“De vaca ou de cabra, nosso negócio é o queijo”. Esse tem sido o mote utilizado nos festivais e nas capacitações pelos queijeiros da Paraíba, no intuito de enfatizar a força que os mais de 680 produtores têm no estado.
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O movimento de fortalecimento desse setor produtivo vem tomando proporções mundiais, ao ponto de servir como exemplo em eventos promovidos pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) — agência especializada no combate à fome e à pobreza por meio da melhoria da segurança alimentar e do desenvolvimento agrícola.
“É apaixonante, porque a gente percebe como essa atividade mantém o pequeno produtor no campo”
– José Otávio Targino
O engenheiro agrônomo Genival Soares, da Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer-PB), é o responsável por representar a Paraíba na empreitada. Em dezembro, ele irá para a Colômbia, a convite da FAO, para apresentar o caso de sucesso do setor produtivo de leite e derivados.
“Só de trabalhos diretos ligados a cada queijeira, nós temos 15 pessoas empregadas, que têm a chance de ficar em suas casas e ligadas à sua terra para produzir”, aponta o engenheiro. Além dos trabalhos diretos, a economia paraibana se movimenta quando a produção local flui. Para tanto, é preciso fomentar o processo produtivo, que é pautado nas certificações necessárias para os derivados do leite.
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Manual técnico
Genival Soares também é o responsável pela idealização do Manual Técnico de Derivados do Leite, que será lançado em outubro pela Editora A União, durante o 1o Salão de Queijo da Paraíba.
O manual tem apoio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (Sedap-PB) e da Empaer-PB. Além de Genival Soares, participaram da elaboração do documento o engenheiro agrônomo Ehrenberg Pereira; o médico veterinário Hermano Severino; e o gerente-executivo de Produção Agropecuária da Sedap-PB, José Otávio Targino, que coordena e gerencia as ações ligadas ao setor produtivo do queijo no estado.
Com o manual, os queijeiros poderão ter acesso a informações sobre a fabricação de outros produtos lácteos, como manteiga da terra, doce de leite e licor. O objetivo da publicação é agregar valor à produção local.
O livro é ilustrado e tem todo o passo a passo da produção dessa iguaria histórica, descoberta a partir do leite coalhado, durante a Idade Média.
Capacitação
O engenheiro agrônomo Ehrenbergh Pereira explica que os produtos derivados do leite precisam ter o selo de inspeção e que o processo de capacitação é “contínuo e com resultados positivos, que a gente alcança a cada dia”.
A certificação é fundamental para que os queijos possam ser comercializados em supermercados, conforme a legislação vigente no país.
Valor sociocultural
O gerente-executivo de Produção Agropecuária da Sedap-PB, José Otávio Targino, destaca que, na Paraíba, o processo artesanal é predominante e a produção de cada laticínio envolve uma história diferente. Às vezes, existe a vinculação de famílias ilustres a um determinado tipo de produto, como, por exemplo, o queijo de cabra produzido na Fazenda Carnaúba, em Taperoá, propriedade da família do escritor Ariano Suassuna.
“É um tema apaixonante, porque a gente percebe como essa atividade mantém o pequeno produtor no campo. A gente sabe que o leite é um produto perecível. E, quando a gente transforma o leite em queijo, ganha tempo para comercializar o produto”, completa.
Em dezembro, o engenheiro agrônomo Genival Soares, da Empaer, irá à Colômbia para representar a Paraíba em um evento da FAO, agência ligada à ONU
Pioneirismo
Primeira queijaria da Paraíba a alcançar um marco importante, a Fazenda Coruja possui o selo Arte. A certificação não é apenas uma mera formalização das Boas Práticas de Fabricação (BPF) e das Boas Práticas Agropecuárias (BPA), mas um reconhecimento que fortalece a identidade e a qualidade de produtos regionais.
A partir dela, os queijos podem ganhar mercados fora do estado, com garantia de uma comercialização segura e qualificada. É possível, por exemplo, encontrar o produto em feiras nacionais e em redes de supermercados locais, junto à prateleira de queijos de produção especial.
A Queijaria da Coruja, nome do empreendimento da Fazenda Coruja, iniciou os trabalhos em 2019. “Participamos de vários cursos específicos para queijos artesanais, em diversas regiões do Brasil, dando um passo de cada vez. Montamos uma pequena estrutura, mas sempre buscando o que havia de melhor, tanto do ponto de vista de matéria-prima como na questão do conhecimento”, relata o proprietário da empresa, Pedro Pedrosa, que enfatiza que até a raça dos caprinos influencia no sabor do queijo produzido.
Eventos na capital e no interior buscam ampliação do setor
Com o intuito, portanto, de ampliar o mercado de queijos da Paraíba e harmonizar os produtos com as já famosas cachaças do estado, o setor dos laticínios reunirá os produtores locais e distribuirá mais de mil exemplares do manual técnico, durante o 1o Salão de Queijo da Paraíba, que ocorrerá entre os dias 23 e 26 de outubro, no Espaço José Lins do Rego, em João Pessoa.
O evento também contará com a Feira de Queijos da Paraíba, aberta ao público, e o Concurso de Queijos e Produtos Lácteos, que premiará os melhores produtos do estado. A programação inclui palestras com especialistas, rodadas de negócios e um fórum de serviços de inspeção, destacando a importância do associativismo e da certificação na produção artesanal.
Festival no Cariri
Além disso, ocorrerá, da sexta-feira (27) ao domingo (29), a 4a edição do Festival de Queijo do município de Soledade, no Cariri paraibano. O evento, já consolidado na rota gastronômica da região, promete atrair turistas e fomentar a economia local.
A programação inclui a tradicional Feira de Queijos, com a participação de pequenos produtores da região; oficinas gastronômicas; e concursos, como o Rei e Rainha do Queijo e o Gulinha do Queijo, destinado a crianças com idades entre nove e 12 anos.
O festival também terá exposições de produtos artesanais, apresentações musicais, oferta de pratos culinárias à base de queijos servidos em restaurantes locais e o 3o Encontro Nordestino de Poetas Repetistas.
O evento é uma oportunidade para promover a troca de conhecimentos entre produtores, entidades acadêmicas e o público, com o objetivo de aprimorar a produção queijeira da região.