Ao mergulhar no universo da pecuária leiteira, muitas vezes nos deparamos com raças de gado que nos surpreendem. Algumas delas são menos conhecidas, mas não menos fascinantes, contribuindo de maneira significativa para a produção global de leite; conheça as principais raças leiteiras
"Algumas delas são menos conhecidas, mas não menos fascinantes, apresentando características únicas e contribuindo de maneira significativa para a produção global de leite"

A pecuária leiteira é uma atividade essencial em muitas partes do mundo, fornecendo leite e seus derivados para milhões de pessoas todos os dias. No entanto, por trás desse cenário aparentemente simples, existe uma complexa rede de sistemas de produção, técnicas de manejo e, é claro, uma variedade impressionante de raças de gado leiteiro.

Ao mergulhar no universo da pecuária de leite, muitas vezes nos deparamos com raças de gado que nos surpreendem. Algumas delas são menos conhecidas, mas não menos fascinantes, apresentando características únicas e contribuindo de maneira significativa para a produção global de leite. Neste artigo da Compre Rural, vamos explorar algumas dessas raças menos conhecidas e suas peculiaridades, destacando a diversidade e riqueza desse setor em todo o mundo.

Confira as principais raças leiteiras que você, talvez, não conhecia:

Shorton

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Foto: Jane Steel

Originária do Nordeste da Inglaterra, a raça de gado Shorthorn é uma das mais antigas e versáteis do mundo. Desenvolvida inicialmente com dupla finalidade, destacando-se tanto na produção de laticínios quanto de carne, o Shorthorn ganhou reconhecimento por sua aptidão leiteira ao longo dos séculos. A seleção cuidadosa ao longo dos anos resultou em uma linhagem específica, conhecida como Milking Shorthorn, que se destaca por sua produção consistente de leite.

Os Shorthorns para leite são animais de constituição sólida, com conformação adequada para a produção do lácteo. Sua pelagem varia de vermelha a branca ou ruão, embora os animais ruões sejam preferidos por alguns produtores de leite. A linhagem Milking Shorthorn, em particular, é reconhecida por sua capacidade de produzir leite de qualidade, com alto teor de gordura e proteína. Sua adaptabilidade a diferentes condições climáticas e sua natureza dócil os tornam uma escolha popular entre os produtores de leite em todo o mundo.

Guernsey

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Foto: Beth Herzes

O Guernsey é uma raça de gado leiteiro conhecida por sua origem na ilha de Guernsey, nas Ilhas do Canal. De pelagem fulvo ou vermelha e branca, esses animais são notáveis por sua resistência e temperamento dócil. O leite produzido por essa raça é altamente valorizado por seu sabor rico e coloração amarelo-dourada, devido ao alto teor de beta caroteno. O Guernsey é uma das três raças de gado das Ilhas do Canal, junto com o Alderney, já extinto, e o Jersey.

A história do Guernsey remonta ao século XIX, com origens que se perdem no tempo. Importado para a ilha na Idade Média para trabalho de tração, sua ascendência é um tanto incerta, com influências possíveis do gado tigrado da Normandia e do Froment du Léon da Bretanha. A raça ganhou destaque no início do século XX, quando um grande número de animais foi exportado para os Estados Unidos. Embora tenha sido uma fonte econômica significativa para a ilha por meio das exportações de gado e sémen, o Guernsey é atualmente uma raça de conservação, com menos de 2.500 registros anuais nos EUA e uma população global estimada em menos de 10.000 animais.

Pardo Suíço

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Foto: Fazenda Tamanduá

O Pardo-Suíço, uma raça de gado leiteiro de origem nas montanhas suíças, tem uma história que remonta a milhares de anos. As escavações no Lago Suíço revelaram esqueletos de animais semelhantes aos Pardo-Suíços modernos, indicando uma linhagem antiga e resistente. Ao longo dos séculos, o ambiente alpino moldou suas características robustas, resultando em um animal adaptável a uma ampla gama de condições climáticas.

