A cadeia produtiva do leite no Tocantins entrou oficialmente em estado de alerta. Foi esse o tom que dominou a reunião articulada pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricultura e Pecuária (Seagro), com representantes de laticínios, entidades setoriais e órgãos parceiros. O encontro, realizado na sede da Seagro, em Palmas, nesta terça-feira, 19, colocou na mesma mesa quem produz, quem processa e quem regula — e todos chegaram à mesma conclusão: não há mais margem para empurrar o problema com a barriga.
Na avaliação da diretoria da Seagro, apresentada pelo diretor de Agricultura, Agronegócio e Pecuária, José Américo Vasconcelos, a situação exige respostas rápidas. Segundo ele, o próprio governo já recebeu uma lista de demandas prioritárias, construída pelo setor industrial e validada por representantes dos produtores. Entre os pontos destacados está a necessidade de um levantamento do Procon para mapear preços ao consumidor e identificar possíveis cobranças abusivas ao longo da cadeia. A medida busca trazer clareza ao mercado e pressionar por ajustes quando houver distorções entre o preço pago ao produtor e o repassado ao consumidor final.
Outro item que entrou com força na pauta é a redução do ICMS para laticínios estabelecidos no Estado. A indústria considera o imposto um dos gargalos que tiram competitividade da produção local diante de fornecedores de outros estados e até de produtos importados. A Seagro confirmou que a proposta será avaliada pela equipe econômica do governo, mas evitou antecipar posições.
A defesa de um novo pacto de responsabilidades também ganhou voz. De acordo com Vasconcelos, há expectativa de que os laticínios assumam parte dos custos operacionais para fortalecer a base produtiva, como investimentos em qualidade, resfriamento e assistência técnica. A lógica é simples: sem leite de melhor padrão, não há como competir nem abastecer de forma sustentável.
Da parte da indústria, o alerta soou mais alto na fala de Thiago Rodrigues, representante da Italac. Ele lembrou que, enquanto os custos continuam subindo, o preço recebido pelo produtor despencou de R$ 2,50 para R$ 1,70, uma queda superior a 30% em poucos meses. Rodrigues classificou o momento como “crítico e decisivo”, ressaltando que a parceria com o governo é essencial para impedir que a atividade deixe de ser viável. Segundo ele, “equilibrar o preço é condição mínima para evitar que produtores abandonem a atividade, o que comprometeria toda a estrutura industrial instalada”.
O setor empresarial também foi representado pelo presidente do Sindileite, Samuel Oliveira, que reforçou o caráter estratégico do encontro. Para ele, está em jogo não apenas a sobrevivência do produtor, mas a estabilidade de um segmento que contribui para o desenvolvimento econômico do Tocantins. Oliveira destacou que o debate atual deve resultar em um pacote de propostas formalizadas e encaminhadas ao governo. O objetivo é garantir que a cadeia produtiva do leite, considerada essencial para a economia regional, não perca terreno em um momento de forte concorrência entre estados.
A reunião também contou com representantes da Câmara Setorial do Leite, da Federação da Agricultura e Pecuária do Tocantins (Faet), da Secretaria da Fazenda e do Procon, além da presença do deputado estadual Luciano Oliveira, que acompanhou as demandas e se comprometeu a ajudar nas articulações políticas necessárias. A diversidade de instituições confirma a percepção de que o problema é sistêmico e exige ação coordenada.
Com o litro pago ao produtor em queda livre, a pauta ganhou um nível de urgência pouco comum. Há preocupação real de que a desmotivação no campo possa provocar redução de oferta já nos próximos meses, gerando um efeito dominó: plantas industriais operando abaixo da capacidade, perda de empregos e queda de arrecadação estadual. O cenário também pode abrir espaço para aumento da entrada de lácteos de outros estados ou até mesmo importados, pressionando ainda mais o produtor local — um velho fantasma que retorna sempre que o mercado entra em turbulência.
Agora, com a crise exposta de forma explícita, os próximos passos dependem da capacidade de articulação entre governo e setor privado. As entidades esperam que medidas emergenciais sejam anunciadas ainda neste fim de ano, permitindo que a cadeia produtiva recupere fôlego antes da virada da estação chuvosa, quando muitos produtores já enfrentam queda natural de produtividade.
Seja pela tributação, pelo preço pago ou pelo medo de perder competitividade, o Tocantins entendeu o recado: a hora de agir é agora.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Agência Tocantins






