O setor de lácteos deve encerrar 2019 com alta de 3% a 4% no volume de leite processado, alcançando cerca de 9,3 bilhões de litros do produto em Minas Gerais. O ano foi considerado desafiador para o setor, que enfrentou aumento dos custos para a aquisição da principal matéria-prima, o leite, e não conseguiu repassar as elevações para o mercado final, o que reduziu a margem das indústrias. A expectativa é de melhor resultado em 2020, em função da aprovação da reforma da Previdência, da menor taxa de juros e da perspectiva de uma recuperação mais significativa da economia.

De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg), João Lúcio Barreto Carneiro, 2019 vem sendo marcado pelas reformas de governo, o que impacta o setor.

“Estamos em um período de reformas dos governos, momento de ajustar a casa, e isso impactou diretamente no setor lácteo. Foi um ano de margens difíceis e baixas, por isso também tivemos que fazer ajustes nas indústrias para reduzir custos e organizar as empresas. Acredito que o setor conseguiu manter o mesmo faturamento de 2018, mas as margens ficaram mais apertadas em função dos custos elevados com a matéria-prima. Não quer dizer que o preço do leite no campo está caro, mas os valores dos produtos industrializados não reagiram no mercado da forma que era esperada, o que restringiu a margem”, explicou Carneiro.

Ainda segundo ele, a recuperação lenta da economia aliada à instabilidade do governo, ao alto índice de desemprego e a menor renda da população são fatores que limitaram o repasse do aumento dos custos de produção dos itens industrializados para o mercado final.

“O consumidor, diante do cenário atual, ainda está muito retraído e, quem tem recursos, está guardando. Acreditamos que, com as medidas adotadas pelo governo, o consumidor vai relaxar um pouco, a economia irá reagir e nosso setor terá um desempenho melhor”.

Entre os fatores que podem contribuir para a retomada da economia, dos empregos e do consumo estão a aprovação da reforma da Previdência, a inflação controlada e a redução dos juros.

“A aprovação da reforma da Previdência foi muito importante. Nós precisamos de investimentos estrangeiros para voltar a fazer a economia brasileira crescer e a reforma vem para contribuir com isso. Acredito que teremos novos investimentos entrando no Brasil, novas obras, que geram empregos, renda e estimulam o consumo. Sabemos que o processo é lento, que não vai acontecer da noite para o dia, mas é importante. A queda dos juros também é positiva, assim como a inflação controlada”, avaliou.

Investimentos – Para 2020, a expectativa é de que a situação econômica do País seja mais favorável, o que pode contribuir para a retomada dos investimentos por parte dos laticínios. De acordo com Carneiro, várias empresas do setor estão aguardando um cenário econômico mais estável para iniciar investimentos.

“A gente vê que várias indústrias do setor de laticínio estão esperando para investir. É importante destacar que também temos um parque industrial ocioso em algumas indústrias. Como não crescemos, algumas empresas têm condições de ampliar a produção. Os investimentos do setor irão continuar acontecendo, principalmente em melhorias e inovação”.

Os acordos comerciais firmados ao longo de 2019, incluindo a possibilidade de embarques para a União Europeia (UE), e a habilitação de plantas para exportar produtos lácteos para a China são fatores importantes para que o desempenho do setor seja mais positivo.

IMPLANTAÇÃO DE NORMAS PRECISA DE AVALIAÇÃO

As novas regras estabelecidas para a produção de leite através das Instruções Normativas (IN) 76/2018 e 77/2018, de autoria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), irão, na avaliação do setor, agregar valor e qualidade à produção mineira de leite e poderão ser fundamentais para a atuação das empresas no mercado externo.

“O Brasil é um exportador de proteínas, de café e por que não ser do leite? Temos tudo para nos tornarmos grandes exportadores. Demos o primeiro passo com a habilitação de empresas para exportar para a China e com o acordo com a UE. Isso vem frisar que a indústria precisa se preparar para exportar, o produtor de leite precisa se preparar para ter custo acessível para a exportação. É um processo de amadurecimento, e o setor tem tudo para se tornar exportador”, disse o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg), João Lúcio Barreto Carneiro.

Em relação às Instruções Normativas (IN) 76/2018 e 77/2018, porém, o diretor-executivo do Silemg, Celso Moreira, explica que a implantação das medidas trará bons resultados para a indústria e para os produtores, mas, devido à grande diferença de sistemas de produção no Estado, será necessário avaliar as dificuldades de implantação e buscar soluções.

Segundo Moreira, a aplicação das INs já está proporcionando melhorias importantes, que incluem a melhor sanidade animal, aumento da produção e da qualidade do leite e até o maior rendimento na indústria.

“A implantação das novas regras é importante, e nós entendemos que ainda precisamos de um processo de avaliação para verificar as dificuldades que existem na implantação das medidas. Queremos avaliar caso a caso para que façamos adequações corretas. Não queremos tratar da mesma forma situações tão assimétricas como temos no setor, principalmente, na produção primária, onde temos desde grandes produtores, com alto aparato tecnológico, até pequenos”, explicou Moreira.