“Aprodução de leite parece abandonada pelo Governo. O setor leiteiro é aquele que perde mais apoios na próxima PAC [Política Agrícola Comum]”, sustenta a associação num comunicado divulgado a propósito do Dia Mundial do Leite, que hoje se assinala.
Adicionalmente, refere, “nas medidas extraordinárias devido à guerra na Ucrânia, os apoios propostos representam menos 50 euros/vaca do que os vizinhos espanhóis vão receber, menos 37%”.
Asseverando que “alimentar as vacas com o atual preço do leite é insustentável”, a Aprolep insiste na “indexação do preço do leite à evolução dos custos de produção”, mas reclama que, “no imediato, compete à indústria e à distribuição subirem com urgência o preço do leite ao produtor para 50 cêntimos, de modo a salvar a produção de leite em Portugal”.
“Caso contrário — avisa — ficam sem fornecedores”.
De acordo com a associação, “com o preço do leite abaixo dos custos de produção, com o pior preço do leite entre os 27 países da União Europeia e com apoios insuficientes, cada vez mais produtores e de maior dimensão abandonam o setor”: “Entre março de 2021 e março de 2022 mais 200 produtores abandonaram a atividade em Portugal”, avança.
Sem uma “atualização urgente” do preço do leite e uma “inversão de atitudes”, a Aprolep garante que “a produção de leite português caminha para a extinção” e avisa que “quem deixa as vacas de leite não volta a esta atividade”.
No comunicado hoje divulgado, a associação volta a alertar para que “os custos de produzir leite dispararam nos últimos meses”, precisando que, “entre maio de 2021 e maio de 2022, o preço do gasóleo agrícola aumentou 97%, o adubo 140%, o milho 77% e o bagaço de soja 45%”.
“Tudo isto representou um aumento no custo de alimentação das vacas de 59% e cerca de 53% no custo total para produzir um litro de leite, segundo dados de um grupo de produtores”, enfatiza.
Por outro lado, “no mesmo período, o preço do leite vendido aumentou apenas 23%”.
Segundo a Aprolep, atualmente “muitos produtores estão a pagar mais do que 50 cêntimos por kg [quilograma] de ração comprada e a vender o leite a um preço médio de 40 cêntimos/litro no continente português e de 33 cêntimos nos Açores, enquanto na Holanda o preço de referência para junho atinge os 56 cêntimos/litro de leite”.
A este cenário acresce que, “nas regiões do interior e na zona sul do país, houve uma menor produção de forragem”, havendo “situações de severas limitações de água para poder produzir milho silagem, nomeadamente barragens apenas com um terço da água disponível”.
Como resultado, “aqueles que costumam comprar milho silagem terão de pagar muito mais por kg de silagem, quase o dobro do valor de 2021, porque o seu valor está ligado ao valor do milho grão”.
Recordando que, em julho de 2021, o Ministério da Agricultura anunciou a criação de uma subcomissão na Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agroalimentar (PARCA), para “monitorização e análise do setor do leite e produtos lácteos” e “elaborar propostas de intervenção que resolvam a crise e os problemas que afetam atualmente os produtores”, a Aprolep diz que “o relatório foi divulgado em janeiro de 2022”, mas, passados cinco meses, “desconhece qualquer medida tomada pelo Governo sobre esse assunto”.
“No Dia Mundial do Leite e no mês que Portugal dedica um pouco de atenção ao setor agrícola, devido à realização da Feira Nacional da Agricultura, a produção de leite não pode ser esquecida. Os agricultores portugueses não pararam durante a pandemia e reforçaram o seu esforço nos últimos meses apesar das dificuldades. Se Portugal quer continuar a ter produção de leite, não pode deixar cair os que resistem na atividade”, conclui a associação, defendendo ser “urgente um preço justo para o leite”.