Um vídeo gravado na Índia gerou forte indignação nas redes sociais ao mostrar um homem permitindo que sua filha bebê mamasse leite cru diretamente da teta de uma vaca.
A gravação, que se espalhou rapidamente em plataformas digitais, despertou uma onda de críticas e preocupações sobre saúde pública, práticas culturais e desinformação.
Segundo o portal NDTV, as autoridades indianas e especialistas em saúde classificaram a cena como perigosa e irresponsável, destacando que o leite não pasteurizado pode conter microrganismos patogênicos como Salmonella, Escherichia coli e Listeria monocytogenes.
Essas bactérias podem causar infecções graves, especialmente em bebês e crianças pequenas, cujo sistema imunológico ainda está em desenvolvimento.
Leite cru: um risco real para a saúde
O leite cru é aquele que não passou por nenhum processo de pasteurização — tratamento térmico essencial para eliminar micro-organismos nocivos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a amamentação materna é a forma mais segura e recomendada de alimentação para bebês nos primeiros meses de vida.
A pasteurização, técnica criada há mais de um século, é considerada um dos maiores avanços da história da alimentação moderna. Ao eliminar patógenos, ela garante que o leite e seus derivados sejam seguros para o consumo humano.
No caso do vídeo viral, o contato direto com a vaca representa ainda um risco adicional de contaminação cruzada, tanto pelo ambiente quanto pelo animal.
Tradição ou desinformação?
Nas redes sociais, alguns usuários tentaram justificar o ato como parte de costumes locais ou crenças antigas sobre a pureza do leite animal. No entanto, não há registros oficiais que indiquem que essa prática seja tradicional ou culturalmente aceita na Índia.
Médicos e nutricionistas locais reforçam que tal comportamento é isolado e não representa nenhuma crença religiosa ou costume comunitário.
Para o médico indiano Dr. Ramesh Gupta, citado pela NDTV, “a ideia de que o leite cru de vaca é mais puro ou nutritivo é um mito perigoso.
Nenhuma tradição justifica colocar a vida de uma criança em risco”. O profissional acrescentou que, além das bactérias, o leite cru pode conter resíduos de medicamentos veterinários ou pesticidas presentes no ambiente rural.
O papel das redes sociais
O episódio também expõe o impacto das plataformas digitais na propagação de comportamentos extremos. Muitas vezes, vídeos como este são compartilhados sem contexto, sendo romantizados como atos de fé, conexão com a natureza ou resistência cultural — mas, na prática, alimentam a desinformação.
A OMS alerta que o consumo de conteúdo não verificado pode levar famílias a adotar práticas perigosas, acreditando estarem fazendo algo “natural” ou “tradicional”. O caso reacende o debate sobre a responsabilidade das redes na moderação de vídeos que envolvem riscos sanitários e infantis.
A importância da informação e da educação alimentar
Autoridades de saúde da Índia reforçaram a necessidade de campanhas educativas sobre segurança alimentar e amamentação segura.
A Sociedade Indiana de Pediatria reiterou que a única forma recomendada de nutrição infantil é o leite materno ou, quando não possível, fórmulas industrializadas aprovadas por órgãos reguladores.
A pediatra Dr. Meena Rao, em entrevista à imprensa local, destacou:
“Precisamos combater a desinformação com ciência. O leite cru não é saudável, e a internet não deve ser fonte de orientação sobre a alimentação de bebês.”
Leite cru e o debate global
Embora o caso tenha ocorrido na Índia, a discussão sobre o consumo de leite cru é global. Em diversos países, movimentos que defendem a “alimentação natural” promovem o leite sem pasteurizar, alegando benefícios nutricionais — sem respaldo científico.
No Brasil, por exemplo, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) proíbe a venda direta de leite cru ao consumidor, justamente pelos riscos de contaminação.
Em um mundo cada vez mais conectado, episódios como este lembram a importância de unir tradição e ciência, garantindo que o respeito às culturas não coloque em risco a saúde pública.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Jornal Correio