Os preços dos derivados lácteos encerraram setembro em forte queda, registrando os menores patamares de 2025. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o cenário reflete uma combinação de aumento da oferta de leite cru e pressão sobre as indústrias por parte dos canais de distribuição.
De acordo com o Boletim de Leite Cepea, as retrações mensais, já descontada a inflação pelo IPCA, foram de 3,33% para o leite UHT, 2,08% para o queijo muçarela e 2,13% para o leite em pó. Com isso, as médias de setembro ficaram em R$ 4,26 por litro (UHT), R$ 31,29 por quilo (muçarela) e R$ 30,13 por quilo (leite em pó).
Oferta em alta, preços em baixa
O Cepea explica que a baixa foi impulsionada pelo aumento da disponibilidade de leite cru no campo, o que elevou a oferta às indústrias e reduziu o custo da matéria-prima. Essa situação, somada à pressão dos distribuidores e atacadistas, levou à desvalorização dos derivados no atacado.
Apesar dos preços mais baixos para a indústria, o comportamento do varejo foi diferente. As reduções ao consumidor final não acompanharam o ritmo da queda nas negociações entre fábricas e distribuidores. “Essa defasagem limita o escoamento da produção e mantém o consumo estável”, explicam os pesquisadores do Cepea.
O desequilíbrio entre oferta e demanda segue como fator central do cenário atual. Mesmo com preços mais acessíveis, o consumo de lácteos no Brasil não reagiu de forma significativa.
Outubro mantém a tendência de queda
Os dados preliminares de outubro reforçam a continuidade do movimento de retração. Na primeira quinzena do mês, o preço médio do leite UHT foi de R$ 4,12 por litro, uma queda de 3,7% frente a setembro. O valor da muçarela recuou 2,9% no mesmo período, acompanhando a desvalorização do leite cru.
Segundo o Cepea, não há expectativa de recuperação nas cotações até o fim de outubro, já que a pressão dos pontos de venda sobre as indústrias permanece intensa e a oferta de leite no campo continua elevada.
Um contraste marcante: mais leite, menos renda
O momento atual ilustra um contraste que afeta todo o setor: enquanto a produção avança, o valor recebido pelos produtores e indústrias diminui. Esse fenômeno, comum em períodos de alta disponibilidade de leite, pressiona margens e compromete investimentos.
O mercado brasileiro vive, assim, um dilema clássico do agronegócio: o sucesso produtivo que se transforma em fracasso financeiro temporário. Para o produtor, cada litro a mais pode significar menos rentabilidade.
Impactos para o consumidor e o setor
Embora o consumidor final ainda não perceba quedas expressivas nas gôndolas, o cenário pode mudar nas próximas semanas, caso o varejo decida repassar parte da redução observada no atacado.
Já para a indústria e as cooperativas, o desafio é administrar estoques e margens em um contexto de preços comprimidos. O levantamento do Cepea destaca que muitas empresas optaram por reduzir o ritmo de produção de derivados para equilibrar a oferta com a demanda efetiva.
O que esperar até o fim do ano
Com o avanço da safra leiteira e a temperatura mais amena em boa parte do país, a tendência é de manutenção dos preços baixos até o final de outubro. No entanto, o comportamento do consumo e eventuais mudanças no custo dos insumos — como milho e soja — poderão redefinir o quadro no último bimestre do ano.
Enquanto isso, o mercado acompanha atento os próximos movimentos da cadeia. Em um setor historicamente cíclico, a queda de hoje pode preparar o terreno para uma recuperação no verão, quando o consumo de lácteos tende a reagir.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de O Presente Rural
