ESPMEXENGBRAIND
26 dez 2025
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⚠️ Abraleite fala em auge da crise do leite, enquanto analistas projetam recuperação lenta apenas em 2026.
🔍 Produção cresce até 8% em 2025, mas preço do leite recua e desafia a sustentabilidade do produtor.
🔍 Produção cresce até 8% em 2025, mas preço do leite recua e desafia a sustentabilidade do produtor.

O preço do leite viveu uma virada brusca em 2025 no Brasil e passou de um cenário de bonança, no fim de 2024, para um ambiente de forte deterioração das margens ao longo do ano, afetando diretamente o humor e a sustentabilidade econômica dos produtores. A combinação entre oferta elevada no mercado interno e importações ainda expressivas do Mercosul ajudou a empurrar as cotações para os níveis mais baixos desde o início de 2024.

Em um setor caracterizado por margens historicamente apertadas, variações de poucos centavos por litro são suficientes para transformar um ano positivo em um ciclo de perdas. Foi exatamente esse movimento que marcou 2025. Após uma rápida valorização no primeiro trimestre, o preço do leite iniciou uma trajetória contínua de queda a partir do segundo trimestre, aprofundando-se no segundo semestre.

Dados do Cepea/USP mostram que, em maio, o litro do leite pago ao produtor era comercializado, em média, a R$ 2,64. Em agosto, o valor já havia recuado para R$ 2,53. A deterioração se intensificou no último trimestre, com o preço atingindo R$ 2,29 em outubro — o patamar mais baixo desde o início de 2024, quando as cotações orbitavam pouco acima de R$ 2 por litro.

Segundo Geraldo Borges, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), o movimento de queda começou a se consolidar a partir de abril. De acordo com o dirigente, o primeiro trimestre ainda apresentou preços semelhantes aos observados em 2024, mas o cenário mudou rapidamente nos meses seguintes. Para Borges, o setor atravessa atualmente o ponto mais crítico do ciclo recente. Na avaliação dele, o momento supera, inclusive, a crise registrada em 2023, quando os preços chegaram a ficar abaixo de R$ 2 por litro.

A pressão sobre o preço do leite se espalhou por todo o território nacional. Os menores valores foram registrados em Santa Catarina, com média de R$ 2,20 por litro, seguidos por Rio Grande do Sul e Goiás, ambos com R$ 2,21. Já Minas Gerais e São Paulo apresentaram os preços mais elevados, com R$ 2,38 e R$ 2,41, respectivamente — ainda assim, bem abaixo dos níveis praticados no início do ano.

Para Juliana Pila, analista da Scot Consultoria, o principal vetor da crise está no forte crescimento da oferta. Segundo ela, a melhora das margens no fim de 2024 estimulou investimentos no campo, o que resultou em uma expansão mais acelerada da produção ao longo de 2025. Historicamente, a produção brasileira de leite vinha crescendo entre 2% e 3% ao ano na última década.

Em 2025, no entanto, os números avançaram de forma atípica. Dados do IBGE indicam que, até o terceiro trimestre, a produção cresceu cerca de 8%, saltando de 18,5 bilhões de litros no mesmo período de 2024 para 20,1 bilhões de litros neste ano. Esse aumento expressivo contribuiu diretamente para a pressão baixista sobre o preço do leite pago ao produtor.

A deterioração das margens acompanhou esse movimento. De acordo com cálculos da Scot Consultoria, a diferença entre o preço recebido pelo produtor e o índice de custos recuou 10,3 pontos percentuais em 2025 na comparação com o ano anterior.

Outro fator relevante foi o volume de importações de lácteos provenientes do Mercosul, especialmente da Argentina e do Uruguai. Embora o volume importado tenha sido 5,5% menor no acumulado de 2025 em relação a 2024, a quantidade segue elevada. Aproximadamente 75% desse volume corresponde a leite em pó, produto que compete diretamente com a produção nacional.

Na avaliação da Scot, a combinação entre produção crescente nos principais países exportadores e preços mais competitivos no mercado internacional manteve o fluxo de importações ativo. Relatório recente do Rabobank acrescenta que a valorização do real também contribuiu para sustentar as compras externas ao longo do ano.

Para a Abraleite, esse cenário gera desequilíbrios estruturais na cadeia. Borges argumenta que produtores, pequenos laticínios e cooperativas acabam sendo os mais prejudicados, já que não participam diretamente das operações de importação. O dirigente também critica a ausência de políticas de apoio à cadeia leiteira no Brasil, citando subsídios adotados por países concorrentes.

Diante do agravamento da crise, o governo federal retomou, em dezembro, as investigações sobre possíveis práticas de dumping nas exportações de leite da Argentina e do Uruguai. O processo, que havia sido iniciado no fim do ano passado e paralisado em agosto, deve ter uma decisão final em até 18 meses.

Para 2026, a expectativa do mercado é de uma recuperação lenta. Segundo a Scot Consultoria, alguma melhora no preço do leite pode surgir a partir do segundo bimestre, especialmente com uma possível redução da oferta no Sul do país. Os custos de produção, por sua vez, devem permanecer relativamente estáveis, o que pode aliviar parcialmente as margens.

O Rabobank projeta um crescimento “moderado” da produção brasileira de leite em 2026, influenciado por preços mais fracos no início do ano e por uma base de comparação elevada. Do lado da demanda, o banco avalia um cenário moderadamente positivo, sustentado por fatores macroeconômicos como cortes de juros, gastos públicos elevados e desemprego em níveis baixos, o que tende a manter o consumo de lácteos resiliente.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de AgFeed

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