O governo isentou de imposto a muçarela importada. O produto foi incluído em uma medida anunciada pelo Ministério da Economia, no dia 21 de março, para diversos produtos que, na visão do governo, têm impacto na inflação. A tarifa anterior para a importação desse queijo era de 28%. Com o produto importado mais barato, o preço da muçarela vai cair? O que muda com importação de queijo sem taxa?
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, o presidente da Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce, João Marques Pereira Neto, e o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), Fábio Scarcelli, dizem que a entrada do alimento importado pode até conter os preços do produto no curto prazo, mas o consumidor vai sair perdendo porque a oferta será prejudicada com o desestímulo ao produtor nacional.
“A isenção do imposto de importação pode gerar um impacto positivo no primeiro momento e uma expectativa no mercado, mas a muçarela não deve chegar mais barata ao consumidor final devido às dificuldades logísticas e aumento de fretes”, diz Pereira Neto. Ele acrescenta que é natural o preço estar mais alto agora por conta da entressafra do leite.
Segundo Borges, da Abraleite, as regiões Nordeste e Centro-Oeste, com destaque para Goiás, onde está a maior produção de muçarela, devem sofrer mais os impactos da isenção. Ele teme que outros produtos lácteos possam receber isenções futuras, o que “seria um desastre.”
Paulo Martins, ex-chefe geral da Embrapa Gado de Leite e pesquisador do setor há mais de 20 anos, diz que a medida, embora tenha o bom propósito de conter a inflação, só se justificaria se houvesse um processo especulativo no país ou algum oligopólio, o que não ocorre.
“O leite impacta muito a inflação dos alimentos e os governos historicamente buscam mecanismos para interferir no preço. A partir dos anos 90, não houve mais tabelamento, mas o governo insiste na interferência no mercado.”
O pesquisador lembra que a queda do dólar vai facilitar a entrada do produto importado e classifica a isenção como “altamente nefasta” para a cadeia, trazendo um efeito psicológico forte neste momento de desestímulo ao produtor. Segundo ele, o poder aquisitivo do consumidor está baixo e o preço do leite pago ao produtor só não está ainda menor devido à retração da oferta na virada do ano em função do pouco estímulo ao produtor e do clima, com seca e muito calor na região Sul e muita chuva no Brasil Central.
Martins destaca que o leite é o produto mais interiorizado do país e, entre as capitais, só não é produzido em São Paulo. “A produção de leite está entre as três atividades que mais geram renda e emprego na maioria das cidades brasileiras.”
Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), em 2021 foram importadas 16.043 toneladas de mussarela. A produção nacional sob inspeção federal SIF foi de aproximadamente 390 mil toneladas, de acordo com a Abiq. Mais de 90% do volume importado vem de países do Mercosul, que não pagam tarifa. A isenção abre caminho para o queijo vindo da Europa e especialmente dos Estados Unidos.