O produtor de leite Mike Yager, de Mineral Point, no sudoeste de Wisconsin (EUA), propôs uma alternativa polêmica para enfrentar a crise de preços no setor lácteo e evitar as importações de carne bovina da Argentina.
Em entrevista à Brownfield Ag News, Yager sugeriu que o país poderia aumentar sua oferta de carne interna ao destinar vacas leiteiras ao abate — medida que, segundo ele, também ajudaria a corrigir o excedente de leite que pressiona os preços.
“Talvez devêssemos incentivar as vendas de vacas leiteiras para abate. Isso colocaria carne no mercado e, ao mesmo tempo, resolveria esse suposto excesso de leite”, afirmou Yager.
A fala reflete uma tensão crescente entre os produtores americanos: os baixos preços do leite e o aumento das importações de carne criam um cenário em que o setor sente-se duplamente prejudicado.
O impacto do excesso de leite
De acordo com Yager, a atual superoferta de leite e gordura butírica está corroendo as margens dos produtores. “O que um excedente de apenas 1% faz com o nosso preço? Derruba três, quatro, até cinco dólares por cem libras de leite”, explicou.
Esse pequeno desequilíbrio, típico de um mercado sensível, é o suficiente para afetar profundamente as finanças das fazendas. Wisconsin, conhecido como o “estado do queijo”, depende fortemente do equilíbrio entre produção e demanda para manter estável sua indústria láctea, que movimenta bilhões de dólares anuais e emprega milhares de famílias.
Risco sanitário e independência produtiva
Yager também levantou preocupações sanitárias sobre a entrada de gado vivo de países vizinhos. Ele lembrou que infestações de parasitas como o New World Screwworm, ainda presentes em regiões do México e da América do Sul, poderiam colocar em risco o rebanho americano.
Para o produtor, a solução está dentro de casa: reduzir o número de vacas em produção, equilibrar o mercado de leite e, de quebra, gerar mais carne nacional. “Faz mais sentido ajudar os produtores americanos do que ampliar as vendas de carne argentina”, destacou.
Quando o leite vira carne: a nova tendência nos EUA
A ideia de transformar vacas leiteiras em carne bovina não é nova, mas vem ganhando força nos Estados Unidos. O conceito, conhecido como “beef-on-dairy”, envolve cruzar vacas leiteiras com raças de corte para obter animais com maior rendimento de carne.
Com a alta dos custos de ração e a redução dos prêmios pagos pelos processadores, essa prática passou a ser uma estratégia de sobrevivência em tempos de margens estreitas. Segundo especialistas do setor, abater parte das vacas leiteiras mais velhas pode gerar renda imediata e, a médio prazo, melhorar os preços do leite ao reduzir o excesso de oferta.
Argentina no centro do debate
A menção à carne argentina reacende uma disputa histórica no mercado internacional. O país sul-americano é reconhecido mundialmente pela qualidade e tradição de sua carne bovina — símbolo de identidade nacional e um dos principais produtos de exportação da América do Sul.
Entretanto, para muitos produtores americanos, importar carne estrangeira em um momento de excesso interno de leite e margens apertadas é um contrassenso. “É um paradoxo: estamos cheios de leite e ainda compramos carne de fora”, resumiu um analista do setor em reação à entrevista.
Um dilema entre globalização e produção local
O debate exposto por Yager reflete um dilema maior: como equilibrar o comércio global com a sustentabilidade das economias locais. Enquanto importações podem beneficiar consumidores e parceiros comerciais, produtores como ele pedem políticas que priorizem o uso inteligente dos recursos internos — e uma visão mais estratégica para o agro americano.
Com o mercado de leite fragilizado e o setor de carne pressionado, a proposta de Yager abre uma discussão inevitável: será que os Estados Unidos devem buscar o equilíbrio olhando para fora — ou para dentro?
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Brownfield Ag News