Sua pelagem pigmentada, rica em glóbulos vermelhos, confere resistência ao calor e à radiação ultravioleta, enquanto sua precocidade sexual, fertilidade e longevidade o tornam um investimento valioso para os criadores. Além disso, sua produção de leite de alta qualidade, com teor de gordura e proteína ideais para a fabricação de lácteos, o destaca como uma escolha vantajosa para os produtores em todo o mundo, com uma média de produção de mais de 25,70 kg de leite por dia.

Simental

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Foto: Associação Brasileira de Criadores da Raça Simental

A raça Simental, originária da Suíça, ganhou destaque não apenas por sua qualidade na produção de carne, mas também pelo seu potencial na produção leiteira. Os animais da raça têm se destacado pela sua capacidade de produção de leite, combinando precocidade produtiva com alta fertilidade. No Brasil, onde a raça chegou em 1904, sua aptidão para produção do lácteo e foi rapidamente reconhecida, levando à formação de linhagens selecionadas e à fundação da Associação Brasileira de Criadores da Raça Simental (ABCRS) em 1963.

Com um leite de alto teor de sólidos totais e baixo número de células somáticas, as vacas Simental proporcionam um rendimento superior de derivados lácteos, tornando-se uma escolha preferida não só para produtores de leite, mas também como excelentes receptoras de embriões em programas de melhoramento genético. A raça, com sua adaptabilidade e produção de leite de qualidade, tem desempenhado um papel fundamental na pecuária leiteira brasileira, contribuindo para o aumento da eficiência e rentabilidade dos sistemas de produção do setor no país.

Jersey

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Foto: Patty Jones

O Jersey é reconhecido por sua significativa contribuição para a indústria leiteira, não apenas por sua adaptabilidade a diversos climas, mas também pela qualidade de seu leite. Originária da Ilha de Jersey, a raça foi mantida isolada de influências externas por mais de dois séculos para preservar sua pureza genética. Com a proibição de importações de gado estrangeiro em 1789, a raça foi submetida a um programa de criação controlado, resultando em características distintas, incluindo um alto teor de gordura butírica no leite.

As vacas Jersey são reconhecidas por sua pequena estatura e por serem eficientes em termos de produção, com uma maior economia de manutenção devido ao seu menor peso corporal. Além disso, são famosas por sua facilidade de parto e alta fertilidade, tornando-as populares para cruzamentos com outras raças leiteiras. Apesar de seu tamanho, as vacas Jersey produzem leite de alta qualidade, com altos teores de gordura e proteína. No entanto, é importante observar que a raça também apresenta desafios, como uma maior predisposição à hipocalcemia pós-parto e a necessidade de manejo cuidadoso em climas frios devido ao tamanho corporal menor.

Guzerá

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Foto: Cordeiro

O Guzerá, uma raça zebuína originária da Índia, é reconhecido por sua adaptabilidade a ambientes áridos e rústicos, sendo apto tanto para a produção de carne quanto de leite. Chegando ao Brasil em 1870, sobreviveu a períodos de seca no Nordeste brasileiro, destacando-se por sua resistência e fertilidade. A Associação Brasileira dos Criadores de Guzerá foi fundada em 1956, defendendo os interesses dos criadores da raça no país. Alguns países consideram o Guzerá como uma raça brasileira derivada da raça indiana Kankrej. Porém, em contrapartida, o Guzerá e o Kankrej são considerados como parte da mesma raça no país.

O Guzerá é reconhecido por suas características adaptativas, como a pele preta bem pigmentada, membros musculados e desenvolvidos, que permitem sua resistência a longas caminhadas sob o sol tropical em busca de água e alimento. Além disso, sua capacidade de reprodução mesmo em condições adversas contribui significativamente para o melhoramento do rebanho nacional. Com baixo peso ao nascer e produção de leite de alta qualidade, as vacas Guzerá garantem o bom desenvolvimento dos bezerros, enquanto os animais apresentam ganho de peso satisfatório, ultrapassando facilmente médias superiores a 1.000 gramas/dia no confinamento. Com uma média de produção de leite que pode ultrapassar os 5.000 litros por lactação, o Guzerá se destaca como uma raça versátil e adaptável às condições tropicais brasileiras.

