela internacional para investir em qualidade, organizando a cadeia de acordo com parâmetros nacionais (como as Instruções Normativas 76 e 77) e globais.

“A abertura do mercado chinês vem a corroborar essa tendência de que as exportações também sejam vistas como uma prioridade. É uma abertura que exige cautela, planejamento e adequação ao mercado internacional. Com certeza, o grande desafio do nosso setor para os próximos anos é se consolidar como um player internacional”, aponta Ronei Volpi, assessor técnico da FAEP e recém-indicado à presidência da Câmara Setorial do Leite, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “O setor leiteiro irá passar por um movimento semelhante ao que passou a avicultura, a suinocultura e a bovinocultura de corte”, completa.

Como trunfo, pesa nessa balanço o fato de as plantas paranaenses terem sido credenciadas para exportar produtos como leite condensado e leite em pó, em que os brasileiros conseguem se impor com competitividade. A expectativa é de que, assim que este canal se consolidar, haja um maior investimento em qualidade por parte das empresas sediadas no Estado.

“No caso do leite condensado, somos fortes porque temos boa oferta de leite, açúcar e embalagens. Com isso, ganhamos em custos”, exemplifica Volpi. “Com esse fluxo comercial estabelecido, o que se espera é um aporte principalmente no segmento do leite em pó”, avaliou.

Expectativa

Segundo o Mapa, o processo de habilitação dos estabelecimentos brasileiros para exportar para a China começou em 2007. Por causa da demora, muitas das empresas chegaram a engavetar projetos que haviam sido criados especificamente para chegar ao gigante asiático. Agora, a tônica entre as empresas é de retomada do planejamento e de observar o mercado com cautela. Por hora, os grupos habilitados evitam fazer projeções de exportações ou falar em aumento da captação, embora apontem como positiva a abertura chinesa.

Uma das habilitadas no Paraná, a Alibra, chegou a participar de feiras na China no ano passado e a identificar clientes que se interessaram por um dos produtos oferecidos pela empresa. Como não havia habilitação, a negociação não foi adiante. Todo este trabalho deve ser retomado, a partir de agora, pela empresa.

“Como não saía a habilitação, muitos projetos foram colocados em stand by. Agora, com o credenciamento, vamos retrabalhar este mercado, revendo todos esses contatos e voltando a fazer essa negociação”, diz a gerente de exportação da Alibra, Débora Lapa. “Mas não será uma venda imediata. Vamos ver como o mercado irá se comportar para definir as ações”, acrescenta.

Outra credenciada a exportar, a Frimesa tem como meta voltar 30% de sua produção ao mercado externo e, neste sentido, a China se apresenta como uma “grande oportunidade”. Por outro lado, o diretor-executivo do grupo, Elias Zydek, também adota um tom mais comedido ao comentar o impacto da abertura da janela para o mercado chinês.

“A partir da habilitação é que se iniciam os contatos comerciais para especificações dos produtos. Além dos procedimentos legais e comerciais, temos a questão da viabilidade dessas exportações”, avalia. “As perspectivas de volume e valores dependem da competitividade, principalmente em relação à Austrália e Nova Zelândia. A cautela ainda é grande em relação à viabilidade dessas exportações”, aponta.

A Sooro, outra habilitada, já exporta seus produtos para o Paraguai. A empresa espera utilizar essa experiência para acessar o maior mercado importador de lácteos do mundo. “A China, com uma modificação crescente nos hábitos alimentares, cada vez mais ocidentalizados, é um grande potencial para importar as proteínas concentradas, o soro e o permeado de soro. Nossa empresa busca, no momento, uma internacionalização no nosso portfólio de clientes, visando uma maior independência do mercado doméstico”, destaca Claudio Claudio Hausen de Souza, diretor comercial e supply chain da Sooro, localizada em Marechal Cândido Rondon. “Não temos como precisar [o início das exportações para China]. Mas iniciamos o processo imediatamente, e aguardamos os trâmites burocráticos, as licenças”.

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