O preço do leite pago ao produtor registrou queda de 3,9% em maio de 2025 na “média Brasil”, atingindo R$ 2,6431/litro em valores reais, segundo dados do CEPEA/ESALQ-USP.
A retração chega a 7,4% em relação a maio do ano passado, refletindo o aumento da oferta e o fraco desempenho da demanda por lácteos.
Essa redução no valor recebido pelo produtor ocorre em um momento considerado atípico para o setor, mas era esperada pelos agentes de mercado.
A produção foi impulsionada por investimentos motivados pelas margens atrativas no último semestre, resultando em um avanço de 1,13% no Índice de Captação do Leite (ICAP-L) de abril para maio.
Mesmo com a elevação do volume captado, os custos de produção voltaram a subir. Em junho, o Custo Operacional Efetivo (COE) aumentou 0,55% na média nacional, pressionado por insumos agrícolas, como fertilizantes (+4,67%) e operações mecanizadas (+2,92%).
Em contrapartida, os custos com nutrição animal caíram 0,37%, graças à maior disponibilidade de milho e farelo de soja.
A combinação entre maior captação e consumo desaquecido tem provocado distorções também no mercado de derivados.
Em junho, os preços evoluíram de forma desigual: o leite em pó caiu 2,2%, cotado a R$ 30,93/kg, enquanto a muçarela subiu 2,01% (R$ 34,49/kg) e o leite UHT ficou praticamente estável, com leve alta de 0,04% (R$ 4,35/litro).
De acordo com o CEPEA, os estoques elevados explicam a queda no leite em pó, enquanto a muçarela se beneficiou de um pico de consumo no início do mês. Já o leite UHT foi sustentado por estoques controlados, apesar da pressão nos canais de distribuição.
As indústrias enfrentam o desafio de equilibrar a produção e a demanda. As estratégias têm incluído a diversificação do portfólio e o redirecionamento da matéria-prima conforme o comportamento de cada mercado.
No comércio exterior, os números de junho reforçam o cenário de instabilidade. As exportações brasileiras de lácteos caíram 30,3% frente a maio, enquanto as importações recuaram 1,47%.
No entanto, em relação a junho de 2024, os embarques cresceram 3,15% e as compras subiram 7,19%.
O déficit da balança comercial fechou junho em 155,3 milhões de litros em equivalente leite, um recuo de 8,3% ante maio. As exportações totalizaram 5,15 milhões de litros, com destaque negativo para o leite em pó, cujos embarques caíram 52,8%, afetados pela menor demanda de Cuba e Bahamas.
As importações de leites em pó, por outro lado, aumentaram 2,9%, somando 121 milhões de litros – 75,5% do total importado. Produtos como queijos (-13,2%), soro de leite (-29,8%) e manteiga (-10,8%) registraram forte retração nas compras.
A pressão sobre os preços do leite também é influenciada pela relação de troca com o milho, que piorou em maio. O produtor precisou de 27,73 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg do cereal, frente aos 25,42 litros registrados em abril. Apesar da queda de 12,39% no valor do milho no período, a desvalorização do leite foi ainda mais intensa.
Com uma safra recorde de milho e o aumento na produção de farelo de soja – estimada pela Conab em 43,78 milhões de toneladas –, os custos com alimentação devem continuar em queda.
Ainda assim, a rentabilidade do produtor segue ameaçada pela instabilidade nos preços e pela dificuldade de repasse ao longo da cadeia.
O cenário exige atenção redobrada dos produtores, indústrias e formuladores de políticas públicas. A oferta está garantida, mas a demanda interna e externa segue frágil. E sem consumo forte, o leite brasileiro corre o risco de continuar valendo menos do que custa produzi-lo.
*Escrito para eDairyNews, com informações de Boletim do Leite