As quedas dos preços dos derivados no atacado têm ocorrido primeiramente pelo período do ano, cujo consumo é mais fraco, além da ausência do auxílio emergencial, que dificulta a sustentação dos alto patamares históricos dessas cotações. Os spreads da indústria no leite UHT e na muçarela tiveram seu melhor momento em jun/20, quando os preços dos produtos lácteos reagiram bastante, sem a contrapartida da matéria prima. Porém, na medida em que o preço ao produtor escalou diante da disputa dos laticínios no mercado spot, a partir do início do segundo semestre, os spreads começaram a cair, terminando jan/21 bem mais acomodados. No caso do UHT, voltou a ficar bem abaixo da média desde 2012 e na muçarela muito próximo da média.
A maior necessidade da indústria e os altos preços internos também elevou as importações em 24,4% no ano passado. Segundo cálculos da Embrapa Gado de Leite, somente no segundo semestre, as compras mensais foram em média de 180 milhões de litros de leite equivalente, significando entre 8% e 9% do volume mensal produzido no país. Embora os preços internacionais de referência do leite em pó venham subindo bastante, a matéria prima brasileira, atualmente em USD 0,40/litro está bem superior ao da Argentina e Uruguai, próximos de USD 0,30/litro
O primeiro desafio da cadeia leiteira é a sustentação dos preços no atacado em meio ao cenário de incerteza do sucesso das vacinações e consequentemente da retomada econômica, num contexto de alto desemprego e sem o auxílio emergencial. Diante disso, é de se esperar que uma eventual fraqueza das vendas ao consumidor final possa ser transferida ao produtor. Entretanto, é improvável que essa transmissão de preços ocorra na mesma proporção da queda das cotações no atacado dado que esperamos um crescimento limitado da produção de leite esse ano. Caso isso ocorra, a disputa por leite deve dificultar a ampliação das margens da indústria.
Sob a ótica do produtor de leite, além da possível manutenção dos custos de ração bastante elevados, o desafio – que pode afetar toda a cadeia em médio prazo – é não reduzir o rebanho, dado que a atratividade da @ da vaca para abate está alta relativamente ao preço do leite. A coordenação dos objetivos na cadeia leiteira, que é bastante pulverizada, é sempre difícil mas as lições do passado com os altos e baixos, em geral ruim para todos, são sempre um bom guia.