Pela primeira vez no ano, o preço pago pelo litro de leite recuou em Minas Gerais. De acordo com os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em maio, referente à entrega feita em abril, a queda foi de 5,17%, com o preço médio líquido recebido pelo produtor encerrando o período em R$ 1,39. No mês, a redução foi atribuída ao menor consumo de lácteos em função do isolamento social para o controle do novo coronavírus e da queda da renda das famílias.

O recuo ocorre em um momento crítico para os produtores, que enfrentam o aumento do custo com o início da entressafra. Com a tendência de queda natural da produção e o desestímulo em função dos baixos preços, a estimativa é de que, neste mês, ocorra uma recuperação de parte da margem perdida no pagamento de maio.

De acordo com o analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Wallisson Lara, a queda na cotação do leite, em maio, ocorreu devido aos impactos da pandemia do novo coronavírus, que reduziu a demanda pelos produtos lácteos. Além do fechamento de várias atividades econômicas e a suspensão das aulas, o aumento do desemprego e a redução da renda das famílias também afetaram de forma negativa o consumo.

O Conselho Paritário entre Produtores de Leite e Indústrias de Laticínios (Conseleite), em Minas Gerais, também registrou uma tendência de queda de 5,5% ou R$ 0,08 no preço do leite padrão em maio, referente à produção entregue em abril. O litro do leite padrão, que serve de base para o produtor calcular o preço que irá receber, deve conter 3,3% de gordura, 3,1% de proteína, 400 mil células somáticas por mililitro, 100 mil unidades formadoras de colônias por mililitro e uma produção individual diária de até 160 litros.

“O mercado do leite tem sido marcado por fases. Na primeira fase, logo que se anunciou o isolamento, o mercado foi marcado por uma demanda elevada, com as pessoas estocando os produtos, principalmente o leite UHT e leite em pó. Já na segunda fase, tivemos uma redução do consumo pela menor renda da população, o que impactou de forma negativa a demanda das indústrias e, consequentemente, provocou a desvalorização do leite no campo”, destacou Lara.

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Na terceira fase, o pagamento do auxílio emergencial, feito pelo governo federal, e a retomada gradual das atividades que vem ocorrendo em Minas Gerais têm estimulado o consumo de lácteos, por isso, para junho, a tendência é de recuperação de parte da queda registrada nos preços em maio. A recuperação dos valores é considerada essencial para a manutenção dos pecuaristas na atividade leiteira.

Produção mais cara – Lara explica que, em relação ao mesmo período do ano passado, os custos de produção aumentaram cerca de 18%. Dentre os fatores que provocaram o avanço dos custos está a desvalorização do real frente ao dólar, o que encarece as commodities como o milho e a soja, que, neste período do ano, com a redução da oferta de pastagem, tornam-se essenciais para a alimentação dos bovinos.

“Estamos no início da entressafra, quando há uma queda natural da produção. Com o desestímulo devido aos preços baixos e os custos altos, a tendência, caso não haja recuperação dos preços, é de maior queda no volume de leite. Nestes primeiros dias de junho, já está havendo uma maior disputa entre as indústrias para a aquisição do leite e a estimativa, já que a oferta é menor, é de que os preços se recuperem em junho”.

Os dados do Cepea mostram que o Índice de Captação Leiteira (Icap-L) registrou queda de 0,6% de março para abril na média Brasil, que inclui Minas Gerais, e acumula baixa de 12,4% neste ano.

Consumidor não vê redução – Mesmo com a queda nos preços pagos aos produtores, a redução não tem chegado ao varejo. De acordo com Lara, a indústria encontra dificuldades de negociar junto ao mercado final.

“A queda nos preços do leite não chega ao varejo, que é soberano. As grandes redes que atuam no mercado ditam os preços. A indústria não tem força perante o varejo e o produtor muito menos. O Conseleite tem contribuído para que a gente tenha essa clareza e para entendermos que grande parte da margem tem ficado no varejo. É preciso união e cooperativismo para mudarmos este cenário”, explicou.