Girolando

Vaca Girolando bate recorde na Bolívia
Foto: Instagram

A raça Girolando, genuinamente brasileira, teve sua origem na década de 1940, quando um touro da raça Gir cruzou com vacas Holandesas no Vale do Paraíba, em São Paulo. Esse cruzamento resultou em animais com características distintas, como maior rusticidade, precocidade e alta produção de leite. A partir desse sucesso inicial, criadores de outras regiões do Brasil investiram no Girolando, aperfeiçoando técnicas de seleção para maximizar seu desempenho zootécnico. Herdando da raça Gir sua adaptação e rusticidade, e do Holandês a alta produção de leite, o Girolando foi oficialmente reconhecido como raça pelo Ministério da Agricultura em 1996, com a fixação do padrão racial em 5/8 Holandês e 3/8 Gir.

Responsável por 80% do leite produzido no Brasil, se destaca por sua alta produtividade, rusticidade, precocidade, longevidade e fertilidade. As fêmeas Girolando possuem características ideais para a produção nos trópicos, incluindo suporte de úbere, tamanho de tetas, pigmentação e eficiência reprodutiva. Com uma conformação anatômica perfeita, as matrizes têm baixos índices de problemas de parto e retenção de placenta.

Além disso, o aprimoramento genético contínuo tem levado a um aumento constante na produção de leite, passando de 3.695 kg em 2000 para 5.671 kg em 2019, representando um aumento de 53% em 18 anos. Com um pico de produção até os 8 anos e uma produção satisfatória até os 15 anos, as vacas Girolando são reconhecidas pela eficiência e rentabilidade em sistemas de produção leiteira.

Indubrasil

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Matriz InduBrasil Balada do Cassu / ? Foto JADIR BISON

A raça Indubrasil teve sua origem no Brasil, começando a se formar por volta da década de 1940, no Vale do Paraíba, estado de São Paulo. O Indubrasil surgiu de cruzamentos entre touros da raça Gir e vacas Holandesas, resultado de um touro Gir que cobriu algumas vacas Holandesas por acidente. Os animais resultantes desses cruzamentos demonstraram características como rusticidade, precocidade e grande produção de leite, tornando-se uma opção atrativa para os criadores.

Este novo tipo zebuíno foi marcado pelo desenvolvimento de características desejáveis, como orelhas grandes e bem desenhadas, cupim e cauda longa para espantar insetos. A raça teve um papel importante na pecuária brasileira e internacional, participando inclusive da formação do Brahman nos Estados Unidos. Sua presença é marcante no cenário nacional, com centros de seleção em todo o Brasil e exportações oficiais para diversos países.

Holandesa

vaca holandesa no pasto verde
Foto: Divulgação

A raça Holstein, também conhecida como Holstein-Frísia ou Gado Holandês, tem suas origens na Europa, mais especificamente entre as regiões da Frísia, nos Países Baixos, e Holstein, na Alemanha, há cerca de dois mil anos. Historicamente criada tanto para produção de carne quanto de leite, essa raça é reconhecida por sua alta aptidão leiteira e tem sido amplamente disseminada pelo mundo, sendo comum em locais como os Açores e no Brasil, especialmente na região Centro-Sul do país.

As características físicas do Holstein incluem uma pelagem malhada de preto e branco ou vermelho e branco, com ventre e vassoura da cauda brancos. A cabeça é bem moldada, com fronte ampla e chanfro reto, enquanto o pescoço é longo e delgado, unindo-se suavemente aos ombros. A linha dorsal é reta e forte, com uma garupa comprida e ligeiramente desnivelada em direção à ponta da nádega. Suas pernas têm ossatura limpa e terminam em patas fortes e bem torneadas, adaptadas para o movimento funcional. O úbere simétrico é uma característica marcante, com inserção forte no abdômen e na base do osso da bacia, contribuindo para a capacidade de produção leiteira da raça.

