A poluição no rio Capivari, que corta o município de São Bonifácio, na Grande Florianópolis, mobilizou moradores, autoridades e órgãos ambientais de Santa Catarina.
Denúncias feitas por residentes apontam que fábricas de laticínios estariam despejando soro de leite e produtos químicos no curso d’água, deixando-o com uma coloração branca, espuma espessa e forte odor, inviabilizando atividades como banho e pesca.
Denúncias cresceram desde 2023
De acordo com relatos encaminhados ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), os despejos têm ocorrido desde 2023 e teriam se intensificado ao longo do último ano. Um agricultor que vive às margens do rio contou que a situação afetou a rotina da comunidade:
“Até o ano passado nós tomávamos banho e pescávamos no rio. Agora o cheiro é de poluição, ficou inviável para isso”, relatou.
Investigação do Ministério Público
O MPSC instaurou, em 18 de agosto de 2025, uma notícia de fato para apurar as denúncias e cobrar medidas dos órgãos competentes. A principal suspeita recai sobre fábricas de laticínios instaladas na região. O objetivo é identificar as fontes poluidoras e garantir que sejam responsabilizadas conforme a legislação ambiental vigente.
Fiscalização em andamento
O Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) realizou uma vistoria no local em 22 de julho, acompanhado da Polícia Militar Ambiental. No entanto, a inspeção não conseguiu, naquele momento, identificar os pontos exatos de lançamento dos poluentes.
Apesar disso, o IMA confirmou ter detectado irregularidades e afirmou que notificará as empresas envolvidas, além de emitir um Auto de Infração Ambiental como medida preventiva.
“Foram constatadas não conformidades que exigem ação imediata. A notificação será acompanhada de medidas legais para cessar qualquer prática irregular”, informou o órgão em nota.
Posição da prefeitura
O prefeito de São Bonifácio, Saulo Buss (MDB), declarou que o município acompanha o caso e exige das indústrias a documentação ambiental prevista por lei. No entanto, ressaltou que a competência para a fiscalização direta não é da prefeitura.
“Nossa função é cobrar que as empresas estejam regularizadas. A fiscalização ambiental é uma atribuição estadual”, afirmou Buss.
Impacto ambiental e social
O rio Capivari tem importância histórica e econômica para São Bonifácio, sendo utilizado tradicionalmente para pesca, lazer e pequenas atividades agropecuárias. A alteração na cor da água e o forte odor têm causado preocupação entre os moradores, que relatam perdas na qualidade de vida e riscos para a fauna local.
Além do impacto ambiental, o episódio coloca em evidência a necessidade de adequação do setor de laticínios às normas de descarte de resíduos. O soro de leite, subproduto da produção de queijos e derivados, deve receber tratamento adequado antes de qualquer liberação no meio ambiente, conforme exigem as legislações federal e estadual.
Próximos passos
Com a instauração da notícia de fato pelo MPSC, a expectativa é de que as investigações avancem nas próximas semanas. O IMA deverá concluir os autos de infração e, se comprovada a responsabilidade, as empresas poderão sofrer penalidades que vão de multas a suspensão de atividades.
O Ministério Público informou que mantém diálogo com os órgãos ambientais e não descarta a adoção de medidas judiciais caso as providências administrativas não sejam suficientes para conter a poluição.
Reflexão para o setor
Este caso acende um alerta para o setor lácteo de Santa Catarina e do Brasil. A destinação inadequada de resíduos pode gerar danos ambientais, prejuízos econômicos e afetar a imagem das indústrias perante consumidores cada vez mais atentos às práticas sustentáveis.
Empresas que investem em gestão ambiental eficiente reduzem riscos de sanções e fortalecem sua posição no mercado.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Correio do Norte