Apesar da expansão modesta da produção mundial de leite, o comércio internacional do setor deve recuar em 2025. É o que revela o relatório Food Outlook da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), divulgado neste mês, com projeções para as principais commodities alimentares do mundo.
Expansão láctea em ritmo lento
A produção mundial de leite deverá crescer apenas 1% em 2025 — repetindo o ritmo mais lento registrado no ano anterior. Esse avanço modesto ocorre em meio à desaceleração de investimentos na cadeia leiteira, altos custos de insumos e uma demanda global que ainda não retomou plenamente os níveis anteriores à pandemia.
Nos mercados emergentes, como o sudeste asiático e partes da África, o consumo de lácteos ainda cresce, mas de forma desigual. Já em economias maduras, como Europa e América do Norte, a inflação persistente e as mudanças nos hábitos de consumo têm impactado a demanda por produtos como leite fluido, manteiga e queijos finos.
Comércio internacional em queda
A grande surpresa negativa para o setor é a expectativa de queda de 0,8% no comércio internacional de lácteos em 2025. A redução está atrelada a dois fatores principais: menor disponibilidade exportável, especialmente em países tradicionais como Nova Zelândia e Argentina, e preços internacionais ainda elevados, que comprimem o apetite dos compradores.
No caso do Brasil, que tem ampliado sua participação nas importações de leite em pó e queijos, o recuo global pode significar menos opções de origem e, consequentemente, maior dependência da produção local — que ainda enfrenta desafios estruturais, como a volatilidade dos custos de produção e a falta de políticas públicas eficientes.
Cenário misto para outras commodities
O relatório da FAO indica que a maioria das commodities alimentares deve ter aumento de produção em 2025, embora com comportamentos diferentes no comércio global:
- Grãos: arroz, milho e sorgo deverão atingir níveis recordes de produção. A soja terá crescimento expressivo de 6,1%, impulsionada pela boa safra no Brasil e nos EUA. O trigo, por outro lado, terá crescimento tímido de 0,3% na produção, contra um aumento de 1,3% na demanda global, o que pode pressionar os preços para cima.
- Carnes: o segmento deve crescer 0,6%, puxado pela produção de frango, especialmente nos países em desenvolvimento. Já a carne bovina deverá ter leve retração. Mesmo com esse crescimento, os preços internacionais das carnes tendem a subir, devido a surtos sanitários e tensões comerciais.
- Pescados e aquicultura: com crescimento estimado de 1,5%, o setor enfrenta custos de produção elevados e barreiras comerciais. O valor do comércio mundial de produtos aquáticos deve alcançar US$ 183,8 bilhões, embora os volumes cresçam apenas 0,5%.
Açúcar amarga déficit global
A produção global de açúcar deve cair 3,9% na safra 2024/25, com destaque para a queda nos dois maiores produtores mundiais: Brasil e Índia. A estimativa é de um déficit de 2,2 milhões de toneladas, o que pode manter os preços em alta. A FAO também prevê uma contração de 6% no comércio internacional do adoçante, devido à menor disponibilidade exportável desses dois gigantes.
O que esperar do leite?
Mesmo com crescimento tímido na produção e queda no comércio internacional, o setor lácteo ainda é estratégico. Para países como o Brasil, que busca se reposicionar como protagonista na produção e exportação de lácteos, o cenário exige mais do que otimismo: é necessário investir em produtividade, qualidade e rastreabilidade.
Os mercados exigem cada vez mais informações sobre origem, bem-estar animal e impacto ambiental dos produtos lácteos. Nesse sentido, quem conseguir aliar eficiência produtiva com transparência e inovação terá vantagem competitiva real — mesmo num contexto global de crescimento modesto e margens pressionadas.
Adaptado para eDairyNews, com informações de FAO – Food Outlook, junho de 2025.