Segundo o Boletim do Cepea, o preço do litro do leite disparou 37% na indústria e consumidor já paga mais caro; Mas o produtor ainda segue com grandes dificuldades no campo!
A combinação de custos de produção em alta e redução da oferta de matéria-prima – resultado da guerra entre Rússia e Ucrânia e das altas nos preços internos de energia e frete – fez com que o preço do litro de leite alcançasse nas últimas semanas um patamar que tem espantado os consumidores. Segundo o Boletim do Cepea, o preço do litro do leite disparou 37% na indústria e consumidor já paga mais caro; Mas o produtor ainda segue com grandes dificuldades no campo!
O último boletim do leite, publicado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Ealq/USP) mostra que o valor do litro de leite negociado entre as indústrias em Minas Gerais saltou de R$ 2,13 na primeira quinzena de fevereiro para R$ 2,93 na segunda metade de março, uma alta de 37,8%.
Para os próximos meses, a expectativa é de mais aumentos nas indústrias, refletindo no preço encontrado pelo consumidor nas gôndolas de supermercados.
Segundo Wallisson Lara, analista de agronegócios do Sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), com a queda de oferta de matéria-prima causada pela guerra entre Ucrânia e Rússia – grandes exportadores de milho e soja, base da ração para o rebanho –, os custos de produção de leite, que já vinham acumulando alta, fecharam em 25% nos últimos 12 meses. Somam-se à alta dos insumos importados o encarecimento da energia elétrica e do combustível, que não pararam de subir desde o início da pandemia da Covid-19.
Ele afirma que, devido ao aumento elevado dos custos de produção, “o setor vive um cenário catastrófico”. “Os preços pagos ao produtor não acompanharam a inflação, que fechou acima de dois dígitos no ano passado. Com a baixa rentabilidade, a oferta está limitada porque o produtor está desestimulado a investir na atividade”, diz.
De acordo com o analista, sem saída, o produtor tem destinado parte do rebanho que não apresenta produtividade para o descarte a fim de diminuir as despesas. Outra parte é destinada ao mercado da carne, mas não consegue alcançar o preço competitivo do rebanho próprio para o abate. “Mas é uma válvula de escape para tentar manter a atividade”, afirma.
Lara destaca que a compra do leite é altamente sensível ao poder de compra da população. Por isso, a queda no consumo é nítida. “Vemos que o consumo do leite e dos derivados têm andado de lado com queda na oferta, com uma população descapitalizada e com alto índice de desemprego”, relata.
O cenário a médio e longo prazo não é bom, avalia Wallisson Lara. “Não vejo prognóstico de melhora devido à situação econômica do país, já que o comércio é praticamente totalmente interno”, justifica.
Substituição
Grávida de três meses, a professora de música Laís Natali precisa consumir cálcio, mas, por ser intolerante à lactose, só pode tomar leites específicos.
Ela encontrou a opção que costuma comprar com alta de 67% de um mês para o outro – passou de R$ 4 para R$ 6,69. “Naturalmente, ele já é mais caro, mas o preço de hoje subiu acima de R$ 2 em comparação a um mês atrás. Vou ter que consumir lactase (usado para dietas com restrição de lactose) para comprar um leite mais barato; estamos repensando o consumo, trocando muito o leite por suco natural”, diz.
Queda nas vendas
Responsável há 15 anos pela compra de mercadorias de dois supermercados na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Edmilson Pires diz que nunca presenciou um patamar de preço do litro de leite como o atual. “Não tem quem consiga comprar”, afirma.
De acordo com o funcionário, nas duas unidades em que trabalha, a queda na venda do laticínio chega a 30% quando comparado às vendas de fevereiro. “Quem comprava 12 caixas, compra 6 agora. Se não abaixar, vai cair mais porque não tem consumidor para isso”, diz. Edmilson afirma que, no início do ano, comprava o litro do leite integral, em média, a R$2,30 por unidade. Atualmente, a marca mais barata dos seus fornecedores tem preço de custo de R$3,49, elevação acima de 50%. Na categoria integral, a marca mais cara é comprada por R$ 4,48. Ainda assim, segundo ele, há dificuldade para comprar. “Há um mês e pouco, antes da guerra, eu comprava 1.200 caixas de uma marca e, agora, consegui comprar 300”.