O mercado de leite em Mato Grosso registrou no primeiro semestre de 2025 o maior preço médio da série histórica para o período, mas o avanço não se refletiu em ganhos reais para os produtores.
Segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o litro foi negociado a R$ 2,31, alta de 14,25% em relação ao mesmo período de 2024.
A elevação nos preços foi puxada principalmente pela menor oferta de leite no estado, com destaque para a queda expressiva no Índice de Captação (ICAP-L), que recuou para 51,28% — o menor nível desde 2015. De acordo com o Imea, fatores climáticos adversos e a redução no ritmo de produção contribuíram diretamente para essa retração.
Apesar do cenário aparentemente favorável nos números de venda, a rentabilidade da atividade leiteira segue comprometida. O Custo Operacional Efetivo (COE), que considera os gastos diretos da produção, ficou em R$ 1,45 por litro, garantindo uma margem positiva de R$ 0,87/litro.
Porém, quando se adicionam a depreciação dos ativos e a mão de obra familiar — componentes que compõem o Custo Operacional Total (COT) —, o valor sobe para R$ 2,37/litro. Isso significa que a margem final ficou negativa em R$ 0,06 por litro, apontou o Imea.
Esse resultado revela um quadro preocupante: mesmo com preços em alta, muitos produtores não conseguem cobrir integralmente seus custos de longo prazo, o que compromete a sustentabilidade da atividade.
Entre os principais fatores de pressão sobre as despesas estão o aumento de 6,79% na suplementação mineral, alta de 14,99% nos insumos diversos como combustíveis e utilitários e elevação de 18,81% na aquisição de animais.
A relação de troca entre leite e milho — principal insumo para a alimentação bovina — também piorou. Em julho de 2025, foram necessários 17,29 litros de leite para comprar uma saca de milho, um recuo que reduz o poder de compra do produtor.
Para os próximos meses, o setor leiteiro de Mato Grosso se prepara para um período ainda mais desafiador. A chegada do pico da seca tende a reduzir novamente a captação, enquanto a demanda interna permanece firme. Conforme o Imea, essa combinação pode gerar nova pressão sobre os custos de produção, especialmente na alimentação do rebanho.
A situação reforça a necessidade de estratégias que permitam maior eficiência produtiva e redução de custos.
Produtores têm buscado ajustar o manejo alimentar, melhorar a genética do rebanho e adotar tecnologias que ampliem a produtividade por vaca, mas os resultados ainda dependem de estabilidade climática e de políticas que deem previsibilidade ao setor.
O mercado lácteo brasileiro, e particularmente o de Mato Grosso, atravessa um momento de contrastes: preços recordes que não se traduzem em rentabilidade sólida.
A expectativa é que os próximos relatórios do Imea tragam novos indicativos sobre a capacidade de recuperação da margem do produtor, que hoje continua operando sob forte pressão econômica.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Notícias em MT com credibilidade