Sindi

gado Sindi
Foto: Divulgação

A origem da raça Sindi remonta a milhares de anos na região do atual Paquistão, conhecida como Sind. Trata-se de uma das raças zebuínas mais antigas e nobres, desenvolvida ao longo do tempo pela civilização que habitava essa região. O gado Sindi se distingue por sua notável aptidão para a produção de leite, uma característica fundamental que foi aprimorada ao longo de milênios de seleção natural e cultural.

Quando introduzido no Brasil, o gado Sindi trouxe consigo uma herança de resistência e eficiência na produção leiteira. Essa característica foi fundamental para sua disseminação no país, especialmente em regiões nordestinas onde as condições climáticas são mais áridas. Os criadores brasileiros reconheceram no Sindi não apenas uma fonte de leite, mas também um animal adaptável e produtivo, capaz de oferecer uma fonte de renda estável mesmo em áreas com recursos limitados. Assim, a origem do Sindi está intrinsecamente ligada à sua aptidão a esse setor, o que o tornou uma valiosa raça bovina em muitas partes do Brasil.

Ayrshire

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Foto: Divulgação

O Ayrshire é uma raça escocesa de gado leiteiro que se originou no condado de Ayrshire, no sudoeste da Escócia. Seu nome é uma homenagem a essa região. Esta raça é reconhecida por suas marcas vermelhas e brancas, com tons de vermelho variando de laranja a marrom escuro. Sua história remonta a antes de 1800, embora suas origens precisas ainda sejam desconhecidas. Alguns historiadores acreditam que a raça pode ter se originado na Holanda e foi posteriormente aprimorada no condado de Ayrshire, Escócia. Exportada para os Estados Unidos a partir de 1822, os Ayrshires encontraram sucesso especialmente na Nova Inglaterra, onde seu ambiente era semelhante ao da Escócia.

O Ayrshire é uma raça de gado de tamanho médio, conhecida por sua produção de leite robusta e de alta qualidade. Os indivíduos adultos podem pesar mais de 540 kg e produzir até 20.000 lb de leite por ano, com um teor de gordura de manteiga de 4,13% e teor de proteína de 3,30%. Sua adaptabilidade a diferentes métodos agrícolas, além de seu temperamento dominante e resistente, torna-os preferidos por muitos produtores de leite. Estudos comparativos de comportamento social mostraram que os Ayrshires são menos propensos a serem atacados por seus companheiros de grupo e têm uma boa capacidade de adaptação a diferentes condições, tornando-os uma escolha popular em fazendas leiteiras em muitas partes dos Estados Unidos.

Importância inegável das raças leiteiras

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Foto: Santiago Mejia Lopez

As raças de gado leiteiro desempenham um papel crucial na indústria leiteira global. Suas características genéticas, adaptabilidade a diferentes ambientes e alta produção contribuem significativamente para o suprimento de laticínios em todo o mundo. Além disso, essas raças têm sido alvo de seleção e melhoramento genético ao longo dos anos, resultando em animais mais eficientes e produtivos, capazes de atender à crescente demanda por produtos lácteos.

Assim, cada exemplar é fundamental para a segurança alimentar e econômica de muitas regiões, fornecendo leite de alta qualidade e nutrientes essenciais para milhões de pessoas. Seja nas vastas pastagens da América do Norte, nas planícies da Europa ou nas terras férteis da América do Sul, esses animais continuam a desempenhar um papel vital na produção leiteira. Através de uma combinação de tradição, ciência e inovação, as raças de gado leiteiro representam não apenas uma fonte de alimento, mas também um símbolo de progresso na pecuária global.

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